O texto a seguir se refere a trechos de um painel ocorrido em 17 de novembro de 2018 no David Horowitz Freedom Center, em Palm Beach, Flórida. Fazem parte do painel Bill Gertz e Anne Marie Waters e o moderador é John Gilmore. Para visualizar a transcrição completa, clique em FrontPageMag.com version postada em 6 de dezembro de 2018. Os erros de transcrição foram corrigidos e as idiossincrasias das observações orais foram editadas para maior clareza.
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Daniel Pipes: Eu sou Daniel Pipes e normalmente participo desses debates como especialista em Oriente Médio/Islã. Em parte para harmonizar a sintonia fina com Anne Marie Waters e em parte porque é uma paixão particular minha, vou falar sobre o que eu chamo de partidos civilizacionistas da Europa (o que a imprensa chama de partidos de extrema-direita). Como o For Britain de Anne Marie, esses partidos estão se posicionando contra o establishment, abordando a questão da imigração e islamização.
Johannes Hahn, desde novembro de 2014, é o Representante responsável pela Política Europeia de Vizinhança e Ampliação das Negociações. |
Em 2015, o representante da UE para a ampliação, Johannes Hahn, disse que poderia haver cerca de 20 milhões de refugiados nas fronteiras da Europa esperando para entrar no velho mundo. Trata-se de um contingente significativo, mas não é tanto assim quando se vê os migrantes econômicos da mesma maneira que se vê os refugiados, quando se vê a escassez de água e alimentos que já se instalou no Oriente Médio, isso sem falar no crescimento populacional na África Subsaariana.
- Um funcionário do governo do Irã disse que 70% da população do país terão que se mudar, a menos que haja uma mudança dramática no uso da água.
- No Iêmen alguns aldeões recebem um litro de água por dia.
- O represamento do Nilo Azul pela Etiópia criou uma crise que desponta no horizonte do Egito que depende, quase que exclusivamente, das águas do rio.
- Estima-se que a população da África dobre de um para dois bilhões até 2050, quadruplicando para quatro bilhões até 2100.
É plausível adiantar que o número de imigrantes, em potencial, que desejará entrar na Europa tranquilamente corresponderá à população da Europa propriamente dita. Incluindo a Rússia, são 740 milhões de pessoas. Dezenas, centenas de milhões de pessoas vão querer deixar o Oriente Médio e a África, para onde eles desejarão ir? Em sua maioria para o Ocidente: especialmente para a Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
A população dos Estados Unidos e do Canadá somadas corresponde praticamente à metade da população da Europa, ou seja, 360 milhões de habitantes. Apesar de estarmos na América do Norte, com os meios de transporte modernos, nós também seremos inundados com imigrantes. De modo que, embora o assunto explícito seja a Europa, a questão também gera implicações claras para os Estados Unidos e o Canadá.
Quero abordar quatro pontos no tocante aos partidos civilizacionalistas da Europa.
Primeiro, eles são muitos e estão ganhando força. Alguns já são bem conhecidos como a União Nacional na França, a Liga na Itália, o Partido da Liberdade na Áustria, o PVV (Partido da Liberdade e Democracia) na Holanda e o Democratas Suecos na Suécia, outros são menos conhecidos. Todos estão se rebelando contra as elites, o que eu chamo de seis Ps: políticos, imprensa, polícia, promotores, professores e sacerdotes.
Os civilizacionistas já integram governos em pequena escala em três países, a saber: Noruega, Suíça e Eslováquia. Eles têm papéis importantes e são a força motriz em cinco países: Polônia, Hungria, República Tcheca, Áustria e Itália. A minha expectativa é que eles ganhem terreno em outros países, como França, Holanda e Suécia.
A Alemanha é de particular interesse. O partido da situação, União Democrata Cristã (CDU), realizará o encontro de seus representantes entre os dias 7 e 8 de dezembro e a votação para a escolha do novo líder partidário é crucial para o futuro da Europa: Angela Merkel conta com Annegret Kramp-Karrenbauer, a AKK (Mini-Merkel), ávida, a postos para se tornar sua sucessora. Caso AKK seja eleita, a Alemanha continuará no caminho de Merkel, da imigração em massa e islamização. Se um dos outros dois candidatos, o ex-líder de facção Frederick Metz ou (mais curiosamente ainda) o Ministro da Saúde Jens Spahn, vencer, aí o bicho vai pegar, haverá uma guinada dramática na Alemanha, o maior e, sem a menor sombra de dúvida, o mais poderoso e importante país da Europa Ocidental. De modo que, meu primeiro ponto é que os civilizacionistas não dormem no ponto.
Mini-Merkel e Merkel. |
Em segundo lugar, sim, salvo raríssimas exceções, eles são demasiadamente problemáticos. Em muitos casos seu staff é formado por calouros. Fazem parte dos civilizacionalistas um número preocupante de lunáticos, extremistas antijudaicos e anti-muçulmanos, racistas, excêntricos sedentos por poder, teóricos da conspiração, revisionistas históricos e nazistas nostálgicos. Os autocratas estão no leme desses partidos. Eles recebem dinheiro de Moscou. Eles são antiamericanos. Inquestionavelmente há todos os tipos de problemas nesses partidos.
Contudo há dois pontos a serem considerados. Eles estão melhorando, simbolizado pelo fato de Marine Le Pen ter expulsado o próprio pai Jean-Marie Le Pen do partido que ele fundou em 1972, por causa de seu antissemitismo. Além disso, os partidos tradicionais também estão com problemas. A título de ilustração, hoje há mais liberdade de expressão na Hungria do que na Grã-Bretanha. (Estou me referindo ao caso de Tommy Robinson, sobre um monte de mentiras ditas ontem a seu respeito: ele não deveria ter sido preso; o Lord Chief Justice of England and Wales o libertou da prisão em uma decisão de 24 páginas que na realidade sustentava que ele foi submetido a um julgamento com 'cartas marcadas'.)
Em terceiro lugar, os partidos civilizacionalistas desempenham um papel crucial. Nos países em que eles não têm cadeiras no parlamento, como na Inglaterra e na Espanha, é possível ver as coisas irem ladeira abaixo açodadamente. Nos países em que eles têm cadeiras no parlamento, é possível vê-los rechaçando as elites. É por esta razão que é tão importante que um partido como o For Britain tenha representantes no parlamento e em consideráveis proporções.
E por último, os partidos civilizacionalistas têm à disposição vários caminhos para chegar ao poder. Eles podem governar sozinhos, como na Hungria. O Partido Fidesz, com Viktor Orbán à frente, conta com dois terços das cadeiras no parlamento, o que significa que ele pode fazer o que quiser e, (do ponto de vista dos Estados Unidos) ele faz um bocado: controla o judiciário, a economia, a mídia, as escolas e muito mais. Esse é um jeito: vencer logo de cara.
Os civilizacionistas poderiam também se associar a um partido conservador tradicional, como aconteceu na Áustria, onde o Partido da Liberdade uniu forças com o tradicional partido conservador, Partido do Povo. Juntos, eles emplacaram 58% dos votos e administram o país conjuntamente.
Ou então enveredar por um caminho mais exótico para chegar ao poder onde o partido civilizacionalista se juntaria a um partido anarquista/de esquerda, como na Itália. A Liga formou uma coalizão com o Movimento 5 Estrelas. É uma aventura e tanto, a Liga ganhando muita popularidade às custas do Movimento 5 Estrelas.
O que acontecerá quando os partidos civilizacionistas chegarem ao poder? Colocar uma pá de cal na imigração ilegal é a tarefa mais simples que eles terão pela frente, se estiverem determinados terão condições de darem conta do recado. Eles também poderão expulsar imigrantes ilegais que cometeram crimes. Contudo, são passos pequenos se comparados com os problemas complicados que estão por vir, como expulsar os imigrantes ilegais que não cometeram nenhum crime e integrar os imigrantes legais.
Mas já serve de consolo o fato dos europeus estarem acordando para esses problemas e querendo que as coisas mudem. Sugiro que atentem à situação, não só porque a Europa tem três quartos de um bilhão de pessoas e é a fonte de nossa civilização, mas também porque o que acontece lá nos afeta diretamente.
Gilmore: eu gostaria de analisar a situação com uma questão bem ampla, mas vocês podem adaptá-la à sua área de expertise. Bill Gertz se referiu ao estado de negação no tocante à ameaça que a China representa para os Estados Unidos. Anne Marie Waters é testemunha viva da negação continuada, insistente e robusta, em relação ao patente aspecto negativo de importar culturas com as quais o país acolhedor não tem nada em comum. Daniel Pipes acaba de dar uma visão geral sobre os partidos civilizacionistas em face da negação massiva de certas realidades. Por que essas negações, como explicá-las, como superá-las? ...
Pipes: os europeus têm um profundo sentimento de culpa por conta do satânico trio do imperialismo, racismo e fascismo. Culpa significa acreditar que sua civilização é inerentemente má, que trouxe coisas ruins para o resto do mundo, até a sua pele branca é um sinal do mal. São esses os sentimentos preponderantes que estão por trás do ímpeto de querer trazer uma nova população e erradicar a antiga civilização.
É um sentimento profundo encontrado primordialmente na elite, floresce também nos seis Ps, lembrando: políticos, imprensa, polícia, promotores, professores e sacerdotes. Esse sentimento não está tão disseminado na população geral, que está com olhos cada vez mais abertos.
Eu vejo uma revolução a caminho. Ela já começou em 5 dos 28 países da União Europeia e será palpável em mais deles à medida que os civilizacionistas forem alçados ao poder. Eu pressuponho que em 20 anos esses partidos estarão no poder na maior parte da Europa.
Essa culpa existe primordialmente na Europa Ocidental. É irônico além de melancólico constatar que os países membros da OTAN, que passaram pelo período da Guerra Fria, estão em péssimas condições se comparadas com as do Pacto de Varsóvia. Em outras palavras, o escudo americano a deixa menos preparada para 2018, do que o espectro da energia negativa do comunismo soviético. ...
Pergunta da plateia: parece que há uma ligação natural entre esses partidos nativistas e os judeus da Europa porque ambos querem 'desmuslamizar' o continente europeu. É possível haver uma aliança dessas considerando-se que os partidos ainda têm um toque nazista e os judeus os temerem?
Pipes: sem dúvida, os partidos civilizacionalistas abrigam elementos fascistas ou neofascistas. Sem a menor sombra de dúvida eles abrigam elementos antissemitas. Eu concordo com essas críticas. Mas as críticas habituais vão além da conta. Dois pontos:
Pascal Bruckner escreveu o livro sobre o sentimento de culpa da Europa. |
Primeiro, os partidos não civilizacionistas são via de regra piores. Enquanto Viktor Orbán é condenado devido à sua campanha anti-George Soros, eu queria destacar que esta casa, o Horowitz Center também condenou Soros, isso faz de David Horowitz um antissemita? Além disso, como alguém pode ficar em cima de Orbán quando Jeremy Corbyn, não obstante seu antissemitismo explícito e sua amizade com o Hamas, poderá se tornar o próximo primeiro-ministro do Reino Unido? Notem que Orbán é o melhor amigo de Israel na Europa, enquanto Corbyn provavelmente romperia relações com Israel. Notem que Israel agora tem melhores relações com a Arábia Saudita do que com a Suécia, com o Egito do que com a Espanha.
Em segundo lugar, os civilizacionistas estão se emendando nesse quesito. Eu dei o exemplo de Marie Le Pen. Permita-me dar outro: em 2010, Heinz-Christian Strache, presidente do Partido da Liberdade da Áustria, diligentemente visitou o memorial do Holocausto em Jerusalém, Yad Vashem, contudo ele usava uma espécie de boné da sua irmandade (Burschenschaft), contaminada com antissemitismo, causando enorme mal-estar. Ele voltou ao Yad Vashem em 2016, desta vez ele usou um homburg (chapéu de feltro que leva o nome da cidade), sem nenhum tipo de ligação com qualquer agremiação. De modo que ele aprendeu.
Sim, há problemas em relação aos judeus. Mas em geral, os civilizacionistas são melhores que seus adversários e fora isso estão melhorando. Para responder a sua pergunta, é possível haver alianças. Observe o recém formado "Juden in der AfD", judeus no partido Alternativa para a Alemanha.