A breve entrevista a seguir foi solicitada pela PressTV, à rede de TV iraniana. Na sequência, optou por não ir adiante, dizendo que "é demasiado pró-Israel". Não consigo imaginar o porquê.
PressTV: gostaríamos de saber a sua opinião sobre os confrontos no campo palestino de Ain Al-Hilweh no Líbano. Israel está alimentando as hostilidades e infiltrando terroristas e agentes do Mossad?
Daniel Pipes: as organizações palestinas têm uma longa história de luta entre si devido às diferenças de abordagem, métodos e personalidades, conforme foi demonstrado com clareza pela guerra civil em Gaza em 2007 entre a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas, que deixou um estimado de centenas de mortos. As agências israelenses, entre elas o Mossad, podem ter desempenhado um pequeno papel na exacerbação destes conflitos, mas não são responsáveis pelas hostilidades fundamentais. Elas, agências, não representam fatores importantes.
PressTV: por que Israel ataca recorrentemente partes do Líbano?
DP: por mais de cinquenta anos, desde 1969, para ser mais preciso, o governo de Israel tem tido muita dor de cabeça em lidar com inimigos estabelecidos no Líbano, anteriormente a OLP, o Hisbolá mais recentemente, porque sempre faltou ao país um forte governo central, capaz de controlar ou restringir grupos que intencionam atacar Israel. Frustrada, Jerusalém tentou repetidas vezes impor seu anseio por meio de ataques diretos. Tais ataques tiveram sucesso parcial, mas não resolveram o problema por muito tempo.
Combatentes da Fatah em Beirute, 1979. |
PressTV: considerando as graves diferenças políticas dentro de Israel, Netanyahu tem condições de lidar com grupos de resistência e o Hisbolá?
DP: tem sim, a enorme luta política pela reforma judicial não enfraqueceu significativamente os militares israelenses. Israel dispõe de centenas de milhares de soldados, a grande maioria se apresentará ao serviço militar se for convocada para lutar no Líbano. Via de regra, as autocracias são frágeis e as democracias são flexíveis.
PressTV: em caso de conflito entre Israel e os países da região, os Estados Unidos estará ao lado do governo de Netanyahu?
DP: sim, porque os únicos países que lutariam contra Israel seriam o Irã e as suas satrapias ou seja, Iraque, Síria e Líbano. Em caso de conflito o governo dos Estados Unidos estará ao lado de Israel.
PressTV: qual é o maior temor de Israel na região?
DP: que a República Islâmica do Irã adquira armas nucleares. Tal cenário terá implicações para o Estado Judeu que vão muito além da ameaça militar direta, pois provavelmente toda a região apaziguaria Teerã às custas de Jerusalém.
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