"No decorrer dos nos últimos trinta anos, um número crescente de muçulmanos vem abraçando a fé em Jesus Cristo, particularmente nos últimos sete a dez anos, se comparado com qualquer outro período da história", escreveu Joel Rosenberg em 2008 e a velocidade vem aumentando desde então. Uwe Siemon-Netto confirmou em 2016 que "um fenômeno global está em andamento: os muçulmanos estão se convertendo em massa para várias vertentes cristãs nos quatro cantos da terra." Na realidade, os missionários cristãos até cunharam um nome e uma sigla para o acontecimento: Muslim-background believers, MBBs.
Qual a causa desta propensão, quantos são e quais as consequências?
Background
Historicamente, praticamente todas as conversões se deram com cristãos que viraram muçulmanos, não vice-versa. O Islã tem sido por 1.400 anos o "Hotel California" das religiões ("você pode fazer o check-out a qualquer hora, mas jamais pode sair"), pois ela proíbe os praticantes de se declararem ateus ou filiados a outra religião, o que do ponto de vista islâmico é a mesma coisa. Esta postura remonta às origens da religião, (os hádices citam Maomé: "mate qualquer um que mudar de religião"), a acepção de deixar o Islã é a mesma que engrossar fileiras com o inimigo e, portanto, equivale à traição. Além disso, viver como verdadeiro muçulmano tem um poderoso aspecto social, significa participar da manutenção da solidariedade comunitária.
Mohammad Ali Taheri, fundador do Misticismo Interuniversal (Erfan-e Halghe), uma versão "nova era" do Islã fundada no Irã. |
Como resultado, no contexto histórico, muçulmanos que viraram cristãos representam apenas uma gota de água no oceano. Segundo um levantamento realizado pelo historiador de Igreja David Garrison, havia 5 movimentos de muçulmanos voltados para a conversão ao cristianismo antes do século XX e 69 só nos primeiros 12 anos do século XXI. Ao menos alguns dos 5 primordiais movimentos ocorreram sob coação ou por algum benefício específico. O mais proeminente foi o dos Moriscos na Espanha no século XVI, que foram pressionados a se converterem pelos soberanos católicos. Em raras ocasiões, comunidades inteiras se converteram por oportunismo, conforme expliquei anteriormente:
Na Rússia do século XVII, uma regulamentação proibindo não cristãos de possuírem servos levou à conversão de tártaros abastados, entre os quais se encontravam os ancestrais de celebridades como o músico Sergei Rachmaninoff, o poeta e historiador Nicholas Karamzin e o romancista Ivan Turgenev. Por volta de 1700, algumas famílias das elites governantes dos muçulmanos sunitas no Líbano se converteram ao cristianismo para elevar seu status político.
O domínio do Egito sobre a Síria de 1831 a 1841 ocorreu em um período de recrutamento em massa ao serviço militar obrigatório, quando "qualquer muçulmano sírio elegível foi recrutado para o exército egípcio". Yvette Talhamy explica:
isso não foi visto com bons olhos pela população local... Enquanto alguns sírios optaram por fugir do país ou se automutilar e driblar o alistamento, outros se voltaram para os missionários manifestando a disposição de abraçar o cristianismo, visto que os cristãos estavam isentos do alistamento em troca do pagamento de um imposto de isenção. Os missionários protestantes americanos receberam uma avalanche de pedidos para aceitar drusos e outros em sua igreja.
(Lamentavelmente para os convertidos, a manobra não deu certo, pois eles foram recrutados "independentemente de sua conversão ter sido real ou da boca pra fora".)
A mesma aversão vem se arrastando até recentemente. Ao visitar o Sudão em fevereiro de 1972, estive com um missionário americano que residiu em Cartum durante vinte anos, ensinando e conduzindo discretamente os cultos dominicais. No entanto ele conseguiu fisgar apenas cinco que se converteram em todo esse tempo, ou seja: um a cada quatro anos. Na mesma linha, no livro Ten Muslims Meet Christ, (Dez Muçulmanos Encontram Cristo) de 1984 um missionário americano conta a história dos parcos resultados da missão no Irã.
Número de Convertidos
É extremamente complicado quantificar o contingente de MBBs por conta do recatamento e até dissimulação de seus integrantes. Ainda assim, há algumas estimativas surpreendentes. Duane Alexander Miller e Patrick Johnstone calculam que a somatória dos MBBs em 2010 atinja quase 10 milhões, marcando a multiplicação por 50 em relação aos menos de 200 mil convertidos de cinquenta anos antes. Relatos de conversões generalizadas de muçulmanos ao cristianismo chegam de regiões tão díspares quanto Argélia, Albânia, Síria e Curdistão. Entre os países com o maior número de autóctones se encontram Argélia com 380 mil, Etiópia com 40 mil, Irã com 500 mil (contrastando com 500 em 1979), Nigéria com 600 mil e Indonésia com a espantosa cifra de 6.500 mil (devido a circunstâncias únicas). De acordo com Andrew van der Bijl e Al Janssen, há "até cristãos em Medina e Meca".
No Egito, recebo uma fonte copta me informando que "um grande número de muçulmanos se converteram ao cristianismo após o levante de 2011 e a alçada da Irmandade Muçulmana ao poder. A igreja copta chamou o presidente islamista Mohamed Morsi de 'grande evangelista' e parou de contar os convertidos. Entre em qualquer igreja, é praticamente certo que haverá praticantes ex-muçulmanos, especialmente mulheres."
Mais espantoso ainda, em uma badalada entrevista ocorrida em 2000 na TV Al Jazeera, o diretor da Companions' Lighthouse for the Science of Islamic Law (منارة الصحابة للعلوم الشرعية, Manarat as-Sahaba li'l-'Ulum ash-Shar'iya), Ahmad al-Qat'ani, da Líbia, declarou sem nenhuma evidência, que seis milhões de muçulmanos se convertem para o cristianismo a cada ano. Ele afirmou que a população muçulmana da África, que perfazia metade de seus habitantes passou para apenas um terço, prevendo que o Islã poderia desaparecer da África Subsaariana. Talvez ele tenha exagerado, com o propósito de arrecadar fundos, mas os dados por ele apresentados tiveram enorme repercusão.
A Reverendíssima Dra. Guli Francis-Dehqani, Episcopisa Anglicana de Chelmsford, Inglaterra. |
A divergência e a insuficiência de dados sugerem que, embora ninguém saiba ao certo quantos muçulmanos se converteram ao cristianismo, o contingente é considerável. Os cristãos comemoram este fenômeno. Joel Rosenberg exalta que "a Igreja verdadeiramente ressuscita nas terras de seu nascimento".
Porque Muçulmanos se Tornam Cristãos
Duane Miller observa que "os convertidos ao cristianismo vindos do Islã muitas vezes se distanciam do Islã na mesma proporção em que são atraídos por Cristo ou pelo cristianismo". Dirigindo aqui o foco somente nos fatores que impulsionam os muçulmanos especificamente para o cristianismo, percebe-se que a lista é longa.
Sonhos e visões, principalmente sobre Jesus, arrebatam provavelmente um quarto dos MBBs. Mike Ansari, iraniano convertido, relata que, na realidade, muitas pessoas "estão tendo sonhos e visões de um homem que brilha, vestido de branco muito antes de falarmos sobre Jesus". Dabrina Bet Tamraz observa que os iranianos convertidos muitas vezes perguntam uns aos outros: "você viu o homem de túnica branca, você viu Jesus?" O líder de uma igreja presbiteriana no Paquistão descobriu que imãs afegãos viajavam centenas de quilômetros para estudarem a Bíblia com ele. Quando perguntado o que os levou a tal atitude, o pastor respondeu: "sonhos! Cristo apareceu no sonho e os instruiu a virem para cá para ouvirem a verdade". E no Colorado, o pastor George Naeem, que dá aulas pelo rádio e pela Internet no idioma árabe, conta que "praticamente todos (os alunos) vieram obedecendo os sonhos".
Michael Stollwerk (que não está tocando a trompa dos Alpes) |
na sequência, ouvi casos parecidos de um teólogo luterano, no Egito, segundo o qual imãs foram visitá-lo no meio da noite e entraram pela porta dos fundos, com os mesmos propósitos. Ouvi a história de um missionário católico que tinha trabalhado na Argélia, de um batista cujos visitantes apareceram de surpresa e disseram a ele que Cristo havia aparecido na frente deles em suas tendas na Arábia Saudita. Um padre anglicano relatou que centenas de mulheres persas que participavam de estudos bíblicos a portas fechadas em Teerã conforme instruções, viramCristo aparecer em seus sonhos. Em Berlim o pastor Gottfried Martens estimou que pelo menos dois terços dos que foram convertidos por ele, persas e afegãos seguiram as instruções de uma "figura de luz" que se identificou como sendo Jesus da Bíblia cristã e não o "Isa" do Alcorão.
Nabeel Qureshi integrante do MBB paquistanês, explicou esse corriqueiro padrão em relação ao Islã: "sonhos são o único meio pelo qual o muçulmano comum espera ouvir diretamente de Deus".
Muçulmanos de mente suficientemente aberta para lerem a Bíblia tendem a ficar impressionados com o contraste se a compararem ao Alcorão, em especial a ênfase ao amor. Wasef explica: "quando eles leem a Bíblia, ela os muda de imediato. É melhor do que qualquer conversa ou qualquer debate. Quando eu sento e converso com (muçulmanos), eu digo que vem da Bíblia."
Há uma sensação generalizada entre os muçulmanos, respaldada até mesmo por estudos de pesquisa patrocinados por muçulmanos, de que cristãos se comportam melhor do que muçulmanos, que eles se comportam, ironicamente, de modo mais islâmico. Em uma entrevista ocorrida em 2014 que teve mais de 400 mil acessos no YouTube, uma mulher coberta da cabeça aos pés que se identificou pelo nome de Shadya Sabir Hussein declarou publicamente na televisão egípcia que "odeia o Islã" e que planeja se converter ao cristianismo por conta de todos os assassinatos no quais participam muçulmanos. No Iraque um conceituado intelectual observou: "muitos de nossos jovens se converteram ao cristianismo depois de difamar o islamismo chamando a religião de terrorista". A crise argelina da década de 1990 teve um impacto semelhante: todas essas mortes em nome do Islã levaram muitos a declarar que o "cristianismo é vida, o islamismo é morte."
Por conta da sua brutalidade, o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), deu forças a essa tendência.Omar, um administrador de uma igreja protestante, testemunhou que "a maioria dos irmãos da igreja se converteu ou veio para a igreja em consequência do que o ISIS fez com eles e com as famílias deles". Em 2016 um mecânico chamado Jasim, foi encarcerado pelo ISIS durante seis meses por não conhecer o básico do Islã, período em que o ISIS o forçou a ler o Alcorão além de torturá-lo: "depois de testemunhar a brutalidade com meus próprios olhos, comecei a ficar cético quanto à minha crença." Ele então fez uma visita a uma igreja: "não demorei muito para descobrir que o cristianismo era a religião que eu estava procurando".
Problemas que envolvem paz e violência vivem despontando nas histórias dos convertidos. Mark Durie me detalha: "na minha experiência, muitos muçulmanos de países de maioria muçulmana estão bastante traumatizados e a paz interior é um tema recorrente". Mahmoud Alavi, ministro da inteligência do Irã, confirmou isso ao citar os motivos que levaram os convertidos a se converterem: "estamos procurando uma religião que possa nos proporcionar paz de espírito". Sadegh, agora Johannes, começou a duvidar de sua fé quanto estudava na universidade no Irã: "descobri que a história do Islã era totalmente diferente daquela que nos ensinaram na escola. Talvez, pensei, teria sido uma religião que começou com violência? Uma religião que começou com violência não pode levar as pessoas à liberdade e ao amor. Jesus Cristo disse 'quem usa a espada morrerá pela espada'. Isso realmente mexeu com a minha cabeça."
Interagir pessoalmente com cristãos que vivem corretamente faz toda a diferença nas histórias de conversão.Mohammad Eghtedarian ficou em companhia de um padre durante seis dias, abriu a oportunidade para o padre fazer a pergunta que mudou sua vida: "você tem paz e liberdade no Islã?"
Ainda há de se contar com as razões práticas que levam à conversão. O fato do Islã e dos muçulmanos estarem ficando para trás do resto do mundo leva alguns muçulmanos a desejarem progredir juntando-se assim ao cristianismo, com a sensação que assim se juntariam à vanguarda.
Ao fim e ao cabo, a conversão poderia ser empreendida com a expectativa de ganho material. O Daily Telegraph de Londres reporta que alguns "Cristãos de Arroz" no Líbano "dizem que se converteram para se beneficiar da generosa ajuda distribuída por sociedades beneficentes cristãs" e lembra a história de Ibrahim Ali, um sírio empobrecido a quem a Igreja Anglicana de Deus, de um subúrbio de Beirute, ofereceu "cama, duas refeições quentes por dia e uma pequena ajuda financeira, caso ele concordasse em participar de sessões semanais de estudo da Bíblia." Ali explica que se converteu por razões práticas, como outros tantos.
Observações
Padre Zakariya Botros. |
Segundo, as investidas dos missionários tradicionais ocidentais, como por exemplo educar e tratar de doentes, desempenham um papel surpreendentemente pequeno na sedução à conversão. Transmissões de rádio e TV, algumas delas financiadas e dirigidas pelo MBBs, as substituíram em grande medida, entre elas estão a Radio Monte Carlo, SAT-7 International, METV, High Adventure Ministries, Voice of Christ Media e Middle East Reformed Fellowship. Um jornal argelino explicou o papel dessas emissoras situadas na Cabília, região mais berbere (Amazigh) da Argélia:
Os fiéis com os quais tivemos a oportunidade de conversar confirmaram que aquela informação, na visão deles, desempenhava um importante papel na legitimação das doutrinas cristãs. A exemplo de Saïd, que confessou ouvir bastante a Rádio Monte Carlo, principalmente as badaladas transmissões em Amazigh. Em relação à Slimane, ele diz: "80% da motivação que me atraiu para o cristianismo veio da Rádio Monte Carlo". Há outras estações de rádio além desta, como a "Miracle Channel" (SAT-7), a maioria dos fiéis confirmou que ouve as estações que transmitem a mensagem cristã para o mundo inteiro.
As emissoras especificamente destinadas a determinado país, como Aghapy TV para o Egito ou a Elam Ministries, Iran Alive Ministries, Mohabat TV e Nejat TV para o Irã, também impactam substancialmente. Ansari explica o caso da Mohabat TV: "parece que cerca de 16 milhões de iranianos assistiram a um ou mais de nossos programas na TV via satélite e também em seus dispositivos móveis nos últimos 12 meses. Isto corresponde a grosso modo a cerca de 20% da população do Irã."
Terceiro, se os missionários estrangeiros forneceram a faísca inicial, o MBBs impulsionou grande parte da atual evangelização dos muçulmanos. O cristianismo se tornou dinâmico novamente entre os crentes em sua região originária.
Devotos de Araque
Há muçulmanos que fazem uso da conversão como manobra tática, especialmente como facilitador da emigração para o Ocidente. Said Deeb, pastor da Church of God, cita muçulmanos desesperados que lhe disseram o seguinte: "só quero ser batizado, acreditarei em qualquer um, só quero é sair daqui". A National Public Radio parafraseia Şebnem Köşer Akçapar, da Universidade Koç, em Istambul, que indica que "somente meia dúzia de gatos pingados dos refugiados se converteram de verdade. Outros estão usando a perseguição religiosa como forma de chegar ao Ocidente". Aiman Mazyek, presidente do Zentralrat der Muslime na Alemanha, reage com forte ceticismo em relação ao crescente número de muçulmanos convertidos para o cristianismo.
Uma vez no Ocidente, a conversão traz duas vantagens. Pode facilitar a permissão de permanecer no país, pois os governos (seja qual for a teórica neutralidade) às vezes favorecem os migrantes cristãos e torna a repatriação mais complicada porque coloca os migrantes em perigo de serem perseguidos ao voltarem para casa por terem abandonado o Islã. Conforme aponta Volker Kauder, líder da União Democrata Cristã: "uma vez que alguém renunciou ao islamismo, independentemente de ter se convertido genuinamente ou não ao cristianismo, ele pode ser processado por apostasia. Em se tratando de perseguição política, os que perseguem não estão nem aí se a conversão é genuína ou não."
Folhetos em persa e alemão nos bancos da Evangelisch-Lutherische Dreieinigkeitskirche em Berlim, setembro de 2016. © Daniel Pipes. |
De maneira geral, não se deve superestimar o contingente de fraudadores. Martens de Berlim observa que "no momento há realmente uma espécie de despertar cristão no Irã de dimensões consideráveis. As pessoas que vêm até nós já mantiveram contatos com igrejas no interior das residências e tiveram que fugir por causa disto".
Acusações dos Muçulmanos
Preocupado com "uma onda cristã", observa Joel Rosenberg, "os líderes muçulmanos estão ficando nervosos e furiosos". Eles chamam a atenção para os falsos fiéis e acusam todos os convertidos de mudarem de religião em benefício próprio, para obterem alguma vantagem, como financiamento, emprego ou visto. Isso tem a conveniente vantagem de desacreditar o MBBs e ao mesmo tempo se isentar de qualquer responsabilidade. Tais acusações são particularmente comuns em regiões como no norte do Iraque e na Argélia, onde os índices de conversões de curdos e berberes são extraordinariamente altas.
Logo após a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003, o secretário-geral da Liga Mundial Muçulmana, Abdullah al-Turki alertou que "organizações não muçulmanas" (ou seja: missionários cristãos) entraram no Iraque "para iniciar suas atividades sob o pretexto de oferecerem ajuda humanitária" e alertou sobre "os perigos que isso representa para os muçulmanos". Ahmed al-Shafie da Association of Muslim Scholars em Sulaymaniyah, Iraque, condenou um suposto secreto influxo de missionários cristãos: "condenamos veementemente este ato vergonhoso contra o Islã e contra os muçulmanos, que mostra que existem mãos ocultas com agendas estrangeiras (trabalhando) para destruir a sociedade deste país". Outra figura muçulmana em Sulaymaniyah repetiu a mesma acusação em 2007: "os missionários estão explorando a difícil situação econômica que esses jovens estão passando nessas regiões por estarem desempregados e um tanto deprimidos. Em alguns casos, os jovens querem ir para o exterior e a conversão ao cristianismo é uma maneira fácil de realizar seu sonho, pois podem dizer que estão sendo ameaçados e precisam de um porto seguro."
Mohamed Aissa do Ministério para Assuntos Religiosos da Argélia. |
Vivendo como Cristão
Conquistas do MBBs é meio caminho andado; convencê-los a permanecerem cristãos são outros quinhentos. Um estudo realizado por Julia Sianturi sobre os que voltaram para o Islã na Indonésia, observaram vários fatores que fomentam suas ações:
ao que tudo indica, o forte apego à família e as profundas raízes islâmicas são as principais razões da decisão de voltar ao Islã. A discriminação da comunidade ao redor e a divindade de Jesus poderiam ter alguma influência na tomada de decisão. E a decepção em relação à ética pastoral levanta uma preocupação devido aos seus efeitos na percepção do MBBs sobre a igreja e o cristianismo.
Essas dificuldades são tão grandes que Andrew van der Bijl e Al Janssen reconhecem que "pelo menos metade de todos os muçulmanos convertidos (ao cristianismo) retornam ao islamismo". Ao abordar a questão, Duane Miller escreveu um livro com ideias sobre como angariar um contingente sem precedentes de MBBs com "um novo e acolhedor lar".
Os convertidos que continuam cristãos enfrentam vários desafios alternativos:
1. Manter a conversão em modo confidencial em total sigilo e continuar com a aparência e os hábitos de muçulmano. Nelson observa que muitos continuam usando "as tradicionais vestes muçulmanas para se esquivar das consequências das conversões". Em alguns casos, eles até mantêm uma série de costumes e rituais islâmicos. Contudo isso significa sofrer de profunda solidão e fracasso moral. A pressão pode se tornar insuportável.
2. Anunciar a mudança de fé (ou confidenciar a um parente ou amigo próximo que, indignado, poderá trair a confiança do convertido) levaria o MBBs a ter seu mundo virado de ponta cabeça. Eles enfrentam uma implacável pressão, às vezes violenta da família, da sociedade e do governo, uma sensação de isolamento e perda de renda. Eles não podem deixar a identidade muçulmana. Eles podem ser tratados à força como doentes mentais. Quando só um dos cônjuges se converte, os casamentos podem ser desfeitos e o contato com os filhos perdido. Em países de maioria muçulmana, as autoridades normalmente se recusam a reconhecer conversões fora do Islã, fazendo de conta que os que se associaram ao MBBs continuem legalmente muçulmanos, as mulheres convertidas só podem se casar com muçulmanos conforme suas carteiras de identidade as registram como muçulmanas, ficam limitadas a se casarem com homens do MBBs. Ironicamente, cristãos natos evitam o MBBs e as igrejas estabelecidas os rejeitam, ficando com o pé atrás de serem acusadas de terem participado de suas conversões e punidas por isto. Conforme salientou um padre de forma cruel, os convertidos "precisam ficar calados em relação à sua fé em nosso Senhor senão todos nós sofreremos".
3. Mudar para outra cidade e começar uma vida nova como cristãos natos significa deixar a família para trás, iniciar novas relações sociais e ter uma vida tranquila, sempre com medo de ser reconhecido ou exposto.
4. Emigrar para países de maioria não muçulmana pode até parecer a solução ideal, mas não é. Além do estresse de começar do zero, geralmente com uma nova língua, a pressão islâmica poderá continuar implacavelmente mesmo lá. Alguns integrantes do MBBs continuam com medo de seus governos de origem e, assim, vivem em "uma atmosfera carregada de suspeitas avassaladoras". Um convertido observa que "talvez alguém dentro da igreja seja um deles". De modo que, "os refugiados têm o cuidado de manterem distância uns dos outros, jamais revelando informações sobre seus casos ou detalhes de suas vidas de outrora". As mulheres enfrentam problemas em especial. O Centro Europeu de Direito e Justiça observa que na França, "uma proporção significativa das mulheres convertidas é ameaçada a se casar à força, de ser enviada ao país de origem de seus pais ou marginalizada, enquanto não retornar ao Islã. Em casos raros, cada vez mais raros, os convertidos são linchados, até assassinados por islamistas." Assim, o medo e a solidão continuam.
Conclusão
Substanciais conversões voluntárias de muçulmanos para cristãos representam uma novidade histórica, que altera um venerável desequilíbrio, pelo qual o Islã quase sempre caçava crentes às custas do cristianismo. Essa reviravolta apresenta implicações potencialmente fortes de como os muçulmanos veem a si mesmos e a sua religião, a confiança tradicional decorrente de conversões unidirecionais não vale mais, alguma outra coisa a substituirá ou essa vulnerabilidade minará a confiança muçulmana? As implicações são profundas.
As conversões para o cristianismo, por sua vez, fazem parte de um abrangente distanciamento do islamismo, que inclui também a conversão para outras religiões (em especial para o zoroastrismo entre curdos e o hinduísmo entre os indianos, judaísmo e budismo também atraem convertidos), bem como a adoção do deísmo e do ateísmo. Juntas, essas tendências relacionadas representam um desdobramento raramente visto, porém significativo, que explica com riqueza de detalhes a negação da onda islamista notada em grande escala no último meio século. Na realidade, elas podem, em potencial, quebrar a onda.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. © 2021 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Atualização de 20 de novembro de 2021 : O Daily Telegraph (Londres) observa como os migrantes muçulmanos às vezes se tatuam com fotos na esperança de convencer as autoridades britânicas a não mandá-los de volta aos seus países de origem. Entre os tópicos mais comuns se encontram temas cristãos (Jesus, Virgem Maria, crucifixo), bem como temas ateus e gays.
Estas tatuagens "foram citadas mais de 20 vezes nos últimos cinco anos pelos que lutam para permanecer no Reino Unido". Nem sempre dá certo:
Em 2018, um juiz em Bradford condenou um iraniano de 25 anos que tinha tatuagens com motivos religiosos. A decisão considerou que a tatuagem não representava "um reflexo genuíno da fé do apelante". Segundo a sentença ele deveria ser enviado de volta ao Irã porque a tatuagem poderia ser removida, coberta ou então que ele poderia dizer a verdade às autoridades iranianas, "ou seja, que ele fingiu se converter ao cristianismo para reforçar seu pedido de proteção internacional".
Atualização de 21 de novembro de 2021: como exemplo pavoroso de fraude religiosa, acesse o caso de Emad Jamil Al Swealmeen documentado clicando em "O Terrorista de Liverpool e a Falsa Conversão Muçulmana ao Cristianismo."
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