Daniel Pipes esteve recentemente em Israel para apresentar na Convenção da Vitória de Israel no Knesset, que ora se associa ao Conselho de Congressistas para Vitória de Israel (CIVC em inglês), oficialmente aberto em Washington. Ambos os grupos estão calcados em um conceito delineado em um influente artigo escrito pelo Dr. Pipes em janeiro de 2017 publicado pela revista Commentary com o título "A New Strategy for Israeli Victory."
Após uma auspiciosa cerimônia de apresentação no Begin Center em Jerusalém, organizada pelo Middle East Forum, na qual Martin Sherman, Melanie Philips, Richard Kemp, Einat Wilf, entre outros, fizeram discursos elucidativos sobre o conflito árabe-israelense. O L'informale se encontrou com o professor Pipes em Tel Aviv.
(Para acessar a versão italiana clique em "Daniel Pipes: 'I palestinesi hanno perso ma vogliono ancora rimpiazzare Israele'.")
Mapa fantasioso da Palestina com as cores da bandeira da OLP. |
Dr. Pipes, explique a ideia da Convenção da Vitória de Israel no Knesset e seus principais objetivos.
Seu principal objetivo é convencer os palestinos de que a guerra que eles estão travando contra o sionismo, o Yishuv, Israel e os judeus acabou - e que eles perderam. Está na hora de aceitar que o conflito chegou ao fim e encerrá-lo. Como americano, torço para que o atual ou o futuro presidente americano diga aos israelenses: "façam o que deve ser feito dentro dos limites políticos, morais e legais para convencer os palestinos de que perderam". Espero que os israelenses façam exatamente isso. Então poderemos dirigir o foco nos verdadeiros problemas do Oriente Médio, como a guerra civil na Síria.
Os palestinos realmente perderam?
Perderam sim. Eles vivem no mundo da fantasia. Eles alardeiam o mapa do Mandato Britânico da Palestina que desapareceu há 69 anos, eles acreditam que o veredito da UNESCO de que o túmulo dos Patriarcas em Hebron é um sítio histórico palestino, eles dependem da assistência externa para financiar a economia, eles celebram homens bomba como heróis. Eles habitam um mundo louco que se espicha por tempo demais, prejudicando tanto israelenses quanto palestinos, matando os israelenses e distorcendo os palestinos. Uma vez reconhecida a derrota, eles poderão seguir em frente e estruturar seu regime de governo, economia, sociedade e cultura.
Nos cinquenta anos que se seguiram desde a Guerra dos Seis Dias, os árabes (com a inestimável ajuda dos russos) arquitetaram uma narrativa convincente que retratava palestinos como vítimas e israelenses como opressores. Israel tem fracassado em combater essa propaganda?
Sim, e muito! Quem, há cem anos, poderia ter previsto que os judeus seriam os grandes guerreiros e os árabes os expoentes em relações públicas? A narrativa palestina de vitimização e miséria tem, via de regra, categoricamente superado a israelense, citando Abba Eban: a "criação jubilosa, soberania restabelecida, reunião do povo em uma terra revitalizada, democracia estabelecida".
Abba Eban em 1958, ao proferir na televisão americana as palavras citadas acima. |
A eleição de Donald Trump criou uma expectativa em Israel de grandes mudanças. Fora uma postura mais amigável, a Administração atual, ao que tudo indica, parece trilhar pelas velhas políticas, especialmente aquelas que pressionam Israel a negociar em pé de igualdade com os palestinos. O senhor é dessa opinião?
Grandes mudanças ocorreram nas Nações Unidas, onde Nikki Halley tornou-se rapidamente uma extraordinária porta-voz para mudar a política da ONU em relação a Israel.
No tocante às negociações israelenses-palestinas, aí sim, houve um retorno ao velho "processo de paz", contudo a substância ainda não está clara. É diferente da de Obama, mas também é diferente da de George W. Bush e da de Bill Clinton?
Ainda não sabemos, visto que a Administração ainda está formulando sua política. Nesse exato momento, Jason Greenblatt está em Israel em uma visita de três dias para consultas com o embaixador dos Estados Unidos, Autoridade Palestina e o Governo de Israel, trabalhando na definição de rumos. Espero que a nova política seja bem diferente da anterior.
Iasser Arafat interpretou o Acordo de Oslo como sinal de vulnerabilidade israelense, em consequência disso ele incitou a violência contra Israel, culminando com a Segunda Intifada. Não está claro a esta altura que os palestinos veem as negociações como outra maneira de lutar contra Israel?
Com efeito, e isso já está claro para uma maioria considerável de israelenses. No entanto isto não está claro, em grande medida, no mundo exterior. Inúmeros observadores acreditam que, como em 13 de setembro de 1993, Arafat e os palestinos aceitaram a existência de Israel, os problemas pendentes dizem respeito apenas a detalhes. Se os diplomatas simplesmente se debruçassem com afinco, estes problemas seriam resolvidos.
Não é o caso: o que Arafat fez em Oslo foi mera hipocrisia. A maioria esmagadora dos palestinos, cerca de 80%, continua não aceitando a existência de Israel. A liderança palestina, tanto em Ramala quanto em Gaza, não procura reduzir esse contingente. Muito pelo contrário, ela quer aumentar a rejeição a Israel para 100%.
A liderança palestina não fez a sua parte do acordo de Oslo e continua a infausta luta pela "revolução até a vitória". Os mapas em árabe quase nunca mostram a Cisjordânia ao lado de Israel e sim o mapa da época do Mandato Britânico da Palestina no lugar de Israel. Em suma, a liderança palestina quer fazer de conta que Israel não existe.
O conflito árabe-israelense faz parte de uma batalha mais ampla entre o islamismo e o estilo de vida ocidental?
Quatro movimentos distintos inspiraram os árabes contra o sionismo, em ordem cronológica, são eles: pan-sirianismo, pan-arabismo, palestinismo e islamismo. De modo que somente parte do conflito árabe-israelense está ligado ao islamismo.
O movimento islâmico começou no Egito, Irã e na Índia na década de 1920. Não vai lhe agradar o que eu vou dizer, mas Mussolini foi uma inspiração importante, especialmente no Egito. O sonho de retomar o esplendor antigo através do poder do Estado e do militarismo inspirou muitos muçulmanos. O projeto ganhou força ao longo do século passado.
O projeto é um "ismo" da mesma forma que o socialismo, o fascismo e o liberalismo. É uma moderna vertente do Islã. Ela tem antecedentes, mas é moderna. Na economia, por exemplo, o Islã tradicional conta apenas com noções rudimentares, pelo fato dos muçulmanos medievais não se debruçarem sobre esse tema. Os islamistas transformaram simples regulamentações em sofisticados tratados. A economia islâmica é um aspecto inovador do Islã.
Mordechai Kedar da Universidade Bar-Ilan. |
Em uma entrevista, Mordechai Kedar rejeitou que a distinção entre islã e islamismo é artificial. Os "muçulmanos", salientou ele, "estão divididos em dois grupos: os que acreditam no Islã apenas para os muçulmanos e os que tentam impô-lo aos outros". O senhor concorda com essa visão?
É uma classificação nova e positiva, mas não substitui a distinção crucial entre islã e islamismo. Os islamistas desejam voltar aos dias de glória de mil anos atrás, quando Cairo, Bagdá e Damasco eram cidades vanguardistas e pioneiras, quando os muçulmanos eram a nação mais rica e poderosa.
Para os islamistas, a aplicação da lei islâmica é o meio de alcançar esse objetivo. O ISIS é o apogeu clássico desse fenômeno. Outros islamistas seguem o mesmo caminho de maneira menos extremada, mas com o mesmo objetivo. Erdoğan da Turquia segue o caminho do ISIS com mais cautela e mais vagarosamente, mas até ele ameaça implantar decapitações. Indubitavelmente, nem todos os muçulmanos são islamistas, o que significa que eles não veem a aplicação da Sharia como o caminho para se tornar rico e forte. Os muçulmanos anti-islamistas são a esperança do futuro.
O Islã divide o mundo em duas esferas ambivalentes e conflitantes, Dār al- Islām and Dār al-arb, Casa do Islã e Casa da Guerra. Dada esta premissa, como os muçulmanos poderiam coexistir com o Ocidente?
Do ponto de vista contemporâneo, o islamismo reúne inúmeros aspectos problemáticos. Dois dos mais importantes desses aspectos são as relações de muçulmanos com não muçulmanos e as relações dos homens com as mulheres. Em ambos os casos o panorama visto da posição privilegiada de hoje, os costumes islâmicos são extremamente atrasados.
A boa notícia é que todas as religiões, sendo concepções humanas, mudam com o passar do tempo. O Islã é o que os muçulmanos o fazem ser. Nas palavras de um filósofo egípcio, "o Islã é como um supermercado, você pode escolher o que você quiser". O Islã muda o tempo todo. Na minha carreira vi o Islã passar de mais moderado a mais radical, isso implica que ele também pode se tornar ainda mais moderado.
Nós não muçulmanos precisamos trabalhar contra os islamistas e ajudar os anti-islamistas. Isso toma um tempo enorme do meu trabalho. Meu lema é: "o Islã radical é o problema, o Islã moderado é a solução".
Vejo o movimento islâmico no ápice em 2012, enfrentando, porém, problemas gravíssimos. Com efeito, ele ainda soma inúmeros sucessos, particularmente na Turquia, mas é mal visto pelas pessoas que vivem sob esse regime, acrescido do fato dos islamistas estarem lutando entre si. Essas propensões são melhor evidenciadas no Egito, na revolta ocorrida há quatro anos e na Síria, onde sunitas e xiitas lutam uns contra os outros. A exemplo dos demais movimentos totalitários modernos, a minha expectativa é que o islamismo fracasse.