Há um denominador comum que mostra um caminho para fazer acontecer.
Chegou a hora de implementar a solução de dois estados, ou seja: reconhecer a semisoberana Autoridade Nacional Palestina (ANP) como estado, "Palestina," ao lado de Israel?
Netanyahu (D) e Biden se davam bem no passado. |
O presidente Biden diz sim, "a única e real solução é a solução de dois estados" e 19 senadores Democratas pedem "dois estados para dois povos." O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu diz não, "Israel continuará se opondo ao reconhecimento unilateral de um estado palestino" e os Republicanos, nas palavras do The Washington Post, "abraçam Netanyahu com mais força ainda." Este embate, a olhos vistos, ameaça prejudicar os interesses dos dois países. Felizmente há um denominador comum que mostra um caminho para fazer acontecer. Este consiste de dois componentes:
Primeiro, o governo dos Estados Unidos e o governo de Israel aceitaram, "em princípio" um estado palestino. O presidente George W. Bush aceitou em 2002 e o próprio Netanyahu também aceitou em 2009. Há de se admitir, Netanyahu subsequentemente mudou de ideia, mas o mundo não irá deixá-lo voltar atrás de uma decisão que já são favas contadas por 15 anos. Tentar voltar atrás neste acerto é dar murro em ponta de faca.
A Orquestra da Palestina era uma instituição judaica entre 1936 e 1937. |
À frente deste acerto, um eventual estado palestino se tornou inevitável. Verdade, um século atrás, "palestinos" significava judeus, não árabes, mas árabes palestinos constituem hoje um povo. Fazer de conta que não é assim cheira futilidade. É verdade também que restabelecer o governo jordaniano e egípcio na Cisjordânia e em Gaza de 60 anos atrás é uma alternativa bem mais atraente do que uma solução de dois estados, mas tanto Amã como Cairo recusam veementemente esta ideia. Ao governar todos estes territórios, Israel arrasta um dos conflitos mais abomináveis e duradouros do planeta. De modo que, que seja a Palestina.
Mas que tipo de Palestina? Há outra área de convergência entre Washington e Jerusalém. Cada um aceita a ideia sob a condição de um completo remanejamento da conduta palestina. Cada um postulou três pré-requisitos. Bush apresentou "as condições para o apoio americano para a criação de um estado palestino: se os palestinos abraçarem a democracia, enfrentarem a corrupção e rejeitarem firmemente o terrorismo." Netanyahu detalhou as condições israelenses: "garantias quanto a desmilitarização e as suas necessidades de segurança," e o reconhecimento de Israel "como o estado do povo judeu."
Juntas, estas demandas, que permanecem centrais hoje da mesma maneira de quando foram expressas pela primeira vez, requerem a transformação das atitudes e ações dos palestinos. (Não obstante, elas continuam sendo parciais, outras demandas deveriam ser incluídas, o fim da vilificação de Israel pelos palestinos, reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel e a plena normalização de relações.)
Lamentavelmente, estas seis condições virtualmente desapareceram da memória coletiva. Ao esquecê-las, os Estados Unidos e Israel se envolvem numa inútil discórdia "sim ou não para a Palestina?". Com elas, os dois governos poderão se engajar no pragmático e construtivo debate "a ANP atendeu os pré-requisitos?".
A ANP que faz 30 anos no mês que vem, conta com um extenso histórico a ser julgado. A seguir uma breve avaliação sobre cada um dos seis requisitos EUA-Israel:
- Estabelecer a democracia: Mahmoud Abbas, líder da ANP já no vigésimo ano de seu mandato de quatro anos, não quer nem ouvir falar em convocar as viciadas eleições típicas de tiranos que fazem de conta que são democráticos.
- Reduzir a corrupção: Ghaith al-Omari, ex-assessor de Abbas, constata que "impressionantes 87% dos palestinos na Cisjordânia e em Gaza acreditam que a ANP é corrupta."
- Rejeitar o terrorismo: a ANP euforicamente festeja o assassinato de israelenses. Por exemplo, um sermão transmitido pela tv declarou que "todas as armas devem ter como alvo os judeus." o sermão também se vangloriou de seu papel em relação ao 7 de outubro.
- Desmilitarizar: a ANP conta com mais de 83 mil seguranças que consomem um terço do seu orçamento, fazendo dela (juntamente com o Hamas) a sociedade mais militarizada do mundo. (Somente a Coreia do Norte se equipara a esta porcentagem.)
- Garantir as necessidades de segurança de Israel: no ano passado a ANP endossou a intensão de "explodir todas as cidades da entidade sionista."
- Reconhecer Israel como estado judeu: Abbas não quer nem ouvir falar nisso, achincalhando os israelenses: "vocês podem se chamar como quiserem, mas eu não vou aceitar."
Conforme a ANP não cumpre nem uma das condições conjuntas EUA-Israel, Washington e Jerusalém se veem diante de enormes obstáculos. Está na hora de acabar com as picuinhas que não levam a nada e dirigir o foco em convencer Abbas e o seu regime a cumprirem aqueles requisitos sensatos, como por exemplo, reduzir a hipermilitarização da ANP. Assim sendo, a seguir alguns humildes conselhos para cada um dos lados.
Vitória de Israel: o livro How Zionists Win Acceptance and Palestinians Get Liberated será publicado em junho de 2024. |
Jerusalém: pare de brigar por algo que vocês já aceitaram. Dirija a atenção Biden às seis condições não cumpridas. Insista que elas sejam cumpridas a seu contento, e não a contento dos americanos.
Washington: pare de ignorar que a ANP não satisfez nem um dos requisitos. Coloque o ônus da mudança sobre os palestinos. Demande que eles provem serem dignos de terem um estado soberano.
E como os palestinos poderão ser pressionados a fazerem aquelas mudanças? Por meio do que eu chamo de Vitória de Israel: convencê-los que eles perderam a longa luta contra Israel e que finalmente chegou a hora deles se conciliarem com o estado judeu. Mais especificamente, isto significa que Israel acabe com o regime de duas organizações abomináveis, a ANP e o Hamas, a primeira por penúria financeira e a outra através da destruição, ora em andamento em Gaza. A partir daí, Israel começa a fortalecer aqueles palestinos dispostos a viver em harmonia com o país, ajudando-os financeiramente, dando-lhes voz ativa, incluindo-os na governança.
Daniel Pipes é o presidente do Middle East Forum e autor do livro Islamism vs. The West: 35 Years of Geopolitical Struggle (Wicked Son, 2023). © 2024 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.