O movimento islamista pode aparentar estar mais forte do que nunca, mas um olhar minucioso sugere que há dois pontos fracos que poderão implodi-lo e talvez em pouco tempo.
Sua força é gritante. O Taliban, Al-Shabaab, Boku Haram e o ISIS levam o islamismo, a ideologia que torna obrigatória a aplicação da lei islâmica em todos os seus termos e rigor às últimas consequências, usando de extrema violência e crueldade para alcançar o poder. O Paquistão pode cair em suas mãos. Os aiatolás do Irã desfrutam de um novo fôlego graças ao acordo de Viena. O Qatar conta com a maior renda per capita do mundo. Recep Tayyip Erdoğan está se tornando o ditador da Turquia. Agentes islamistas pululam o Mediterrâneo em direção à Europa.
O Acordo de Viena de 2015 deu um novo fôlego aos aiatolás. |
Mas a fraqueza em seu seio, principalmente as brigas internas e as críticas, poderão subverter o movimento islamista.
Brigas internas se tornaram perniciosas em 2013, quando os islamistas, de uma hora para outra, interromperam a prática de cooperação mútua e começaram uma luta destrutiva entre si. É verdade que o movimento islamista, como um todo, compartilham metas semelhantes, embora ele também conte com diferentes tipos de intelectuais, grupos e partidos com as mais variáveis filiações étnicas, táticas e ideologias.
Suas divisões internas se disseminaram rapidamente. Faz parte dessas divisões, sunitas x xiitas, particularmente na Síria, Iraque e Iêmen, monarquistas x republicanos, particularmente na Arábia Saudita, de natureza violenta x de natureza não violenta, particularmente no Egito, modernistas x aqueles que querem ressuscitar o medievalismo, particularmente na Tunísia e as velhas diferenças pessoais, particularmente na Turquia. Essas divisões tolhem o movimento fazendo com que seus participantes apontem suas armas uns contra os outros.
Essa dinâmica é bem antiga: à medida que os islamistas se aproximam do poder, eles lutam entre si pela hegemonia. As diferenças que não tinham tanto peso quando eles estavam nas florestas, tomam grande importância à medida que as apostas aumentam. Na Turquia, por exemplo, o político Erdoğan e o líder religioso Fethullah Gülen cooperaram até se livrarem de seu inimigo comum, retirando as forças armadas da política, aí se voltaram um contra o outro.
O segundo problema, falta de apoio popular pode ser a maior ameaça para o movimento. Conforme as populações vão experimentando o regime islamista em primeira mão, eles o rejeitam. Uma coisa é acreditar no abstrato sobre os benefícios da lei islâmica e outra completamente diferente é sofrer da privação, dos horrores totalitários do Estado Islâmico à relativamente benigna ditadura que está emergindo na Turquia.
Faz parte desse descontentamento a enorme maioria dos iranianos que rejeitam a República Islâmica, a onda de exilados da Somália e as gigantescas demonstrações egípcias de 2013 em protesto contra a Irmandade Muçulmana que estava no poder havia apenas um ano. Assim como acontece com os regimes comunistas e fascistas, o regime islamista não raramente leva o povo a se contrapor à situação vigente.
Um número incomensurável de egípcios queriam o fim do regime islamista em junho de 2013. |
Se essas duas propensões se mantiverem firmes, o movimento islamista logo logo enfrentará problemas. Alguns analistas já veem que o período islamista acabou e que algo novo está surgindo de suas ruínas. Por exemplo, o estudioso sudanês Haidar Ibrahim Ali sustenta que a era pós-islamização já começou e que a "vitalidade e o charme do islamismo já se exauriram, mesmo entre seus mais ardentes defensores e entusiastas".
Os inimigos do islamismo têm muito trabalho pela frente. Os muçulmanos devem, ao mesmo tempo, combater esse movimento e criar uma alternativa atraente para a implementação da lei islâmica, expondo de maneira construtiva o que significa ser muçulmano em 2016. Não-muçulmanos podem ser de grande valia, providenciando tudo, desde aplausos, fundos e até armamentos.
O acúmulo de problemas do islamismo dá espaço para otimismo, mas não para arrogância, uma vez que uma mudança de rumo pode acontecer a qualquer momento. Mas se a presente tendência se mantiver, o movimento islamista terá sido limitado, assim como o fascismo e o comunismo o foram, prejudicando a civilização ocidental, porém não destruindo-a.
Seja qual for a tendência, derrotar o islamismo continua sendo o desafio.
O Sr. Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. © 2016 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.