Mohammad Hassan Goodarzi da International Quran News Agency do Irã, solicitou esta entrevista por escrito e no final ela não foi publicada pelos redatores da agência por "discordarem" dela. De modo que eu a disponibilizo aqui, rigorosamente refletindo o original de 9 de julho de 2020.
Qual a principal causa do islamismo no Oriente Médio?
Frustração: a autoimagem Islâmica juntamente com a experiencia histórica muçulmana levaram os muçulmanos a acreditarem que eles deveriam ser os povos mais abastados, mais educados e mais poderosos. Mas na realidade, no entanto, desde pelo menos os idos de 1800 os muçulmanos são os povos mais pobres, menos educados e mais fracos. O islamismo promete reparar este problema.
Os países ocidentais promovem o islamismo?
De modo geral, não, com duas importantes exceções. (1) no cenário internacional, por vezes os ocidentais têm visto os islamistas como um mal menor e lhes fornecido apoio tático, por exemplo, no Afeganistão contra a União Soviética ou em Gaza contra a OLP. (2) Internamente, os islamistas não violentos são vistos como uma alternativa melhor em relação ao jihadismo.
Representação dos mujahidin afegãos usando armas americanas contra as forças soviéticas. |
Como o islamismo é melhor combatido no Oriente Médio?
De forma negativa e de forma positiva. Negativa, combatendo o islamismo em todas as frentes, da militar à ideológica. Positiva, oferecendo uma alternativa, qual seja: reformar o Islã, um Islã compatível com a vida moderna, especialmente em relação aos não muçulmanos, mulheres e jihad.
Como o senhor avalia a asserção de que a guerra civil na Síria que começou em março de 2011 parece estar chegando ao fim?
O governo Assad controla cerca de 60% do território do país, sendo que o restante é controlado por forças turcas e forças aliadas americanas. Isso me dá a entender que a guerra civil na Síria está longe de acabar.
Recentemente o governo americano impôs sanções (o Caesar Act), contra o regime sírio. Quais serão as consequências dessas sanções?
O objetivo é pressionar o regime de Assad a parar de travar uma guerra contra seu próprio povo. Mesmo antes dela entrar em vigor em 17 de junho, a lei já contribuiu para o colapso da moeda síria. Pensando no futuro, ao que tudo indica, os maiores impactos se darão nas indústrias de gás e petróleo e nos programas de reconstrução do país.
O Caesar Act, nome dado em homenagem ao fotógrafo militar (que preferiu não usar seu nome verdadeiro), que fugiu da Síria em 2013 com 55 mil imagens das prisões do país, visa tanto Asma quanto Bashar al-Assad. |
Qual o grau de perigo que os grupos extremistas islamistas na Síria, menos o ISIS (como o Jabhat al-Nusra) representam para a segurança do Oriente Médio e mais além?
Enquanto a guerra civil na Síria estiver em andamento, os grupos islamistas na Síria continuarão focados nas batalhas internas. Se a guerra civil acabar, esses grupos provavelmente irão olhar mais adiante. Mas esta não é uma perspectiva iminente.
Malgrado a derrota no Iraque e na Síria, o senhor acha que o ISIS irá surgir em outro lugar e com outro nome?
É uma possibilidade, mas o mais provável é que outros grupos assumam a singular e eloquente marca ISIS. Pudemos testemunhar isso de forma bem dramática no Egito, Líbia e nas Filipinas e em escala menor no Afeganistão, Argélia, República Democrática do Congo, Índia, Iraque, Nigéria, Somália, Tunísia, Arábia Saudita e Iêmen. Suponho que essa tendência irá continuar.
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