(Título no WT: "O sombrio legado de Chuck Schumer e a turma de Harvard de 1971")
"A pior turma de todos os tempos": foi assim que Nathan Pusey, então presidente de Harvard, chamou minha turma de estudantes universitários em 1971.
Vista pelo retrovisor, ao contemplar aquela áspera asserção passado meio século, vi que ele estava, poder-se-ia dizer, quase totalmente certo. Claro, não se pode ter certeza, pois ninguém pode saber o que se passa em todas as 385 turmas de graduação de Harvard. Posso afirmar, no entanto, que a nossa não foi só irresponsável na faculdade, o que Pusey observou e condenou, mas que nos cinquenta anos desde então, quando participou ativamente na degradação do ensino superior e da cultura americana.
Piscina mista da Adams House durante os anos de "nudez". |
Estes passos transformaram a universidade, de instituição que incentiva a livre procura de conhecimento em uma instituição que objetiva doutrinar. Dos incontáveis exemplos (somente 1% do corpo docente se identificar como conservador), basta olhar para a queda de Larry Summers. Muitos fatores levaram à sua abrupta saída do cargo de presidente da Harvard, mas o ponto central foi sua ousadia em especular, ainda que com cautela, em uma palestra em janeiro de 2005 sobre a "Diversificação da Força de Trabalho na Ciência e na Engenharia, " de que as "questões de aptidão intrínseca "podem ajudar a explicar a relativa escassez de mulheres em cargos de chefia nas ciências. Esta moderada conjectura provocou a revolta do corpo docente que acabou forçando a renúncia de Summers. E lá se foi a livre busca do saber e da verdade, em latim Veritas.
E por falar em Veritas, este é o título amargamente irônico de um livro sobre Karen L. King, Hollis Professor of Divinity (a mais antiga cátedra subvencionada dos Estados Unidos) da Universidade de Harvard. Ele estabelece como, cega pelo seu fervor ideológico, a renomada professora caiu em uma flagrante fake, acarretando vergonha para si mesma e desgraça para Harvard.
Seguindo a pauta da Veritas: Christi Gloriam ("pela glória de Cristo") serviu de lema da Harvard nos seus dois primeiros séculos. Para se adaptar a outras épocas, foi alterado para o secular Veritas em 1836. Agora o lema, de novo lamentavelmente desatualizado, precisa urgentemente ser substituído. Nossa turma de 1971 deveria propor Propaganda. Este termo latino tem inúmeras vantagens: data convenientemente de 1622, um pouco antes da fundação de Harvard em 1636, não requer tradução para o inglês e captura com precisão o novo espírito de Harvard que a nossa turma presunçosamente promove.
Fomos dos últimos a receber uma educação sólida, exigente, apolítica, por isso, sou profundamente grato. Aprendi com os mestres do ofício. Guiado por eles, escrevi música clássica, fiquei intrigado com a geometria diferencial, memorizei dinastias chinesas, compreendi a importância de Marsílio de Pádua, fiquei perplexo com a gramática árabe e compreendi o impacto da Guerra dos Seis Dias. Valorizo esta formação, ainda mais sabendo que poucos alunos de graduação de hoje experimentam algo assim (e, sendo pai de terceiro anista, eu sei disso em primeira mão).
A politização promovida pela nossa turma teve o pequeno consolo de nos dar algumas duras lições. Eu fingi participar de "piquetes" para comer as refeições e assistir às palestras que minha família havia pago. Discuti com grupos de Trabalhistas Progressistas sobre capitalismo e imperialismo. Entrei com queixas contra membros do Students for a Democratic Society (SDS) por terem fechado uma contrapalestra que apoiava a Guerra do Vietnã. Escrevi cartas ao editor criticando os radicais (publicadas no Boston Record American) e critiquei as condescendências do corpo docente (no New York Times).
O que eu aprendi pessoalmente me ajudou e me preparou para o requentado momento radical de 2020 da correção política, banimento das plataformas de mídia, cultura de cancelamento e das microagressões.
Charles Schumer, então e agora. |
Nossa coorte fez sua parte em transmutar ideias malucas dos altares da nossa torre de marfim, há meio século, na loucura que virou dogma na metade da população americana. Nosso colega de classe Chuck Schumer simboliza tal desdobramento. Durante os revolucionários anos de Harvard, ele foi presidente dos Jovens Democratas. Hoje, ele é o líder da maioria do Senado dos EUA. Em ambos os cargos, ele desejava agradar gregos e troianos (moderados e radicais), em ambos os casos, ele acabou facilitando o extremismo. Seu aprendizado em Harvard o preparou muito bem para a demolição nacional de hoje.
Este é o nosso sombrio legado.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o fundador do Campus Watch.. © 2021 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Harry Austryn Wolfson (1887–1974) |
Aprendi com mestres de seu ofício como William Alfred, John Clive, Carlton Coon, Kenneth Dike, John Fairbanks, Elliot Forbes, Owen Gingerich, Stuart Hughes, Edward Keenan, Angeliki Liaou, Muhsin Mahdi, Harvey Mansfield, Amos Perlmutter, Edwin Reischauer, Abdulhamid Sabra, Judith Shklar, Shlomo Sternberg, Donald Stone, George Wald, Michael Walzer, Robert Wolfe e Harry Austryn Wolfson.
(2) George Moore me enviou sua versão do escudo de Harvard, ainda mais forte do que a minha, mas menos compreensível para os que nãos latinos (mendax significa "desonesto").
Atualização de 23 de junho de 2021: Leonard J. Lehrman, meu colega de quarto, calouro e compositor musical, escreveu uma ode à turma de Harvard de 1971, "Love Is Revolution/Worst Class Ever?"
Atualização de 8 de junho de 2022: participei com a minha turma com atraso de 2 dias e meio, na 50ª reunião. Embora preparado para ser desdenhado em virtude das críticas acima, não fui. Eu me diverti, conforme explico no tuíte:
acabei de passar 2 dias e meio imerso na minha reunião @Harvard College 50th (bem, 51ª, porque foi atrasada). Foi um tempo total e um tanto inesperadamente bom. Pouca política, muita conversa fiada, algumas conversas profundas sobre a vida.
Mas minha crítica à Harvard de hoje não mudou pic.twitter.com/ZWATGuqN6b
— Daniel Pipes دانيال بايبس
Algumas observações sobre a minha turma conforme a encontrei no fim de semana passado:
- ela continua ferozmente esquerdista na política, como sempre. Mas em suas vidas privadas eles são extremamente conservadores.
- Foi um sucesso qualquer que seja a métrica (casamento, filhos, netos, riqueza, saúde), mas nada particularmente expressivo.
- Mais de 10 por cento da turma já faleceu, muito mais do que eu esperava.
- Passei uma hora com Charles Schumer no café da manhã, achando-o impressionantemente habilidoso e sereno. Entendo o porquê da sua bancada tê-lo escolhido como líder.
- Após um hiato de 51 anos, achei que a maioria dos meus colegas não mudou praticamente nada, os chatos continuam chatos, os empolgados, empolgados, os profundos ainda mais profundos e assim por diante.
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