Entrevista concedida a Niram Ferretti.
Na esteira das recentes decisões e declarações de Donald Trump relativas à Autoridade Palestina, o l'Informale entrevistou Daniel Pipes, colaborador assíduo em nossas páginas, está entre os principais especialistas internacionais sobre o Oriente Médio.
L'Informale: um ano após Donald Trump assumir a presidência, como o senhor avalia os EUA? A política americana em relação ao Oriente Médio?
Daniel Pipes: ele me preocupa muito, mas no momento eu concordo em grande medida com a sua política em relação ao Oriente Médio.
P: ele disse que a questão de Jerusalém é "assunto encerrado", que cortará a ajuda financeira à Autoridade Palestina se ela não voltar a negociar a paz com Israel. Como entender essas declarações?
R: ele está fazendo a coisa certa por razões equivocadas. Ele tomou estas medidas para forçar o reinício do processo diplomático que já dura 30 anos, que é desastroso e está fadado ao fracasso. Israel pode acabar pagando o pato.
P: em uma entrevista de maio de 2017, o senhor assinalou ao L'Informale que Trump tem uma atitude "levemente hostil" em relação a Israel. À luz dos recentes acontecimentos, o senhor mudou de ideia?
R: por enquanto, sim. No entanto eu atribuo a boa situação de Israel mais aos erros dos palestinos do que ao afeto de Trump pelo estado judeu. Se os palestinos repararem seus erros, o humor poderá mudar dramaticamente.
P: o quão acertada é a decisão americana de cortar a ajuda financeira à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA)?
R: ela não servirá para nada. Só o governo da Bélgica ofereceu contribuir com mais de um terço para suprir o corte e muitos outros estão fazendo o mesmo, até o Middle East Forum está contribuindo! Além disso, cortar a ajuda financeira não aborda o aspecto mais importante e desastroso da UNRWA, ou seja, seu objetivo de aumentar a população de refugiados em vez de diminuí-la.
Em Gaza, a UNRWA é um provedor de inúmeros benefícios. |
P: a postura dura da Administração Trump em relação à Autoridade Palestina deixa seu dirigente, Mahmoud Abbas, impossibilitado de continuar com a hipocrisia?
R: muito pelo contrário, isso faz com que ele, de novo, aja com hipocrisia e faça de conta que está "negociando a paz" com Israel.
P: o senhor acredita que um eventual estado palestino seja a solução para o conflito? Ou então, assim como Martin Sherman, o senhor acredita que essa noção é um paradigma fracassado, uma relíquia ideológica do passado?
R: eu optaria pela primeira premissa (ele e eu já debatemos extensamente esse assunto, acesse a publicação aqui): se os palestinos renunciassem por completo às demandas territoriais contra Israel e terminassem as campanhas de deslegitimação contra Israel, eu concordaria com um estado palestino. Mas essa possibilidade é totalmente retórica e, a propósito, faz um século.
P: parece que a "causa palestina" perdeu a maior parte de seu encanto nos países árabes sunitas. A Turquia e o Irã passaram a ser seus defensores. É um divisor de águas?
R: um divisor de águas temporário, sim. Assim que a ameaça iraniana passar, os países árabes sunitas poderão redescobrir a causa palestina.
Netanyahu e Mohammad bin Salman (MbS). |
P: o senhor considera o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman da Arábia Saudita um trunfo para Israel?
R: Nem tanto. Considero-o um trunfo para a Arábia Saudita e espero que, em meio às iniciativas de modernização, ele esfrie a hostilidade árabe em relação ao estado judeu.
P: em entrevista concedida ao L'Informale, Edward Luttwak nos disse o seguinte: "o Irã passa a impressão de ser uma grande potência quando se olha para a situação na Síria, mas essa imagem não corresponde à realidade. O Irã posicionou doze mil soldados na Síria, vindos do Irã, Afeganistão e do Paquistão. Eles fazem parte de grupos xiitas, são tão pobres que estão dispostos a fazer qualquer coisa por 3, 4 dólares por dia. ...a teocracia é muito eficiente em vender a sua imagem e em ocultar seus problemas. "O senhor concorda com esse ponto de vista?
R: não. Qualquer lado em um conflito tem seus pontos fracos, mas se nos focarmos exclusivamente neles sem olhar para os seus pontos fortes ou para os pontos fracos do adversário distorceremos a situação. É isso, imagino eu, que Edward Luttwak está fazendo. Quaisquer que sejam os problemas, o regime iraniano é o agressor bem sucedido do Oriente Médio, que já controla quatro capitais árabes.
P: O governo dos EUA trabalha para derrubar o regime iraniano ou simplesmente continua assistindo e esperando que ele eventualmente caia?
R: ele trabalha para derrubá-lo. Isso me frustra e me espanta, durante 39 anos de agressão iraniana, desde a tomada da embaixada americana até o desenvolvimento do programa nuclear, derrubar o governo da República Islâmica do Irã nunca fez parte da política dos Estados Unidos.