Para aqueles que acompanham a política internacional, os dias que se seguiram ao ataque israelense ao Irã em 13 de junho significaram uma olhada viciante ao smartphone num espaço de poucas horas para saber os últimos acontecimentos. Da avalanche de surpresas, doze se destacam, cada uma marcando cada dia da Guerra dos Doze Dias. Uma pergunta sobre o futuro acompanha cada pedacinho histórico.
Para começar, o lado americano:
1. O cowboy da Casa Branca teve sucesso
O desinibido, imprudente egomaníaco, que não liga para as normas, que domina a vida pública americana como nenhum político em 236 anos. Sim, Donald Trump já foi presidente, mas depois se sentiu relativamente constrangido. Quatro anos fora do poder, alguns destes anos sentado humilhado em um tribunal sombrio, significaram um retorno à presidência ansioso para fazer as coisas à sua maneira, ignorando costumes, cautela e decoro. No começo isso se manifestou internamente, com uma assertividade sem precedentes em relação ao Executivo, ao Congresso e aos tribunais. A Guerra Israel/Irã o levou ao cenário mundial, Trump ao que tudo indica, sozinho, engenhosamente estabeleceu suas próprias regras, estratégias e comunicações, surpreendendo até seus próprios assessores. Em grande medida, sua cartada deu certo. Seria um isolado golpe de sorte ou um sinal do que está por vir?
2. Washington atacou preventivamente um inimigo nuclear em potencial
Harry Truman não impediu que a União Soviética virasse um potência nuclear, Lyndon Johnson também não impediu a China comunista, nem George W. Bush a Coreia do Norte. De modo que a decisão de Trump de atacar Fordow, Natanz e Isfahan, cria um precedente extremamente importante para a política externa dos Estados Unidos. Não menos importante, ele ameaçou que "ataques futuros seriam muito maiores e muito mais fáceis", dando a entender que está pronto para atacar novamente caso Teerã não entregue o urânio enriquecido. Israel atacou preventivamente três vezes (Iraque em 1981, Síria em 2007, Irã em 2025), será que agora Israel tem nos Estados Unidos um parceiro ativo na não proliferação?
![]() Reator Osirak do Iraque em ruínas. |
3. Os americanos ainda podem liderar
Nenhum governo de outro país teve influência significativa no confronto entre Israel e Irã. A descomunal personalidade de Trump marginalizou o mundo. Aliados o acompanharam docilmente, adversários murmuraram críticas que não fizeram nenhuma diferença, nada fez diferença. O que mais saltou aos olhos é que Pequim e Moscou deram à Teerã somente um vazio apoio verbal. Será que esse papel desproporcional continuará quando um democrata for eleito?
4. Um laço partidário entre Washington e Jerusalém
O papel integral dos Estados Unidos em ajudar as forças israelenses a atacar alvos iranianos só começou a aparecer após o fim dos combates. Senão vejamos, agora sabemos que a Força Aérea dos Estados Unidos forneceu centenas de reabastecimentos aéreos para jatos israelenses quando sobrevoavam a Síria ou o Iraque a caminho do Irã. Uma forte parceria do Partido Republicano com Israel faz todo sentido, já que Israel se aproxima mais dos valores conservadores americanos de qualquer outro país, mesmo Austrália, Canadá ou Grã-Bretanha. Ao mesmo tempo, essa harmonia acontece às custas ao apoio do Partido Democrata. (Os democratas acabaram de indicar um candidato à prefeitura de Nova York que considera as ações israelenses em Gaza um "genocídio".) Será que o trabalho em equipe de Israel com Trump significa que o próximo presidente democrata jogará tudo por terra?
5. Um rápido e decisivo sucesso americano no Oriente Médio
![]() Passageiros do Reach 871, um C-17 da Força Aérea dos Estados Unidos voando de Cabul para o Catar em 15 de agosto de 2021, transportando 823 afegãos. |
O que passou a ser conhecido como guerras sem fim causou mal-estar no eleitorado americano em relação à construção da nação. Walter Russell Mead, colunista do Wall Street Journal observa o "terrível" histórico: "da malfadada invasão do Iraque de Bush à caótica intervenção de Barack Obama na Líbia e à desastrada saída do Afeganistão de Joe Biden, presidentes americanos cometeram erros em toda a região, custando trilhões de dólares e milhares de vidas." Em resposta, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, definiu a Doutrina Trump: articular um claro interesse americano, se engajar numa diplomacia agressiva, se não der certo, usar o avassalador poderio militar, depois "cair fora". Caso o envio de bombardeiros B-2 realmente tenha colocado um fim ao enriquecimento de urânio iraniano, essa nova doutrina poderá continuar. Caso contrário, conforme as autoridades iranianas insistem que será o caso, a relutância em empregar a força irá se confirmar. Qual o caminho que o Irã irá seguir?
6. Alarmistas erraram nas previsões
![]() A previsão de Tucker Carlson se alinhava com seus preconceitos, não com a realidade. |
De antemão, apareceram profecias mirabolantes em relação quanto às consequências de um ataque americano às instalações nucleares do Irã. O comentarista americano Tucker Carlson, por exemplo, alertou que "é quase certo que isso resultará em milhares de mortes de americanos... e custará aos Estados Unidos dezenas de bilhões de dólares". Na realidade, nenhum americano morreu em combate, o Estreito de Ormuz permaneceu aberto, os combates permaneceram restritos e, em 24 de junho, os mercados financeiros tinham retornado aos níveis de 12 de junho. Será que a propaganda isolacionista do medo será finalmente desacreditada?
Segundo, algumas surpresas israelenses:
7. O poderio aéreo se sobrepujou
Analistas concordam que, para vencer na guerra, é preciso estar disposto em posicionar as tropas in loco. Os objetivos limitados de Israel e dos Estados Unidos nesse confronto tornaram possível desafiar essa premissa: bombas podem destruir infraestrutura com mais facilidade do que conquistar e ocupar território. Será que esse caso isolado levará a uma ênfase exagerada no poderio aéreo?
8. Agentes posicionados com antecedência metamorfosearam o campo de batalha
Agentes locais, muitos iranianos, despacharam drones e realizaram assassinatos seletivos. Em uma coincidência impressionante, a Ucrânia lançou a sua Operação Teia de Aranha em 1º de junho, apenas doze dias antes da Operação Leão em Ascenção de Israel. Ambas exigiram mais de um ano de planejamento, ambas envolveram extensas atividades clandestinas em território inimigo e ambas levaram a ataques surpresa que infligiram danos altamente visíveis.
Muito embora a sabotagem em território hostil não seja nenhuma novidade, essas operações estabeleceram um novo padrão: destruir aeronaves estratégicas no caso ucraniano, desativar lançadores de mísseis e eliminar figuras-chave do regime no caso israelense. "A profunda integração de forças de operações especiais, drones autônomos e inteligência, vigilância e reconhecimento com tecnologia de IA é agora a base para a entrada no teatro de operações", escreve Benjamin Jensen, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. Ele está certo ao afirmar que essa é uma "nova forma de guerra"?
9. Israel domina
Com a exceção da Turquia, no Oriente Médio, somente Israel, almeja seriamente montar uma força convencional (ou seja, aviões, tanques e navios). Além disso, as conquistas de inteligência de Israel continuam a embasbacar. Se a vitória de Israel em junho de 1967 é considerada a mais estupenda da história, o sucesso em junho de 2025 não fica muito atrás. Quer dizer, primeiro a Guerra dos Seis Dias, agora a Guerra dos Doze Dias. Observe que a recente campanha envolveu operações muito mais complexas do que a anterior. Além disso, o ambiente regional atual favorece Israel muito mais do que o de 58 anos atrás. Steve Witkoff, enviado especial de Trump para o Oriente Médio, espera abertamente "alguns anúncios muito importantes sobre os países que estão aderindo aos Acordos de Abraham". Será este o momento saudita?
![]() F-35 israelenses em formação. |
10. O fracasso de Israel em Gaza
Por mais rápido e brilhante que tenha sido o sucesso contra o Irã, um país de 90 milhões de habitantes, Israel continua a se saindo mal na outra guerra, aquela contra o Hamas, onde tropeçou e continua tropeçando por 631 dias, incapaz de derrotar um bando de facínoras apoiados pelo Irã. O establishment de segurança de Israel parece bifurcado. Uma parte ofensiva, de luta para vencer, lida com os estados e seus proxies, enquanto outra parte defensiva, em busca da calma, lida com os palestinos. A primeira se deleita com uma merecida reputação de criatividade, engenhosidade e ousadia. A segunda representa sua contraparte não celebrada, tediosa e reticente. A primeira busca a vitória, a segunda busca a calmaria. Uma vence, a outra briga. Será que a parte sombria tem condições de aprender com a sua contraparte bem-sucedida?
Ao fim e ao cabo, duas surpresas iranianas:
11. A guerra teatral substituiu a guerra real
Esta não foi a primeira vez que Teerã fingiu lutar contra Israel e os Estados Unidos e depois se gabar de uma grande vitória. Essa rodada incluiu um ataque teatral a uma base americana no Catar. A República Islâmica informou educada e discretamente Doha e Washington sobre o seu plano de lançar mísseis contra a base, o que causou danos mínimos e não causou nem feridos nem mortos. Ignorando esse simbolismo, Teerã, é claro, alegou que suas "poderosas forças armadas... destruíram a base aérea americana em Al-Udeid, no Catar". Além disso, o Líder Supremo Ali Khamenei anunciou que Israel "quase entrou em colapso" sob um bombardeio iraniano. Será que a população iraniana aceitará essa descarada farsa ou a usará como instrumento contra os seus governantes?
![]() Um Ali Khamenei desanimado comunicou a sua terceira mensagem em vídeo desde que as forças israelenses atacaram o Irã, em 26 de junho de 2025. |
12. Teerã atacou um aliado
O Catar é o país mais próximo que a República Islâmica tem como vizinho amigo, mas isso não impediu os iranianos de lançarem mísseis contra ele. Uma teoria da conspiração sustenta que Doha consentiu com a operação para melhorar a sua reputação com os americanos, mas isso superestima a importância da opinião pública americana. O apaziguamento de Teerã por meio de palavras lisonjeiras ("esta ação não representa nenhum perigo para nosso país amigo e irmão, o Catar, e seu nobre povo") não pode anular a inerente agressão, que o Catar condenou "veementemente" e a chamou de "flagrante violação" de sua soberania. O New York Times chama esse ataque de "um pesadelo que se tornou realidade" para os vizinhos ricos e vulneráveis do Irã. O quão profundamente esse ataque amargurará as relações entre eles?
Esses doze dias deverão ter repercussões ainda por muito tempo.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é fundador do Middle East Forum e autor do recém-publicado livro Israel Victory: How Zionists Win Acceptance and Palestinians Get Liberated (Wicked Son). © 2025 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.