Entrevista concedida à Rebecca Mieli
Com a queda de Raqqa, qual é o futuro da Síria?
Há mais de um ano que o ISIS é um fator de menor importância no contexto sírio. A verdadeira batalha se resume nos inúmeros estados poderosos que atuam no país, tanto os regionais (Irã, Turquia, Israel) quanto os internacionais (Rússia, Estados Unidos). O destino da Síria depende de suas relações caleidoscópicas.
De que maneira a ameaça do ISIS mudou a forma dos serviços de inteligência combaterem o terrorismo?
Ao deixarem claro que uma mensagem de impacto pode fazer mais estragos do que planejamento, recursos financeiros e armamentos.
Qual é o futuro das armas químicas e biológicas estocadas na Síria? Elas são uma ameaça em potencial a Israel e à Europa?
O estoque de armas de destruição em massa na Síria é uma ameaça iminente para o mundo inteiro.
Os iranianos estão fazendo um corredor xiita que irá até o Líbano?
Estão, a implosão do Iraque e da Síria do lado oeste e do Afeganistão do lado leste constituem gigantescas oportunidades para Teerã.
Região do corredor xiita iraniano que conduz ao Mar Mediterrâneo. |
Que tipo de medidas preventivas Israel deveria tomar?
Israel deve ficar na sua, discreto, mas não deixar nenhuma dúvida ao Irã para que não cruze as linhas vermelhas. E é isso que Jerusalém está fazendo.
Em última análise, que papel Teerã deseja desempenhar no Oriente Médio?
Os komeinistas procuram difundir sua interpretação do Islã para todos, muçulmanos ou não, para transformar o Irã em uma potência dominante global por meio da força (armas de destruição em massa), economia (petróleo e gás) e ideias (islamismo).
Os sunitas têm futuro na Síria ou seria melhor se eles emigrassem?
Pelo andar da carruagem, a não ser que as coisas mudem, os sunitas não têm futuro na Síria, nem os cristãos nem os yazidis.
À medida que o ISIS vai colapsando, a Europa se defrontará com mais uma onda de imigrantes sírios?
O ISIS é hoje o menor dos problemas, a grande questão é como as potências presentes na Síria irão resolver os problemas entre si. Eu estou pessimista e acho que grandes contingentes de refugiados fugirão da Síria.
Se for assim, quais as opções da Europa para que ela possa lidar com esses elementos radicalizados?
Os europeus deveriam assumir o controle de suas fronteiras e exortar os migrantes do Oriente Médio a se dirigirem à Arábia Saudita e a outros países ricos com os quais dividem a mesma cultura.
Os ex-combatentes do ISIS se juntarão à Al-Qaeda e ambas as organizações juntarão suas forças?
Sim, o ISIS enfraquecido provavelmente procurará fazer alianças com outras organizações islamistas extremistas.
Preto e branco, ISIS e Al-Qaeda. |
Qual a diferença entre Hisbolá, Hamas, Al-Qaeda e ISIS?
Todos os islamistas têm a mesma ânsia de impor a lei islâmica (Shari'a), de criar um califado. Mas cada um deles tem filosofia, meta, tática e (principalmente) liderança própria.
De que maneira as ameaças contra Israel diferem das ameaças contra a Europa e contra os Estados Unidos?
As diferenças estão diminuindo gradativamente. A principal delas é que as ameaças islamistas contra Israel são mais espalhafatosamente articuladas, ao passo que as contra a Europa e contra os Estados Unidos são mais sutis.
Os cidadãos dessas três regiões têm uma percepção parecida do perigo islamista?
Os três aprenderam lentamente, os israelenses tiveram mais oportunidades de entender o que estavam enfrentando e, portanto, estão na frente em termos de conscientização. Os americanos são menos míopes do que os europeus, mas só levemente.
É possível continuar sendo uma democracia e ao mesmo tempo reconhecer a ameaça que a Europa está enfrentando?
É, mas exige restringir as liberdades civis para combater o inimigo islamista.
De modo que o senhor aconselha os europeus a aceitarem certa redução em seus direitos e liberdades para aumentarem a segurança, como é o caso em Israel? Veja como funciona a segurança no aeroporto de Israel.
A defesa contra a violência jihadista é importante, mas isso não deve desviar a atenção da questão muito mais importante, qual seja: a penetração islamista nas sociedades ocidentais.
A segurança do aeroporto é simples em comparação com a preservação da civilização ocidental. Fora de Israel, a segurança, de modo geral, é sem noção, mas os jihadistas parecem ser ainda mais tontos, de modo que as práticas atuais estão a contento.
O Patriot Act limitou certas liberdades em favor da segurança. Este paradigma ainda é válido?
É válido sim, não há como fugir dessa equação. Eu acredito na redução a curto prazo das liberdades em nome da sobrevivência a longo prazo, é o que acontece em tempos de guerra.
Se for assim, o que os europeus podem fazer para colocarem essas medidas em prática?
Eles estão implantando as medidas à moda americana. Veja a recente legislação francesa: "Projet de loi: renforçant la sécurité intérieure et la lutte contre le terrorisme," que está sendo chamada a versão do Patriot Act de Macron.
Quais são os riscos a longo prazo da migração sem precedentes ora em curso na Europa?
A substituição da civilização europeia pela civilização islâmica.
O senhor concorda com a teoria da "Eurábia", como os políticos de direita na Itália acreditam?
Quando Bat Yeor apresentou a teoria pela primeira vez em 2002 eu tinha lá minhas dúvidas, não botava fé numa conspiração para substituir a civilização ocidental pelo Islã. Após quinze anos, principalmente depois de testemunhar as incríveis atitudes da chanceler alemã Angela Merkel, acho-a convincente. Não vejo outra maneira de explicar a impressionante relutância em reconhecer os danos causados pela descontrolada imigração e pelo multiculturalismo cego.