Nós que preconizamos o Projeto Vitória de Israel ficamos estarrecidos ao ver o governo do Catar ameaçar Israel com o fim das doações financeiras à Gaza, insinuando que o Hamas irá reiniciar os ataques com balões incendiários. A pergunta que não quer calar é: onde estão aquelas extraordinárias forças armadas que derrotaram três países em seis dias, que realizaram a missão impossível conhecida como Operação Entebbe e surrupiaram o arquivo nuclear do Irã?
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Os órgãos de segurança de Israel, ao que tudo indica, tem um Doppelgänger, obscuro, defensivo, reticente congênere que apareceu após os acordos de Oslo de 1993 para lidar com os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, aquele mesmo que precisou de 50 dias para acabar com uma operação militar de somenos em 2014 e que não consegue frear os balões incendiários que vêm de Gaza. A clássica IDF (Forças de Defesa de Israel) quer vencer, mas a congênere israelense (em relação aos palestinos) só quer saber de calma.
Por que essa timidez toda? Abaixo estão seis fatores:
Os governos israelenses são formados por coalizões multipartidárias que tendem, segundo Jonathan Spyer, "a evitar se ater em questões estratégicas de longo prazo, preferindo abordar ameaças imediatas." Por que lidar com um problema como Gaza se dá para empurrá-lo com a barriga?
Na mesma linha, os serviços de segurança de Israel se orgulham em lidar com o aqui e agora e não com um futuro nebuloso. Lembrando de uma ordem apócrifa de um oficial às suas tropas: "proteja a área até o final do seu turno." A esposa do Primeiro Ministro Yitzhak Rabin, Leah, certa vez explicou a maneira dele pensar: "ele era muito pragmático, odiava tratar de algo que iria acontecer lá no futuro. Ele só se preocupava com o que poderia acontecer agora, em um futuro muito próximo." Analogamente, Einat Wilf explica: a IDF estimula o fluxo de dinheiro do Catar para Gaza porque acredita que isso trará calma: "a IDF não medirá esforços para garantir que o dinheiro continue fluindo, mesmo que isso signifique que a tal calma seja obtida ao custo de uma guerra que se arrastará por décadas a fio."
Assim como a polícia vê os criminosos como encrenqueiros incorrigíveis, os encarquilhados chefes da segurança israelense veem os palestinos como adversários que não têm jeito e refutam a ideia de que eles possam aprender uma lição, os leões podem aprimorar as hienas? A categoria dos que cuidam da segurança são contrários a uma abordagem mais dura porque eles querem evitar transtornos. Essa maneira de ver as coisas pode fazer com que eles pareçam esquerdistas, mas não são, é a longa e amarga experiência, não idealismo obscuro, que explica essa reticência.
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Os serviços de segurança israelenses não querem governar diretamente a Cisjordânia nem a Faixa de Gaza, temendo o colapso da Autoridade Nacional Palestina (ANP) ou do Hamas, eles os tratam de forma diferenciada. Eles veem a ANP governada por Mahmoud Abbas, apesar de todas as suas deficiências, como um útil parceiro na segurança. Verdade seja dita, ela incita assassinatos internamente e deslegitima o Estado de Israel na arena internacional, mas antes aguentar essas agressões do que punir Abbas, induzir a sua queda e reviver o pesadelo de andar pelas ruas de Nablus. Assim, ele literalmente comete assassinatos e se safa.
A conjugação da fraqueza militar palestina com o intenso e minucioso olhar internacional fez com que os órgãos de segurança israelenses vissem os palestinos mais como criminosos do que soldados. Lidar com eles transformou a IDF em uma força policial, com uma mentalidade defensiva, que vê a estabilidade como o objetivo em si próprio. Generais não entram no campo de batalha com o objetivo de salvar as vidas de seus soldados, os chefes de polícia querem que o enfrentamento com os criminosos não viole nenhuma lei e que ninguém saia ferido. Generais querem vitória, chefes de polícia querem calma.
Ao fim e ao cabo, um exagerado senso de moralidade interfere com a tomada de medidas eficazes. Em 2018 o Chefe do Estado-Maior da IDF Gadi Eizenkot justificou a passividade em relação aos que lançam balões incendiários com uma ponderação de deixar cair o queixo: "jogar uma bomba em pessoas que soltam balões e empinam papagaios" vai contra meu posicionamento "operativo e moral."
O trio de Ex-Chefes do Estado-Maior que formaram o partido Azul e Branco. |
Esses tímidos órgãos de segurança, não a esquerda enfraquecida, na maioria dos casos atrapalha a solução do problema palestino. Vira e mexe, suas visões contemporizadoras é que predominam. Felizmente, os órgãos de segurança têm dissidentes e eles botam a boca no trombone, principalmente quando deixam a ativa. Gershon Hacohen pede aos líderes políticos para que não deixem a liderança militar tomar as decisões. Yossi Kuperwasser pede a Vitória de Israel. Uzi Dayan quer que os militares deem aos líderes do país os meios para alcançarem a vitória. Até o trio de ex-chefes do estado-maior que formaram o partido Azul e Branco pedem medidas duras.
A resolução do problema palestino exige o fim do racha nos órgãos de defesa de Israel e a volta da força unitária dedicada a vencer, a convencer os palestinos de que o conflito acabou, que eles perderam e que eles devem abandonar seus objetivos de guerra.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum e fundador do Projeto Vitória de Israel. © 2020 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Atualização de 1º de julho de 2020: Hillel Frisch salienta outro fator: "muitos da alta patente na ativa e na reserva da IDF anseiam pelo testado e aprovado."
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