Tímea Hajdú entrevista Daniel Pipes.
A normalização entre Israel e Arábia Saudita está prestes a acontecer?
A normalização das relações irá acontecer, mas o momento certo depende em grande medida da duração do governo do Rei Salman. Enquanto ele estiver no comando, a paz entre Israel e a Arábia Saudita não terá caráter oficial. Se ele não governar mais por motivo de renúncia ou morte, a paz provavelmente se tornará oficial. Este processo é bom para ambos os países. A resistência a ele dentro da Arábia Saudita é limitada. Se a paz for concluída, espero que se assemelhe aos Acordos de Abraham assinados com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein.
De uns anos para cá, a Arábia Saudita procurou montar uma nova imagem, mostrar uma cara mais moderna e mais amigável. Na realidade o que mudou?
As mudanças são paradoxais. Profundas transformações tomaram lugar no campo da cultura, posição da mulher e da religião, e esse processo está em andamento. Por outro lado, uma só pessoa controla cada vez mais o país. De modo que, modernização e crescente autocracia estão ocorrendo simultaneamente. Embora pareça contraditório, não é tão incomum assim, eventos dessa natureza ocorreram há 100 anos na Turquia e há 150 anos no Japão. Nos três casos, a modernização é levada adiante também por autocratas.
Veja o que aconteceu com Mohammad bin Salman quando ele resolveu permitir que as mulheres dirigissem automóveis. Uma mulher imediatamente sentou no banco do motorista e saiu dirigindo, e logo foi detida e jogada na prisão. Mas mesmo assim ela não tem o direito de decidir quando as mulheres serão autorizadas a dirigir veículos, apenas e tão somente MbS (Muhammad bin Salman) é quem decide isso.
Recentemente, os sauditas divulgaram extraoficialmente um plano próprio para solucionar o conflito israelense-palestino. (Ali Shihabi, pessoa de confiança do príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, publicou em 8 de junho uma proposta saudita.) Ela propunha fundir a Jordânia com os territórios palestinos, e formar o Reino Hachemita Palestino. Não houve quase nenhuma resposta. O que o senhor acha dessa ideia?
O plano efetivamente retornaria à situação pré-1967 em que a Jordânia controlava a Cisjordânia. Eu gosto do plano. Lamentavelmente não acho que os jordanianos também gostem. Eu visitei a Jordânia há alguns anos e conversei com muita gente. Salvo raríssimas exceções, eles disseram que agora a Cisjordânia era problema de Israel, e salientaram que tinham imensa satisfação por não ser mais problema deles.
Recentemente Joe Biden visitou Israel e durante a sua estada ele expressou apoio à "solução de dois estados", acrescentando que agora não é o momento adequado para a retomada das negociações. O que o senhor acha disso?
Ao que tudo indica a Administração Biden aprendeu com os erros do passado e prioriza as negociações entre israelenses e palestinos. Considero ser esta uma decisão inteligente, visto que as negociações, com certeza, não dariam em nada. Não há razão para acreditar que Mahmoud Abbas queira chegar a um acordo com Israel.
O que o senhor acha que poderia acabar com o conflito israelense-palestino?
Minha estratégia tem um nome, Projeto Israel Victory. Na qualidade de historiador, vejo que as guerras geralmente terminam quando um lado joga a toalha e, os conflitos continuam enquanto ambos os lados acreditam que podem vencer. É intuitivo. Os alemães levantaram a bandeira branca no final da Segunda Guerra Mundial, mas a Coreia do Norte, por exemplo, não. O sul americano desistiu em 1865, assim como a União Soviética.
De modo que, acabar um conflito exige que um lado diga: "tudo bem, entendo que não posso atingir meus objetivos, então desisto". Vejo isso como uma solução realista para o conflito israelense-palestino, um conflito no qual os palestinos perderam em todos os níveis. Eles carecem de poder militar e econômico, assim, chegou a hora deles desistirem.
Eu quero que Israel siga uma política que estimule os palestinos a aceitarem a realidade e desistam. Uma vez que aceitarem a realidade e a derrota, eles já poderão começar a construir a sua própria política, economia, sociedade e cultura. Cerca de 20% dos palestinos já aceitam Israel, a meta do Projeto Israel Victory é aumentar esse contingente para 40% e 60%.
Contudo, esta não é a política seguida pelos israelenses, dado que é mais fácil manter a calma. Não é com calma que Israel irá alcançar a vitória, no curto prazo a calma causa querelas e problemas. As instituições em geral evitam passos que criem problemas no curto prazo.
Mas o complicômetro é que o movimento pró-palestino virou uma parte importante do movimento global de justiça social.
Correto, os palestinos têm uma enorme rede de apoio ao redor do mundo, em especial na esquerda. Nenhuma causa nacionalista goza dessa magnitude de apoio. Esta é a principal razão do porquê dos palestinos não terem desistido, entre as outras se encontram aspectos da religião muçulmana e da política israelense.
Observe que os palestinos da Cisjordânia e de Gaza estão no centro da hostilidade contra Israel. Não se trata, por exemplo, das tensões Irã-Israel ou dos árabes que vivem em Israel.
Seu artigo de julho na revista American Spectator argumenta que a calorosa recepção dada aos refugiados ucranianos poderá gerar grandes consequências colaterais, já que os ativistas a apresentam como a nova norma e entendem que os ocidentais devem acolher todos os não ocidentais a exemplo dos ucranianos. O senhor já vê esse impacto tomando lugar?
Sim, desde que escrevi aquele artigo, declarações e eventos mostram que a campanha já começou. O argumento virá com força total, porque os céticos em relação à imigração dos não ocidentais ficaram na defensiva e sem saber o que fazer. O impacto será mais migração de não ocidentais para o Ocidente. Como sou um dos que não deseja um aumento da migração de não ocidentais, vejo nisso um sério perigo.
Eu defendi a ideia dos migrantes permanecerem em suas próprias zonas culturais. Nem todos têm que vir para o Ocidente. Os ucranianos devem ir para a Europa, os latino-americanos para a América Latina, os africanos para a África e assim por diante. Olhe para a África e observe a taxa que a população está crescendo, já tem o dobro da população da Europa e se calcula que a população triplique nos próximos 80 anos. A Europa simplesmente não tem como acomodar tantos africanos.
Há alguns anos, a migração já foi assunto que causou uma tremenda polêmica, mas isso já passou. Será que vai voltar?
Irá sim, especialmente com o novo formato, mencionado acima, os migrantes ilegais somalis e curdos deverão ser calorosamente acolhidos na Europa e na América do Norte, a exemplo dos refugiados ucranianos. Esta será a nova arma dos ativistas que promovem o multiculturalismo e as políticas pró-imigração.
A situação é análoga a do Islã político, outro assunto botado para escanteio?
Certo, após o 11 de setembro este tema ficou na boca do povo por cerca de 15 anos, depois praticamente desapareceu. Em parte, as pessoas ficaram entediadas com o assunto, em parte porque apareceram novos assuntos: China, Covid-19, Rússia, Ucrânia. No entanto, o problema persiste e mais cedo ou mais tarde outra crise irá estourar por conta da violência jihadista ou de um político islamista. Violenta ou não violentamente, o problema irá voltar.
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