Niram Ferretti entrevista Daniel Pipes.
Título em inglês do L'Informale: "Trump Nixed the Iran Deal: What Next?"
Original em italiano: "Nuove sfide in Medioriente: Intervista con Daniel Pipes."
Pergunta: como crítico do acordo nuclear com o Irã 'Plano de Ação Conjunta' (JCPOA), qual é a sua avaliação sobre a saída de Donald Trump do acordo?
Resposta: estou satisfeitíssimo. O acordo nuclear com o Irã trouxe enormes benefícios aos mulás em Teerã, dando-lhes liberdade de ação imediata e mais na frente armas nucleares, visto que para tanto receberam imensas quantias em dinheiro. Já vai tarde.
Pergunta: Benjamin Netanyahu, ferrenho opositor do acordo nuclear, disse em seu discurso de 2015 perante o Congresso americano que "o regime do Irã não é apenas um problema dos judeus, assim como o regime nazista não era apenas um problema dos judeus... o regime do Irã representa uma grave ameaça, não apenas para Israel, mas também para a paz do mundo inteiro". Ele estava certo?
Netanyahu discursando em uma sessão conjunta do Congresso dos EUA em 3 de março de 2015. |
Pergunta: inúmeros líderes europeus afirmaram que a União Europeia continuará no JCPOA, sendo realista, o acordo pode sobreviver às sanções econômicas dos EUA contra o Irã?Resposta: exato. Os iranianos estão no momento empenhados em guerras no Iraque, Síria, Líbano e na Síria, além de ameaçarem a Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico. Além disso, a ameaça da detonação de uma arma nuclear desencadearia um pulso eletromagnético nos Estados Unidos e outros países ocidentais que causaria uma perda catastrófica de vidas.
Resposta: pode, os europeus podem estabelecer empresas como a Total S.A. que não faz negócios nos Estados Unidos e que, portanto, podem operar livremente no Irã. A propósito, se os europeus convencerem Teerã a continuar cumprindo os termos do JCPOA, isso faz com que a decisão dos EUA não tenha custo algum, Washington se retirou e os iranianos continuarão não enriquecendo urânio. (Atualização: depois dessa entrevista, o Presidente Rouhani do Irã confirmou que o seu governo irá respeitar os termos do JCPOA se os europeus fizerem certas concessões. Nesse caso, a retirada dos EUA não mudará as ações iranianas.)
Pergunta: com uma economia iraniana já com a corda no pescoço, que peso sobre o país o senhor acredita que terá a decisão americana de sair do acordo?
Resposta: a liderança iraniana elaborou uma "economia de resistência" que pode resistir a sanções, de modo que o país administrará as privações. Se o povo iraniano aceitará o aumento da pobreza, são outros quinhentos. Tenho a esperança que a insatisfação popular cresça gradativa e incessantemente, levando a uma derradeira explosão.
Manchete no jornal "The Guardian" um dia após a decisão de Trump de sair do JCPOA. |
Pergunta: em uma entrevista concedida ao L'Informale em novembro último o senhor disse: "faço votos que Washington seja mais hostil em relação à República Islâmica do Irã a ponto de procurar mudar o regime, mas este nunca foi o caso nos quase quarenta anos de governo Khomeinista". As nomeações de Mike Pompeo como Secretário de Estado e particularmente de John Bolton como Conselheiro de Segurança Nacional, além saída do acordo, indicam uma abordagem mais resoluta em relação ao Irã. Seu desejo se tornará realidade em breve?
Resposta: duvido. Observe o que Trump disse quanto aos líderes do Irã após sua saída do JCPOA: "eles vão querer fazer um novo e duradouro acordo, que beneficie o Irã e o povo iraniano. Quando isso acontecer, estarei pronto, disposto e em condições de negociar.". Isso não sugere a intenção de provocar uma mudança de regime.
Pergunta: o senhor vê o recente confronto direto entre Israel e Irã como um possível prelúdio para algo maior?
Resposta: vejo sim. Embora a última troca de rajadas parece ter sido um fracasso quase total para os iranianos, eles contam com formas mais eficazes de atacar Israel. Eles contam com grupos terroristas que lutam por eles atacando Israel de Gaza, da Síria e (especialmente) do Líbano. Ou então eles podem empregar a violência jihadista contra judeus, como em Buenos Aires ou Burgas.
Resultado do atentado ao edifício da AMIA em Buenos Aires em julho de 1994, que matou 85 pessoas. |
Pergunta: até agora Putin não interferiu nas atividades militares de Israel contra o Irã na Síria, mas, mesmo que a Rússia e o Irã não compartilhem os mesmos objetivos geopolíticos, eles são aliados. Não é inevitável que Putin opte se posicionar contra os interesses israelenses?
Resposta: não, não é inevitável. Em primeiro lugar Putin sempre procurou ter boas relações com Israel. Em segundo, ele não quer que os iranianos dominem a Síria, de modo que é do interesse dele que os israelenses deem uma surra neles.
Pergunta: o senhor tem sido cético em relação a Donald Trump. Qual é a sua avaliação sobre suas corajosas medidas no tocante ao Oriente Médio, como a transferência da embaixada para Jerusalém, a assinatura do Taylor Force Act, a retenção dos pagamentos à UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina) e a saída do acordo com o Irã?
Resposta: a falta de filosofia política de Trump e a sua imprevisibilidade em geral me fizeram temer que ele cometesse erros monumentais no Oriente Médio. Até agora estou surpreso de maneira muito positiva. Mas ele pode mudar de opinião num piscar de olhos, de modo que fico com o pé atrás quanto ao futuro.
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