Nota editorial - A imprensa brasileira adquiriu o hábito de retratar segmentos conservadores segundo a imagem que deles fazem intelectuais ou políticos do campo adversário, como se se tratasse da descrição mais fidedigna disponível no mercado. A situação chegou a tal ponto que mesmo graves acusações dirigidas contra intelectuais conservadores são aceitas de imediato, sem que passe pela cabeça de alguém conceder-lhes, ao menos, o benefício da dúvida. A Folha de S. Paulo publicou em 15/1 contra o especialista americano em Oriente Médio Daniel Pipes reportagem que, sem ouvi-lo, acusa-o de promover "um clima de caça às bruxas" nas universidades americanas. Doutourado em Harvard, autor de vários livros e articulista da imprensa americana, Pipes - que a partir de hoje passa a colaborar com o MSM - coordena um site chamado Campus Watch, cujo objetivo é medir a temperatura dos departamentos de Oriente Médio das universidade americanas, trazendo a público denúncias sobre, por exemplo, militância islâmica. Mas não é preciso dizer muito: o leitor pode tirar suas próprias conclusões sobre as atividades de Pipes visitando o site em questão ou examinando seu artigo de 2 de janeiro, publicado no WorldNetDaily e reproduzido mais abaixo em tradução para o português. Por agora, importa dar voz à vítima de julgamento sumário e saber o que pensa sobre a condenação por macartismo:
- É uma crítica [nosso trabalho]. "Caça às bruxas" implica o poder de fazer alguma coisa. Tudo o que podemos fazer é dizer que não gostamos das coisas que estão acontecendo. Liberdade de expressão, esse é o ponto. Sou criticado o tempo todo. Por que não posso fazer o mesmo? - declarou Pipes, por e-mail, ao MSM.
Agora, pergunta: e se o atacado fosse Noam Chomsky? Immanuel Wallerstein? Susan Sontag? O tom seria o mesmo? Eles teriam sido ignorados? Para quem deseja um exemplo de tratamento modelar da polêmica gerada em torno do Campus Watch, recomenda-se a leitura da reportagem publicada terça-feira no Washingont Post por Michael Dobbs, o mesmo autor do excelente estudo A queda do império soviético.
A Associação dos Muçulmanos Unidos (UMA, na sigla em ingês) da Flórida é um grupo que se alinha aberta e estreitamente com o Conselho das Relações EUA-Islam, assim como outras organizações islâmicas. Pouco tempo atrás, a UMA publicou em seu site, em tom de comemoração, notícias de que a Universidade do Sul da Flórida (conhecida, na época em que Sami Al-Arian [demitido por acusações de suposta ligação com o terrorismo] ali era professor, como "Jihad U." [Universidade Jihad]) promoverá dois cursos sobre Islã no próximo semestre. (São eles "O Islã na história mundial", ministrado por William Cummings, e "O Islã e os Estados Unidos", cujo professor será K. O'Connor). Até aí, tudo bem. Mas então a UMA faz suceder à notícia o seguinte comentário:
"Para que tenhamos certeza de que esses professores, todos eles sem dúvida gente de muito boa fé, insha'Allah [se Deus quiser], tratarão o Islã corretamente, será proveitoso que haja alguns estudantes muçulmanos em sala de aula, mesmo que esses cursos não façam parte do currículo obrigatório."
Aí tem você o recado, preto no branco: na universidade, o Islã deve ser ensinado de um jeito piedoso, como numa escola religiosa. Nas entrelinhas essa demanda - note o "insha'Allah" - está dito que cursos assim cumprem o propósito de atrair novos conversos para o Islã (da'wa).
Para ter certeza de que isso ocorrerá, uma organização islâmica recruta estudantes islâmicos para fazer sentir sua presença. É de presumir que, caso os professores digam algo que os desagrade, os estudantes reclamarão ruidosamente e suas queixas serão tidas por legítimas, ao ponto de afetar as carreiras de Cummings e O'Connor. Estes dois profissionais possivelmente se sentirão pressionados a apresentar o Islã e os muçulmanos de forma acrítica.
Esse processo de apologética já está em curso no âmbito das pesquisas sobre Oriente Médio nas universidades. Eu mesmo documentei um sintoma-chave, a má vontade de especialistas em admtir o sentido de jihad. Mais amplamente, meu colega Jonathan Calt Harris mostou como pesquisadores saltam totalmente a questão do Islã militante.
No nível da high school, um célebre livro didático e uma grade curricular amplamente adotada, ambos para o sétimo ano, recrutam abertamente para o Islã nas escolas públicas. É possível até mesmo encontrar esse tipo de da`wa em documentários aplaudidos pela opinião pública.
Ao que eu respondo: bem-vindos, senhoras e senhores, ao dhimmitude incipiente, um estado em que – entre outras facetas – os não-muçulmanos não ousam emitir uma sequer palavra contra o Islã ou os muçulmanos.
De volta à sala de aula: enquanto os estudantes ainda têm, certamente, o direito de assistir às aulas que quiserem, ofereço, no espírito de protelar o advento da dhimmitude, os serviços da Campus Watch aos professores que se sentirem sujeitos a pressões exercidas por uma organização islâmica qualquer.