Introdução:
Após uma década de autoritarismo, o governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu pode estar chegando a um amargo fim. Os estarrecedores resultados desembocaram na segunda rodada das eleições no país.
Nas últimas eleições Bibi fez o possível e o impossível para evitar sua iminente caída e permanecer no cargo. DC Insider entrevistou Daniel Pipes, presidente do Middle East Forum, para obter outros panoramas sobre a difícil situação em que se encontra o primeiro-ministro israelense.
Por que Netanyahu ainda está no páreo na corrida para o cargo de primeiro-ministro?
Há uma série de indiciamentos pairando sobre a sua cabeça e ele nutre a esperança de se esquivar deles permanecendo primeiro-ministro. Ele já é o mais longevo primeiro-ministro da história de Israel e crê que tem condições de consolidar ainda mais seu legado. Ele se vê como o melhor líder em termos de política externa em particular, de modo que ele tem uma série de razões, tanto pessoais quanto nacionais para querer permanecer no cargo.
Quais são as possíveis implicações dessa eleição? Esta poderia ser a hora de uma importante guinada em Israel?
Sem dúvida alguma. Eu vejo três desfechos possíveis: o primeiro envolveria alguém que no momento afirma: 'não irei trabalhar com Netanyahu' e na hora do vamos ver, mudar de ideia, que poderia ser Gantz, Lieberman ou Peretz. Se um desses três concordar em se juntar a ele, então haverá a formação de um governo e, de um jeito ou de outro Netanyahu continuará no poder. É uma possibilidade que isso venha a acontecer com Gantz e mais ainda com Lieberman ou com Peretz.
A segunda possibilidade é que os parlamentares do Likud deponham Netanyahu e elejam outro líder, o que tornaria possível e muito mais fácil para Gantz ou para Lieberman se juntarem ao Likud já que eles dizem abertamente que se juntarão somente sem Netanyahu, apresentando-o com obstáculo.
A terceira e última opção seria outra eleição. Eu realmente não vejo outras alternativas, de modo que estou inclinado a acreditar que os líderes do Likud dirão a Netanyahu: 'obrigado por tudo, mas chegou a hora de escolhermos um novo líder.'
Diferentemente das eleições passadas, em especial a última, um contingente considerável de árabes correu para as urnas eleitorais. Por que essa mudança repentina?
Vemos rancor em Netanyahu. "Ok, vamos mostrar para vocês..." O importante em relação ao voto árabe é que durante 70 anos, salvo raríssimas exceções, os árabes votavam em partidos e integrantes que se recusavam em atuar no sistema político israelense, desempenhando portanto um papel marginal naquele contexto.
A única exceção que me vem à mente ocorreu em 1993 quando o voto dos parlamentares árabes culminou na aprovação dos acordos de Oslo... Fora isso, eles têm sido em grande medida irrelevantes. Quer sejam dez ou quinze, eles simplesmente não participam dos trabalhos cotidianos do parlamento israelense. Talvez haja uma reviravolta, mas eu duvido. Sempre que um árabe que se candidata ao parlamento diz: 'vou trabalhar para melhorar o ensino e a segurança,' ele fica a ver navios. Se o candidato é um fervoroso defensor da Autoridade Nacional Palestina ou do Hamas e revoltado com o estado israelense, aí ele é eleito.
Será que veremos a volta aos Acordos de Oslo? E quanto à questão palestina?
Não. Ninguém vê com bons olhos os Acordos de Oslo, além disso eles são, quase que na totalidade, ignorados. A grande questão nas recentes eleições, aquela que principalmente Lieberman não cansou de enfatizar, não tem nada a ver com os palestinos e sim como as relações entre seculares e religiosos, melhor dizendo, o papel dos ultraortodoxos no cotidiano israelense.
Eles servirão nas forças armadas? Eles terão aulas de inglês e matemática na escola? E assim por diante... Essa é a questão hora da vez nas eleições de 2019. A Autoridade Nacional Palestina e o Hamas também são fatores, é óbvio, mas não são o tema central. A menos que o plano de Donald Trump cause muito alvoroço, não vejo grandes chances de mudança.
Quais são as últimas sobre o "Acordo do Século"?
Ele já está formalmente concluído. Netanyahu o aprovou em junho de 2009, portanto esta tem sido a política israelense por mais de uma década, contudo, a crença generalizada é que ele concordou sob coação, que foi só da boca para fora. A diferença entre as exigências da ANP e as do governo de Israel são abismais e sem nenhuma perspectiva de uma mudança iminente a menos que o plano de Donald Trump provoque uma guinada fundamental, que poderia ser o caso.
Há muito burburinho em torno do acordo de Donald Trump, mas de concreto sabe-se muito pouco. Tenho motivos para acreditar que talvez eu saiba do que se trata: acho que acarreta no reconhecimento dos árabes de Israel e o reconhecimento da Palestina pelos israelenses. Caso seja isso mesmo, haverá muita confusão sem criar a força motriz necessária para ativar as negociações entre Israel e a ANP.
O que ocasionou a possível queda de Netanyahu?
O erro primordial de Netanyahu é brigar com seus aliados, como Liberman, Shaked e Bennett, como se eles ainda estivessem com ele no partido Likud. Em parte eles culpam a sua mulher Sara, ao que tudo indica, ela tem forte inclinação em relação a uns e forte desafeto em relação a outros e pode influenciar seu marido. Dito isto, embora muita gente nunca tenha gostado dele e outros tantos estarem fartos, ele ainda mantém uma base eleitoral considerável e robusta que considera que ele tem feito um bom trabalho do ponto de vista nacionalista israelense.
O próximo premiê israelense seguirá o modelo de seu antecessor?
Imagino que o sucessor de Netanyahu irá, meio que adotar a abordagem de Netanyahu em relação a Donald Trump, o que eu chamo de fazer o papel de anjinho, sorrindo e dizendo sim, não medindo esforços para evitar uma briga. Deu certo para Netanyahu, ainda que tivesse que engolir sapos.
Particularmente, a visita de Tlaib-Omar que acabou não acontecendo foi uma pedra no sapato de Netanyahu. Ele aprovou a visita e na sequência Donald Trump disse: 'não as deixe entrar,' então ele não as deixou entrar. Foi humilhante além de arranhar as relações com o Partido Democrata, mas Netanyahu considerou que manter boas relações com Trump era a prioridade máxima e agiu a contento. Eu imagino que Gantz ou qualquer outro que o suceda fará o mesmo.
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