"Será que um observador perspicaz com os olhos voltados para a Palestina em meados do Século XIX poderia detectar indícios sobre as futuras batalhas entre judeus e árabes sobre aquele território? Parece improvável. O fato é que nenhum dos observadores da época previu o conflito que estava por vir." Com esta frase Dowty, professor emérito de relações internacionais e ciência política da Universidade de Notre Dame, começa o seu livro e prepara o cenário. Por que não dava para imaginar o futuro sombrio, o que mudou ao longo do tempo?
Passo a passo, estudo meticuloso e clara exposição, Dowty mostra como problemas locais sobre pastagem e direitos à água viraram confrontos envolvendo conscientização nacional, como "homens másculos" que evitavam o uso de armas de fogo se transformaram em milícias organizadas. De maneira convincente ele conclui que "é difícil ver como o conflito poderia evoluir de forma muito diferente" do que na realidade ocorreu, dada a atitude muçulmana em relação a estes imigrantes e a aspiração sionista de deixarem a diáspora para trás e viverem como atores independentes.
Qualquer um que acompanhar os noticiários ficará impactado com a gradativa continuidade remontando em cerca de um século e meio, até as origens do sionismo. Assim como os agricultores muçulmanos locais daquela época injustificadamente atacaram as terras cultivadas dos sionistas, o Hamas e a Jihad Islâmica atacam hoje os israelenses. Assim como os sionistas de então responderam com uma mistura de violência e esperança de que benefícios materiais iriam acalmar os ânimos, o governo de Israel também responde hoje. Na mesma linha, cada lado conta com um poderoso padrinho, então o Império Otomano e cônsules estrangeiros, respectivamente, agora Irã e Estados Unidos.
Com efeito, a narrativa de Dowty prova de maneira correta e impressionante o famoso insight do geógrafo americano Wilbur Zelinsky segundo o qual "sempre que um território desocupado passa por um assentamento ou quando uma população é desalojada por invasores, as características específicas do primeiro grupo para viabilizar uma sociedade "auto-perpétua" viável são de crucial importância para a vindoura geografia social e cultural da região."
O excelente estudo de Dowty faz com que este leitor se perguntasse o que seria necessário para mudar a "geografia social e cultural" posterior; é possível que os israelenses ultrapassem estas já arcaicas "características específicas", a melhora nas condições de vida da população e punição e, desenvolver políticas mais adequadas em relação aos palestinos?
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