Manchete no L'Informale: "Mais parece meio fracasso"
L'Informale: o senhor poderia avaliar o acordo sobre os reféns entre Israel e o Hamas.
Daniel Pipes: por onde começar? 1. Benjamin Netanyahu ficou conhecido como especialista em contraterrorismo que reiteradamente insistiu que não se negocia com terroristas. 2. Israel tem uma história muito dolorosa de libertação de presos por serem uma ameaça à segurança nacional que posteriormente infligiram destruição ao país. Yahya Sinwar, o líder por trás do 7 de outubro é só o caso mais recente. 3. Israel aprovou uma lei em 2014 proibindo exatamente este tipo de troca; como é que isto é legal?
L'Informale: O acordo impedirá Israel de alcançar a vitória em Gaza?
DP: acho que sim. O governo emitiu um comunicado insistindo que "continuará com a guerra para... completar a eliminação do Hamas e garantir que não haverá mais nenhuma nova ameaça ao Estado de Israel vinda de Gaza", mas acredito que se trata de palavras vazias. Além do acordo sobre os reféns, Israel voltou a fornecer água, combustível e alimentos à Gaza. Parece uma volta ao 7 outubro só que com maior destruição em Gaza.
L'Informale: Alex Nachumson escreve que "libertar os reféns israelenses, brutalmente arrancados de suas casas, deveria ser o primordial objetivo das operações. Contudo... é mais provável que os reféns sejam libertados quando o Hamas sentir que o tempo está se esgotando, quando sentirem que a água está batendo na b***a deles." Concorda?
DP: concordo. Mas, mais primordialmente, não se pode travar uma guerra se as famílias dos reféns estiverem no interior do centro de comando de guerra e tiverem um papel considerável na determinação da estratégia.
L'Informale: o Catar vem desempenhando um papel importante na intermediação do acordo tanto como financiador do islamismo e também como mediador entre terroristas e democracias. Sua opinião?
DP: na década de 1980, Hafiz al-Asad, ditador da Síria, fez o joguinho do morde e assopra, ele apoiou os grupos que capturaram americanos e outros reféns e depois os libertaram com toda pompa, e foi amplamente aclamado. Tamim bin Hamad Al Thani, do Catar, agora requentou esse papel, não com menos habilidade.
Todos sorrindo: Tamim bin Hamad Al Thani do Catar e o líder do Hamas Ismail Haniya em Doha em dezembro de 2019. |
L'Informale: o governo dos EUA, ao que tudo indica, tentou orientar a resposta de Israel já desde o dia 7 outubro. Será que realmente foi isso?
DP: foi sim, bem assim mesmo. Retrospectivamente, o forte apoio de Joe Biden a Israel parece tanto uma verdadeira resposta emocional como também um esforço para ter influência sobre o governo.
L'Informale: até que ponto a política externa de Israel é influenciada pelas expectativas de Washington?
DP: a influência de Washington varia. Via de regra, ela aumenta em tempos de boas relações e diminui em tempos de relações mais turbulentas. É por isso que prefiro as relações não tão boas. É assim que Israel comete menos erros sob a pressão americana.
Sem sorrisos: Obama e Netanyahu não gostavam um do outro, e isto beneficiou Israel. |
L'Informale: em um recente artigo seu intitulado "Israel Has Quickly Reverted to Its Bad Old Policies"; Por que então?
DP: pela mesma razão que os palestinianos invariavelmente revertem às suas más políticas: porque poderosas mentalidades históricas engessaram ambos os lados. Por mais disfuncionais que sejam, as mesmas atitudes e reflexos vêm à tona ad nauseum: o rejeicionismo palestino e a atitude conciliatória dos israelenses. Logo após o 7 de outubro, parecia que os israelenses tinham rompido a atitude conciliatória; agora vemos que não foi esse o caso, pelo menos entre os políticos e os órgãos de segurança.
L'Informale: Por que Israel nunca alcançou a vitória contra os inimigos palestinos?
DP: porque nunca tentou. Israel derrotou com sucesso os países árabes inimigos, Egito, Jordânia e Síria em particular, mas desistiu de exercer a sua vantagem contra os palestinos. Vamos lembrar 1982, quando Israel desistiu de matar Iasser Arafat. Ou 1993, quando o país deu a ele o controle sobre o território adjacente. Ou em 2005, quando se retirou unilateralmente de Gaza.
L'Informale: Como irá terminar a guerra de Israel contra o Hamas: um fracasso, um meio fracasso ou uma vitória?
DP: um meio fracasso parece o mais provável. Quem sabe a insatisfação popular com a guerra contra o Hamas conduza então a uma raiva que provoque uma mudança que acabe com a histórica mentalidade israelense de conciliação.
Tópicos Relacionados:Conflito Árabe-israelense e DIplimacia