Os partidos políticos da Alemanha têm lá suas diferenças, não resta dúvida. Mas todos concordam em uma coisa: que o ascendente partido civilizacionista chamado Alternativa para a Alemanha (Alternative für Deutschland, AfD) não deveria ter nenhuma representação no Bundestag (parlamento).
Não é difícil saber o porquê, já que a descarada franqueza da AfD em favor da civilização ocidental, dos Estados Unidos e de Israel os alfineta vigorosamente. De modo que, à medida que as eleições se aproximam, os demais partidos se unem para desacreditar a AfD. Dado que se trata da Alemanha, o método mais potente é enxovalhá-la com antissemitismo. E para tanto, para agir com eficiência, nada como colocar os judeus à frente.
32 das 69 organizações que endossam o documento "Judeus contra a AfD". |
Isso explica porque o Conselho Central dos Judeus da Alemanha (Zentralrat der Juden, ZdJ) elaborou um documento que nada menos que 68 outras organizações judaicas também endossaram. Intitulado "Judeus contra a AfD," o instrumento conclama os alemães a votarem em qualquer partido menos no AfD. O recado não é nada sutil: "vote em um partido inquestionavelmente democrático (zweifelsfrei demokratische Partei) em 26 de setembro de 2021 e ajude a banir a AfD do Bundestag alemão."
O documento, publicado em 9 de setembro, acusa a AfD de "espalhar o caos" no parlamento e chama o partido de sede de "antissemitas e extremistas de direita" que coadunam o "racismo e a misantropia". E não para por aí, os signatários até afirmam estarem "convencidos de que a AfD é um partido... antirreligioso (religionsfeindliche)."
Entre essas organizações se encontram algumas consagradas e de renome internacional, como o American Jewish Committee, B'nai B'rith, Claims Conference, Congresso Judaico Europeu, Jewish National Fund, Limmud, Jogos Maccabi, Fundação Ronald S. Lauder, União dos Judeus Progressistas e o Congresso Mundial Judaico.
Para começar, é bom lembrar que todas as organizações alemãs e americanas isentas de impostos ao endossarem a declaração estão flagrantemente infringindo a lei ao preconizarem como votar. O título do documento inclui uma imagem pueril de uma seta para baixo, invertendo a seta para cima da AfD. Causa espécie que o ZdJ nem uma vez sequer escreveu neste documento o nome do partido por extenso, somente "AfD", as iniciais, como se mencionar o nome completo manchasse o instrumento.
Imagem Pueril. |
Um dia depois, a organização Judeus na AfD (Juden in der AfD, JAfD) respondeu a esta violenta crítica. Ela começou observando que o ZdJ recebe quase todos os recursos de seu orçamento anual de €13 milhões do governo, de modo que, é óbvio, que siga a linha do governo. Ela também observa que "somente organizações judaicas (alemãs) financiadas pelo Estado participaram deste chamamento. Órgãos judeus independentes, como o jornal mensal Jüdische Rundschau e associações judaicas conservadoras, como a Chabad Alemanha, não estão representadas."
As coisas só pioram. O Conselho Central dos Judeus, observa Chaim Noll, escritor germano-israelense, "é uma instituição única que não existe em outros países e também é desconhecida no judaísmo. É uma das instituições estatais financiadas pelo governo federal, ela administra os judeus do país... O fato dos judeus estarem sujeitos às vontades do governo é a tragédia específica dos judeus na Alemanha, em outros países as comunidades judaicas são autônomas."Um dia depois, a organização Judeus na AfD (Juden in der AfD, JAfD) respondeu a esta violenta crítica. Ela começou observando que o ZdJ recebe quase todos os recursos de seu orçamento anual de €13 milhões do governo, de modo que, é óbvio, que siga a linha do governo. Ela também observa que "somente organizações judaicas (alemãs) financiadas pelo Estado participaram deste chamamento. Órgãos judeus independentes, como o jornal mensal Jüdische Rundschau e associações judaicas conservadoras, como a Chabad Alemanha, não estão representadas."
Quanto ao conteúdo, o JAfD argumenta corretamente que "a AfD fez mais para proteger a vida judaica do que qualquer outro partido do Bundestag alemão." Trocando em miúdos, ela iniciou antes de qualquer outro e com sucesso o banimento do Hisbolá e do movimento BDS e está empenhada em cortar a verba da UNRWA e abolir os requisitos de rotulagem de produtos judaicos provenientes da Cisjordânia.
Eu testemunhei isso pessoalmente quando estive no Bundestag em 14 de março de 2019, quando houve uma votação instando o governo alemão a votar em favor de Israel nas Nações Unidas. Os membros da AfD votaram 89% a favor da moção, cerca de 350 vezes mais do que ¼ de 1% dos partidos da base governista.
Esta troca de farpas ilustra a verdade nua e crua em relação aos melancólicos líderes judeus da Europa: em dívida com o establishment, eles sacrificam a maior parte de suas inclinações sionistas para permanecerem nas graças da classe governante. (Para obter mais informações sobre este padrão, acesse meu artigo "Judeus Europeus versus Israel.") Eles se curvam tão avidamente perante o governo que até convenceram o atual embaixador de Israel na Alemanha, Jeremy Issacharoff, a quebrar o protocolo diplomático, atacar abertamente a AfD e defender os partidos anti-Israel da Alemanha.
Ao fim e ao cabo, no entanto, a prosternada liderança judaica da Europa se verá isolada de seus próprios eleitores e enfrentará a oposição do povo e do Governo de Israel, que mais dia menos dia reconhecerão seus verdadeiros amigos na política alemã. O AfD está longe de ser perfeito, mas se encaixa muito bem nessa exposição.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. © 2021 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
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