Daniel Pipes apareceu na rede de TV estatal do Irã Press TV juntamente com a comentarista política Marwa Osman, apresentadora do programa de política "Notícias do Oriente Médio" no canal Al-Etejah transmitido em inglês, para analisar os ataques daquele dia em Istambul.
Alguns trechos da conversa:
Moderadora: diretamente da Filadélfia, Sr. Daniel Pipes, presidente do Middle East Forum... Por que o senhor acha que houve uma escalada dessa envergadura nos ataques terroristas na Turquia?
Daniel Pipes: eu concordo com os entrevistados de agora há pouco no programa que disseram que essa reação se deve em grande medida ao apoio turco aos jihadistas sunitas sírios.
Eu incluiria um segundo fator, este por razões políticas internas, pelo fato do Presidente Recep Tayyip Erdoğan ter decidido se voltar contra os curdos e se opor ao processo de paz que estava em andamento com eles e, de ter virtualmente declarado guerra contra eles no sudeste da Anatólia. Entre os dois – jihadistas sunitas e curdos – ele têm duas revoltas nas mãos. Agora, oportunamente, ele joga a culpa no movimento Hizmet – aquele do Fetullah Gülen – mas isso não significa que eu tenha visto alguma coisa que possa sugerir que o movimento Gülen esteja por trás da violência. São os jihadistas e os curdos – ambos problemas criados pelo próprio Erdoğan.
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Moderadora: Sr. Daniel Pipes, alguns analistas dizem que, na realidade, agora que a Turquia se aliou à Rússia na coordenação de um cessar-fogo na Síria, esta seja uma das principais razões que Ancara está sendo atacada, são recados sendo enviados à Turquia. Qual a sua opinião sobre essa maneira de ver as coisas.
Pipes: eu penso que estamos todos de acordo que o entusiástico apoio dado anteriormente ao Daesh (ISIS) e a outros jihadistas sunitas, eu ainda uso esse termo, está agora voltando para assombrar o Sr. Erdoğan, porque ele precisa apaziguar Vladimir Putin. Ele cometeu o enorme equívoco, há pouco mais de um ano, de derrubar um avião militar russo, pagou um preço alto por isso, pediu desculpas seis meses depois e agora está fazendo de tudo para ficar em paz com um bufão ainda maior do que ele, ou seja, o Sr. Putin. De modo que há contradições na política turca em relação à Síria. De um lado querendo apoiar o Daesh e os jihadistas sunitas, de outro, manter boas relações com o governo russo. A consequência é que todos estão enfurecidos com ele e um sintoma disso que é o tipo de violência que vemos recorrentemente acontecendo.
No decorrer de 2016 houve cerca de um atentado de grandes proporções a cada duas semanas na Turquia. E logo nas primeiras horas de 2017, mais atentados. Assim sendo, a Turquia está aberta a este tipo de violência, sendo difícil vislumbrar de que maneira o governo irá estancar essa violência. Ele próprio (governo) desencadeou essas forças, tanto curdas quanto jihadistas, que agora estão fora de controle.
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Moderadora: parece que a Turquia está jogando nos dois lados. De um lado, a vemos abrindo suas fronteiras para esses terroristas... e incessantemente procurando oferecer suporte para a derrubada do presidente sírio Assad. E agora vemos algo diferente tomando forma. O que o senhor acha que está acontecendo? Será que se trata de uma sincera mudança? Será que a Turquia realmente mudou de posição ou há algo mais acontecendo?
Pipes: eu acho que está bem claro que a política do governo turco em relação à Síria passou por mudanças após a reconciliação com Moscou. Os turcos encontraram um denominador comum em relação a Moscou, de modo que, conforme mencionei acima, é contraditório.
Mas eu gostaria de voltar ao ponto apresentado pela senhora Osman - que basicamente são os Estados Unidos e Israel que estão por trás do que está acontecendo na Síria. Eu acho fascinante ser informado por ela que Israel, um país de oito milhões de habitantes, está timoneando a situação na Turquia, um país de quase 80 milhões de habitantes e, que justo Erdoğan que tem mostrado grande hostilidade em relação a Israel é, de fato, um marionete de Israel. Quanto ao governo dos EUA, todos podem ver que ao longo dos últimos oito anos tem sido extraordinariamente fraco - basta lembrar a declaração do limite imposto pelo presidente Obama e, em seguida, em questão de dias recuando. O governo dos EUA deixou o campo livre para os russos.
Marwa Osman: o que?
Pipes: no entanto, apesar de todos esses fatores, a Sra Osman diz que são os EUA e Israel...
Osman (interrompendo): do que o senhor está falando?
Pipes:... dos governos que estão por trás disso. É isso é que é tão fascinante acerca da participação no debate da PressTV, poder ouvir essas inacreditáveis teorias que vêm de Beirute.
Osman: o que é fascinante é o senhor estar espantado com essa realidade.
Pipes: extraordinário. Continue, por gentileza.
Osman: senhor, não há necessidade de haver mais provas do que o Daesh possuir, na realidade, armamentos fabricados nos EUA e armamentos fabricados em Israel e em outras regiões também, comprados pela Arábia Saudita e na sequência cedidos a esses terroristas e o senhor não faz ideia do que está acontecendo. O senhor vive em um universo paralelo. Se não for os EUA, então...
Pipes (interrompendo): eu vivo em um universo paralelo, eu vejo.
Osman: ... Com seus aviões A-10 sobrevoando todas aquelas áreas sobre o deserto da Síria e do Iraque, observando os comboios que entram na Síria, então o senhor não faz ideia do que está acontecendo. Não se trata então do caso em que o Secretário de Estado John Kerry interrompeu as negociações, seja em Genebra I, II, ou III.
Pipes: não tenho certeza se a senhora está ciente, mas aviões americanos têm atacado o Daesh.
Moderadora (abruptamente): ok, não vamos nos dispersar. Vamos nos ater à questão em pauta Sra Osman e Sr. Daniel Pipes. Vamos passar para nossa página no Facebook. Vamos ver o que alguns dos nossos telespectadores têm a dizer.
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Moderadora:. "bem, vocês ouviram alguns desses comentários. Como vocês os avaliam? Sr. Pipes, um dos nossos telespectadores disse que, basicamente, o que está havendo na realidade é a contraposição dos Estados Unidos, da Arábia Saudita e de Israel, porque agora a Turquia está tentando se aproximar de Moscou. Qual a sua opinião a respeito disso?
Pipes: bem, como você sabe, eu escrevi um livro há 20 anos intitulado The Hidden Hand A Mão Invisível sobre o papel das teorias da conspiração no Oriente Médio. O que vemos aqui é um exemplo perfeito disso. É evidente que é a liderança turca que toma as suas próprias decisões, assim como a liderança iraniana, a liderança russa, mas as coisas sempre se voltam a três países, Estados Unidos, Reino Unido e Israel, que de uma forma ou de outra manipulam os acontecimentos, como se o do Oriente Médio, os russos e outros fossem meros fantoches nas mãos dos americanos, britânicos e israelenses.
Não é bem assim! Permita-me informar aos seus telespectadores aqui e agora em 1º de janeiro de 2017 que os povos do Oriente Médio tomam suas próprias decisões e que os povos do Oriente Médio criam seus próprios problemas e, assim sendo, não é - não culpem sempre os israelenses, os britânicos e os americanos. Avaliem seus próprios atos e assumam suas responsabilidades e, em seguida, poderemos...
Osman: (interrompendo) senhor, o senhor está realmente ouvindo o que está dizendo? Estamos falando de um problema colonial de assentamentos no Oriente Médio que começou no início dos anos 90, pelo Império Britânico, em seguida uma vez que...
Pipes (interrompendo): eu acho que estamos falando de uma explosão. Estamos falando de um ataque a uma casa noturna turca e a senhora está falando sobre a Declaração Balfour. Francamente, eu não estou entendendo o que a senhora está fazendo.
Osman (interrompendo): Sr. Pipes, a mudança de regime não tem nada a ver com esse quadro todo, como sabemos de fontes que estão nos Estados Unidos que, basicamente, se dizia que em sete países em cinco anos, esta era a meta dos Estados Unidos, definitivamente parece ser um projeto de desestabilização. E que agora estamos vendo os resultados disso. Continue.
Pipes: isso quer dizer que toda a revolta árabe dos últimos sete anos se deve aos Estados Unidos? Sério? Todas elas? Tunísia, Líbia, Iêmen, Egito, Síria e Bahrein, tudo isso é devido a... cada decisão dessas é feita em Washington? Ei Oriente Médio! Acorde! Líbia, vocês tomaram as suas decisões. Egito, vocês tomaram as suas decisões. Yemen, vocês tomaram as decisões.