Um Voto Relutante porém Resoluto em Donald Trump
por Daniel Pipes
4 de junho de 2020
Se eu mesmo não disser, meu zelo relacionado a #NeverTrump é um tanto impressionante.
Trump e Cruz: adivinhem para quem eu trabalhei. |
Por eu ter participado da campanha presidencial de Ted Cruz, vi consternado os eleitores republicanos escolherem Donald Trump entre os 16 candidatos viáveis nas prévias eleitorais americanas e ainda torná-lo presidente eleito. Eu assinei uma carta aberta me comprometendo a "trabalhar de corpo e alma para evitar a eleição de alguém tão incompatível para o cargo" de presidente, além de escrever inúmeros artigos desancando Donald Trump. Eu sai do Partido Republicano quando da sua indicação e votei no Libertário Gary Johnson nas eleições gerais. Após a eleição, torci pelo impeachment de Trump e de um presidente Mike Pence.
Em 2016, duas coisas, acima de tudo, me preocupavam em relação a Donald Trump: seu caráter e sua diretiva política.
Quanto ao caráter, me preocupavam as práticas comerciais antiéticas, (Trump University), sua vaidade ("sou realmente rico"), por ele ser litigioso (3.500 ações judiciais nas costas, ou seja: uma ação a cada quatro dias), intolerância (em relação ao Juiz Curiel) e vulgaridade ("Agarre-as pela b***ta"). Seu jeito de fazer política me preocupava ainda mais: eu via nele uma impulsividade desenfreada e me preocupava com as tendências neofascistas (daí o apelido que eu dei a ele, Trumpolini). Sua declaração de 2004, "eu provavelmente me identifico mais como democrata", sugeria que ele iria pular de galho em galho, entre democratas e republicanos e acabaria voando solo seguindo sua própria direção populista.
Quase quatro anos depois, o caráter de Donald Trump ainda me incomoda e me aborrece. De qualquer maneira, sua vaidade, deslealdade e a mania de grandeza excedem os de quando ele era mero candidato.
Leonard Leo, indicador de juízes. |
Mas, para a minha interminável surpresa, ele governa feito um conservador resoluto. Suas políticas nas áreas de educação, impostos, desregulamentação e meio ambiente foram mais ousadas do que as de Ronald Reagan. Suas indicações de juízes são as melhores do século passado (obrigado, Leonard Leo) Seu ataque sem precedentes ao estado administrativo prossegue a passos largos, ignorando as previsíveis vociferações do establishment de Washington. Até a sua política externa tem sido conservadora: exigindo que os aliados contribuam com sua cota, confrontando a China e o Irã e, apoiando memoravelmente Israel. Ironicamente, conforme observa David Harsanyi, sua vicissitude em potencial realmente funciona a nosso favor: "a obstinação de Donald Trump ao que tudo indica, o torna menos suscetível às pressões que tradicionalmente induzem os presidentes do Partido Republicano a capitularem".
(O desempenho da economia induz muitos eleitores a se posicionarem a favor ou contra um presidente em exercício, eu não penso assim. Em parte porque o controle do presidente é bem limitado, em parte porque é um problema transitório que importa muito menos que as políticas de longo prazo.)
É claro que eu também discordo de Donald Trump: protecionismo, indiferença à dívida pública, hostilidade em relação aos aliados, uma queda pelo homem forte da Turquia Erdoğan e aquelas perigosas reuniões com Kim Jong-un. Seu comportamento sem freio interfere no bom funcionamento do governo. Os tuítes são um problema que vem se arrastando.
Mas, é claro, todos nós discordamos de alguma coisa que qualquer presidente faz, surpreendentemente, eu concordo com cerca de 80% das atitudes de Donald Trump, uma percentagem mais alta do que a de qualquer um de seus antecessores, remontando a Lyndon Johnson.
Passei a entender o discernimento de Salena Zito na tirada feita em setembro de 2016 em relação a Donald Trump segundo a qual "a imprensa entende o que ele diz de forma literal e não o levam a sério, seus apoiadores o levam a sério e não o entendem de forma literal". Ou então, conforme observa Daniel Larison: "precisamos julgar Donald Trump segundo suas ações e não segundo suas palavras". Também concordo com James Woolsey de que Trump seria um primeiro ministro muito melhor do que presidente.
Nos últimos três anos, lenta e inexoravelmente, minha aprovação das políticas pesou mais na balança do meu desagrado em relação a ele. Ao fim e ao cabo, sabendo que Joe Biden representará os democratas radicalizados em novembro, concluo que farei minha singela contribuição para ajudar Donald Trump a se reeleger escrevendo, doando e votando.
Cheguei a essa conclusão com relutância, mas sem hesitar. Emocional, estética e intelectualmente, eu preferiria manter distância de Donald Trump e habitar um espaço neutro entre os partidos, como em 2016. Mas vou votar nele como o político que representa minhas opiniões conservadoras. Exorto os demais conservadores relutantes a fazerem o mesmo.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) trabalhou para três presidentes republicanos. © 2020 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Adendo de 4 de junho de 2020: a julgar pelas reações a este artigo, eu deveria ter deixado claro um ponto que eu achei que era tácito:
outrora eu me preocupei com as tendências "neofascistas de Donald Trump". Abaixo um parágrafo que escrevi em outubro de 2016:
a minha expectativa é que ele trate o governo dos EUA como se fosse sua propriedade privada, como uma grandiosa versão da Organização Trump. Ele irá fazer pouco caso dos que o precederam e dos costumes, desafiando leis e poderes. Ele tratará senadores, juízes, generais e governadores como staff pessoal que devem satisfazer suas vontades senão.... Ele contestará a separação de poderes como nunca visto antes.
A bem da verdade, Trump não deu nenhum passo para se tornar o homem forte, tampouco desrespeitou a Constituição. De uns tempos para cá tem me impressionado fortemente que, dada a oportunidade que o COVID-19 ofereceu para que ele amealhasse mais poder, ele propiciou que as principais decisões fossem tomadas pelos governadores. Ele pode até fumegar diante das limitações de seu poder, mas as respeitou tanto quanto, digamos, Barack Obama.
Portanto, esta preocupação não existe mais.
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