A Administração Trump Não Acabou com a Ajuda Externa, mas Questiona se Ela Serve aos Interesses do Contribuinte Americano
Depois que o presidente Donald Trump congelou as doações para a Agência dos
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, a administradora sainte da agência, tropeçou nas palavras ao se debater em desabafar a sua indignação:
programas em andamento, pessoas das quais dependemos, em
alguns casos, remédios que salvam vidas. ... Ou se você está no
Sudão e tem um filho que está definhando por causa da
desnutrição, uma pasta milagrosa, uma pasta de amendoim que
a USAID fornece traz essa criança de volta da beira da morte,
todos esses programas estão fechados.
Em bom português: não mexa na USAID!
Power, no entanto, convenientemente fez pouco caso de uma ampla gama de
descalabros cometidos pela USAID, como os US$122 milhões que enviou a grupos
alinhados com entidades terroristas designadas, principalmente àqueles sob sua
supervisão. Em outras palavras, a reavaliação, tim-tim por tim-tim, em relação à
USAID está muito atrasada e é urgentemente necessária.
Ajuda externa, ou seja, apoio financeiro de um país a outro, virou um importante
fenômeno há oitenta anos, no final da Segunda Guerra Mundial. Dois fatores
impulsionaram o crescimento desse fenômeno: a devastação das avançadas economias
da Europa e o desejo de apoiar ou seduzir aliados no contexto da emergente Guerra
Fria.
![]() Economista britânico Peter T. Bauer. |
Na sequência, entrou na estabelecida e rotineira normalidade nas relações
internacionais. Apesar das pesadas críticas, cresceu a suposição de que os países mais
ricos devem dedicar parte de seus recursos aos países mais pobres, ou seja, na famosa
sagacidade de Peter Bauer, economista britânico, "a ajuda externa é um sistema de tirar dinheiro dos pobres em países ricos e dá-lo aos ricos em países pobres"
O claro sucesso do Plano Marshall na Europa e seu equivalente no Japão criou a
expectativa de que o dinheiro cuidadosamente investido tiraria os países da pobreza e
os levaria à riqueza. Quase um século de experiência, no entanto, mostrou que se
tratava de uma fantasia, cada país que se desenvolveu o fez por conta própria.
Indiscutivelmente, o dinheiro de graça que representa a ajuda externa distorce as
economias e impede o desenvolvimento.
Descartar a ajuda ao desenvolvimento, então, enseja três tipos básicos de assistência:
cobertores (emergência), bombas (militares) e subornos (políticos). A ajuda de
emergência equivale à caridade, ajudando aqueles em crise. É incontestável e
relativamente barato, mas está fora do alcance do Departamento de Estado, talvez o
Ministério do Interior devesse cuidar disso. A ajuda militar promove os objetivos de
Washington, ajudando um aliado a combater, pertence firmemente ao Ministério de
Defesa. A ajuda política, ou seja o incentivo aos governos para que adotem políticas
desejadas por Washington em relação a objetivos particularmente específicos,
constitui uma importante ferramenta da diplomacia e, portanto, pertence ao Estado.
Voltando ao tumulto atual, a Administração Trump não acabou com a ajuda externa,
ela questiona se a ajuda serve aos interesses do contribuinte americano Tal prestação
de contas irá descobrir se a USAID pisa na bola em três pontos centrais.
Primeiro, no clássico estilo burocrático, tende a ver o gasto de fundos como métrica
de sucesso. Em um execrável exemplo, a agência se vangloria de seu investimento no
combate à malária na África, mas gastou 95% de seus recursos com consultores e
empreiteiros, e somente cinco por cento em medicamentos, mas foi necessário um
questionamento persistente por parte dos comitês do Congresso para fazer com que a
USAID admitisse que os dados citados não tinham nada a ver com o que ela de fato
fez.
![]() Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia. |
Segundo, a USAID tende a encarar a ajuda como um direito. Quando o trabalho de
um funcionário público ou diplomata americano depende da distribuição de ajuda, ela
continuará a fluir, independentemente de sua utilidade. Pense na Albânia, onde o
contribuinte americano investiu quase US$30 milhões na reforma judicial nos últimos
seis anos. No entanto, não só a corrupção aumentou durante esse período, como
também o líder da Albânia, Edi Rama, se apoderou da ajuda anticorrupção para
silenciar e prender seus dasafetos. A esta altura, o governo da Albânia se tornou uma
mini-Turquia em termos de democracia esfarelada, corrupção do partido no poder e
hostilidade ao Ocidente. Despreocupada, a USAID continua mandando dinheiro.
Um problema análogo assola a assistência militar. O Paquistão e o Egito recebem
bilhões de dólares para combater grupos terroristas islamistas, mas esse dinheiro os
incentiva a manterem esses grupos atuantes. A corrupção dá aos líderes militares mais
motivos ainda para manterem viva a ameaça islamista.
Terceiro, a USAID ignora o impacto negativo da assistência na boa governança. Por
exemplo, a Autoridade Nacional Palestina, percebendo que não precisaria prestar
contas a ninguém, não se deu ao trabalho de governar com responsabilidade. Usou a ajuda do Ocidente para financiar assassinatos e provocar retaliações, confiante de que os doadores fariam vista grossa à má conduta e, ainda reconstruiriam a sua infraestrutura. Um verdadeiro extintor de incêndio de fundos sobrecarregou quaisquer esforços pelos quais a população subjugada da Autoridade Nacional Palestina pudesse fazer com que seus seus líderes prestassem alguma prestação de contas.
A Somália, que recebeu mais de US$1 bilhão por ano durante três décadas, apresenta
um exemplo mais extremo ainda. A região autônoma chamada Somalilândia, que
compõe o terço norte da Somália, praticamente não recebe nenhuma assistência
porque os doadores internacionais rejeitam a secessão daquela região. Ainda assim, os
padrões de vida e a segurança na Somalilândia são bem mais altos do que os da
Somália. O estado não reconhecido como tal, chegou a ponto de se tornar o primeiro
país do mundo a garantir a integridade das eleições por meio de varreduras
biométricas da íris.
Revisando: cobertores para os necessitados são baratos e não são controversos.
Bombas para derrotar inimigos comuns precisam ser utilizadas com cautela, para não
levantar problemas de interesse próprio e risco moral. Subornar jamais deve ser
decidido por um embaixador ou um diretor de projeto da USAID, e sim no escalão
muito mais alto, melhor pelo Conselho de Segurança Nacional, e somente em casos
raros, para que os países não esperem pagamento em vez de cooperação mútua.
Em suma, a ajuda externa tem utilidade, mas, como qualquer empreendimento que
objetiva a caridade, deve ser tratada com muito cuidado.
Daniel Pipes é o presidente do Middle East Forum. Michael
Rubin é diretor de análises de políticas do MEF. © 2025 pelos
autores. Todos os direitos reservados.
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