Nota: Este artigo, publicado pelo Los Angeles Times em 6 de janeiro de 2002, é uma escolha pessoal de Daniel Pipes para os leitores do MSM, por representar uma síntese das idéias do autor.
Contra quem estamos lutando? Dois grandes culpados emergiram do 11 de Setembro: o terrorismo e o Islã. A verdade, mais sutil, acha-se entre os dois — uma versão terrorista do Islã.
* Terrorismo. O establishment — políticos, acadêmicos, líderes religiosos, jornalistas, junto com muitos muçulmanos — diz que o terrorismo é o inimigo. Uma violência perpetrada por "malfeitores" que nada têm a ver com o Islamismo, e sim com adeptos de algum tenebroso culto do terror.
O secretário de Estado Colin Powell resumiu esse conceito ao declarar que os atentados de 11 de Setembro "não deviam ser vistos como algo executado por árabes ou islâmicos; foram atos executados por terroristas". Fazer de conta que o inimigo é um "terrorismo" desvinculado do Islã é interessante, porque dissimula certos aspectos delicados da questão islâmica, facilitando, dessa forma, o estabelecimento de uma coalizão internacional ou a redução das repercussões domésticas.
Mas isso não faz nenhum sentido. O governo do Taliban, a al-Qaeda, Osama bin Laden,
John Walker Lindh, Richard Reid e Zacarias Moussaoui — todos são fervorosos muçulmanos que agem em nome de sua religião.
E mais, eles encontraram largo apoio em todo o mundo muçulmano ( lembram-se das fotos de Bin Laden nas imensas manifestações de setembro? ). Terroristas eles são, certamente,
porém terroristas com um conjunto específico de crenças.
Culpar o "terrorismo" significa ignorar essas crenças — a um custo alto. Se o inimigo é constituído por terroristas "motivados pelo ódio", como declarou o Presidente Bush, o que se pode fazer além de matá-los?
O ódio prescinde de uma ideologia ou de uma estrutura intelectual que se possa refutar. Nada mais resta ao Ocidente senão armas para se proteger do ataque seguinte. Não pode haver nenhuma estratégia de vitória, apenas táticas que retardem os danos.
* Islam. A "rua" Ocidental prefere pensar que o problema está na religião islâmica. Nessa perspectiva, árabes e muçulmanos têm sido os principais inimigos dos cristãos há mais de um milênio, permanecem como tal e continuarão a cumprir o mesmo papel por longo tempo.
Essa hostilidade tem origem no próprio Corão e é, portanto, imutável, dizem os porta-vozes do argumento, que tendem a ser politicamente conservadores ou evangélicos. Também esse argumento não se sustenta. Se os muçulmanos são naturalmente hostis, como explicar a Turquia, com sua cultura secular militante e as boas relações históricas com o Ocidente?
Se todos os muçulmanos aceitam os preceitos corânicos, como justificar as dezenas de milhares de algerianos que perderam suas vidas resistindo ao governo islâmico?
E se o Islã é o problema, então não existe estratégia de vitória possível. O argumento implica que aproximadamente bilhões de muçulmanos — incluindo-se os milhões que vivem no Ocidente — são inimigos definitivos. Podem ser apenas convertidos ou mantidos em isolamento forçado, dois programas completamente irrealistas.
Insistir no conceito do Islã como inimigo significa um choque permanente de civilizações que não pode ser superado.
Apontar para o terrorismo ou o Islã, em suma, nem explica o problema atual nem lhe oferece uma solução.
Há um terceiro modo de abordar a questão, que satisfaz ambas as exigências.
O Islã autêntico — uma fé de muitos séculos — não é o ponto essencial, e sim sua variante extremista. O Islã militante deriva do Islamismo, do qual é, porém, uma versão misantrópica, misógena, triunfalista, milenarista, antimoderna, anticristã, anti-semita, terrorista, jihadista e suicida.
Por sorte, ele empolga só entre dez a quinze por cento dos muçulmanos, o que indica que a
grande maioria prefere uma versão mais moderada.
Isso implica uma estratégia simples e eficaz: enfraquecer o Islã militante no mundo todo e fortalecer as alternativas moderadas. Enfrentá-lo no terreno militar, diplomático, jurídico, intelectual e religioso. Combatê-lo no Afeganistão, na Arábia Saudita, nos Estados Unidos — ou seja, em toda parte.
Os muçulmanos moderados serão parceiros indispensáveis nessa luta. Sim, eles estão enfraquecidos e intimidados hoje em dia, mas são decisivos se o mundo islâmico decidir renunciar à atual ofensiva do radicalismo.
Uma vez que recebam auxílio dos Estados Unidos, eles podem emergir como uma força extraordinária. (Por analogia, lembram-se de como a Aliança do Norte parecia fracassada há bem poucos meses? Agora eles estão no governo do Afeganistão.)
Somente concentrando-se no Islã militante, os americanos podem tanto proteger-se do mais determinado de seus inimigos quanto derrotá-lo um dia.