"Os muçulmanos hoje são relativamente pobres, quer a comparação feita com o mundo em geral se refira a indivíduos, quer se refira a nações, e há uma longa série de estudos que atribui tal estado de coisas ao próprio Islã. ( É claro que também há uma literatura que põe a culpa no fascínio do imperialismo ocidental.)" Marcus Noland retoma a espinhosa relação entre Islã e crescimento econômico em "Religion, Culture, and Economic Performance", uma monografia escrita para o International Economics ( e resumida na edição de hoje do Far Eastern Economic Review).
Mas nenhuma das alternativas que Noland oferece — uma tendência anticrescimento inerente à religião islâmica ou o imperialismo ocidental — pode justificar o atraso econômico dos países muçulmanos.
- A religião islâmica não explica a situação da economia, porque os muçulmanos eram economicamente desenvolvidos há um milênio e agora vão mal.
- O imperialismo ocidental não ficou restrito ao mundo muçulmano e não afetou com menor intensidade países como a China, Cingapura e Chile — mas estes últimos vão bastante bem em matéria de economia, obrigado.
Uma explicação melhor para os muçulmanos serem hoje "relativamente pobres" resulta, antes, de um terceito fator: a experiência histórica desses povos. Apresentei o argumento com detalhes em meu livro publicado em 1983, In the Path of God: Islam and Political Power (reeditado pela Transaction em 2002).
Em poucas palavras, dois fatores principais impediram o mundo muçulmano de rivalizar com o Ocidente como fizeram os japoneses, os coreanos, os taiuaneses e outros: a hostilidade histórica contra a Cristandade e as diferenças extremas nos costumes. Se a modernidade não viesse dos "bárbaros de olhos de azuis", mas da China, digamos, é possível que os muçulmanos achassem bem mais fácil aceitá-la e modernizar-se. A chave é a História, porém a História dos muçulmanos, não a História do Ocidente.
"Eu passei bem em Guantánamo, diz prisioneiro"
"Eu passei bem em Guantánamo, diz prisioneiro." Essa manchete do Sunday Telegraph (Londres) de hoje é de fazer cair o queixo. O artigo conta a história de Mohammed Ismail Agha, 15, um garoto afegão que passou 14 meses detido sob suspeita de terrorismo na base da Baía de Guantánamo.
Na primeira entrevista feita com um dos três jovens lá mantidos em custódia, Mohamed falou ao repórter de um jornal sul-afegão sediado perto de sua aldeia natal:
Eles me trataram bem em Cuba. Eles foram muito bons comigo, deram-me aulas de Inglês... No começo eu estava infeliz... Por dois ou três dias [depois de chegar a Cuba], senti-me confuso, mas depois os americanos foram tão bons comigo. Serviram-me boa comida, com frutas e água para as abluções e preces.
Os soldados americanos ensinaram Mohammed e os outros dois prisioneiros adolescentes a escrever e a falar um pouco de Inglês e lhes forneceram livros em seu idioma, o Pashtu. Quando os três garotos deixaram a base, os soldados americanos lhes ofereceram um jantar de despedida. "Até tiraram fotografias conosco antes de partirmos", disse Agha.
Como observa o Sunday Telegraph, essas palavras ecoam as de Faiz Mohammed, um fazendeiro idoso do Afeganistão libertado em outubro de 2002, após passar oito meses em Guantánamo: "Ele nos trataram bem. Tínhamos comida suficiente. Não me importei [com a detenção], porque eles levaram minhas roupas velhas e me deram outras novas."
Tais depoimentos precisam ser lembrados num momento em que as chamadas organizações de direitos humanos insistem em que a detenção norte-americana de suspeitos na base de Guantánamo é imoral, contrária ao direito internacional e outras coisas mais.
Tradução: Márcia Leal