O Partido Republicano indicou Donald Trump como candidato da legenda à presidência dos Estados Unidos e eu respondi me desfiliando do partido após 44 anos de associação.
A seguir apresento o porquê de eu cair fora, me desfiliar e abandonar o navio:
Primeiro, o jeito grosseiro, egoísta, pueril e repugnante de Trump, misturado com a orgulhosa ignorância, a improvisação política e as inclinações neofascistas fazem dele o mais polêmico e desagregador do que qualquer candidato presidencial sério da história americana. Ele é o protótipo, "o homem que os fundadores da nação tanto temiam", na memorável frase de Peter Wehner. Eu não quero fazer parte disso.
Qual é a face de um(a) verdadeiro(a) conservador(a): Margaret Thatcher com Daniel Pipes em 1996. |
Em segundo lugar, as guinadas de 180º em relação a entraves ("tudo é negociável") significa que, como presidente, ele teria mandato para fazer o que bem entender. Essa perspectiva aterrorizante sem precedentes poderá denotar processar repórteres hostis ou intimidar um Congresso recalcitrante. Também poderá significar lei marcial. Tô fora.
Terceiro, com algumas honrosas exceções, quero manter distância da agremiação política do Partido Republicano que fez as pazes com Donald Trump a ponto de suprimir injustamente elementos da convenção nacional em Cleveland que ainda tentaram resistir à sua indicação. Sim, os políticos e doadores devem contemplar as questões mais prementes (nomeações para a Suprema Corte), mas líderes partidários como o presidente do comitê republicano Reince Priebus, o presidente da Câmara Paul Ryan e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, erroneamente disseram amém a Donald Trump. Conforme observa ironicamente o colunista Michael Gerson, Trump "atacou o establishment republicano como se fosse um bando de fracotes sonolentos e encolhidos. Agora os líderes republicanos estão fazendo fila para se prostrarem diante dele, como um bando de fracotes sonolentos e encolhidos".
Quarto, o movimento conservador, do qual faço parte, prosperou a partir da década de 1950 se transformando em uma expressiva força intelectual. Tal avanço se deu com base em várias ideias chave (governo limitado, ordem moral e uma política externa que refletia os interesses e valores americanos). Mas o abismo cultural e o pesadelo constitucional de uma presidência Donald Trump provavelmente destruirão essa frágil criação. Ironicamente, embora uma presidência de Hillary Clinton ameaçaria a designação de juízes sem o devido preparo para a Suprema Corte, ela deixaria o movimento conservador intacto.
Enfim, conforme as palavras do doador republicano Michael K. Vlock, Trump é "um fanfarrão ignorante, amoral, desonesto, manipulador, misógino, mulherengo, briguento ao extremo, isolacionista e protecionista". Essa encantadora lista de qualidades significa que apoiar Trump se traduz em nunca mais poder criticar um democrata tendo como base o caráter. Ou, em termos pessoais: como se olhar no espelho?
De modo que, com a nomeação formal de Trump, eu resolvi cair fora.
Para que o Partido Republicano recupere sua alma, Trump precisa ser derrotado em novembro. Expurgado de sua influência, o partido de Lincoln e Reagan poderá se recriar.
Nesse ínterim, apoiarei outros candidatos republicanos, principalmente o excelente senador Pat Toomey da Pensilvânia. E quanto ao presidente? O libertário Gary Johnson ou escreverei o nome de um candidato na cédula ou não votarei.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes, serviu em cinco administrações presidenciais, © 2016 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Adendo de 21 de julho de 2016: (1) abordo as críticas a este artigo em "Blowback from Criticizing Trump."
(2) Eu assinalo quem mais deu este passo em "Who Publicly Quit the Republican Party Because of Trump."
Atualização de 30 de maio de 2017: eu estava preocupado com a possibilidade dos republicanos perderem o rumo em termos de ideias, não me ocorreu que eles adotariam uma série de comportamentos execráveis de Trump. Mas é o caso aqui, Max Boot documenta hoje em "From the Party of Lincoln to the Party of the Body Slam." Isso confirma minha decisão de não ser republicano.
Atualização de 27 de julho de 2020: Bret Stephens observa quase precisamente quatro anos após a publicação do artigo acima, que "provavelmente será necessário mais de uma derrota eleitoral para que os eleitores de viés conservador avaliem a escala do desastre que a presidência de Trump causou ao partido e ao país".
Tópicos Relacionados: Política externa dos Estados Unidos
Artigos Relacionados