Por quanto tempo eles irão dominar o Partido Republicano? O atual clima revolucionário não é natural para os conservadores e vai cair por terra. Eu dou ao MAGA mais uma década, e olhe lá.
O fiasco da sexta-feira, quando o presidente Trump ficou fazendo bullying e insultando o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi um dos piores incidentes diplomáticos da história dos Estados Unidos. Isso me deixa desconcertado como americano e também como conservador, e especialmente como alguém que, contrariado, votou em Trump nas eleições gerais de 2020 e 2024.
![]() O fiasco no Salão Oval em 28 de fevereiro de 2025. |
Votei em Donald Trump porque ele quer reverter os brandos controles de fronteira e desmantelar o estado administrativo (agências do poder executivo que escrevem, julgam e aplicam suas próprias leis), as progressistas instituições educacionais, as preferências raciais e ideologia de gênero "woke".
Mas em pouco mais de um mês Trump 2.0 me impeliu, conservador tradicional que sou, a concordar com os democratas em inúmeras questões-chave: que a Rússia começou a guerra contra a Ucrânia e que ela tem que ser derrotada, que os Estados Unidos precisam do livre comércio, uma forte aliança com a OTAN, leis antissuborno, liberdade de imprensa, judiciário independente e federalismo. Além disso, confio nas vacinas, desconfio das criptomoedas e respeito o resultado das eleições presidenciais de 2020.
Essas diferenças com o Partido Republicano me fizeram, duramte 48 anos um membro leal, mas agora um político independente. Como chegamos a este ponto?
A pessoa de Donald Trump não é a resposta: ele é o que é. Melhor dizendo, a causa está nos republicanos por escolhê-lo três vezes como seu líder., Como é que um partido historicamente sério, associado a salas de reuniões e clubes de campo, deixou de lado políticos tradicionais em favor de um outsider imoral, ganancioso, litigioso, egocêntrico, inconsistente, instintivo e vulgar?
Em suma: essa história começou em meados da turbulenta década de 1960, quando os radicais promoveram um quebra-quebra (Chicago, 1968), depois que os liberais foram muito para a esquerda (George McGovern) e se tornaram muito moles (reféns no Irã por 444 dias). Esses excessos e fraquezas estimularam a reação Morning-in-America liderada por Ronald Reagan, um sucesso retumbante conservador que levou os democratas a voltarem para o centro, adotar a Terceira Via e eleger Bill Clinton como presidente.
Sorrateiramente na aparente plácida década de 1990, no entanto, a revigorada esquerda repudiou esse centrismo e se preparou para ir a campo. A Batalha de Seattle serviu como sua espetacular festa de debutante no final de 1999. Aparentemente do nada, cerca de 40 mil manifestantes anti-Organização Mundial do Comércio entraram em choque com policiais e tomaram grande parte do centro de Seattle. Um ano depois, a eleição presidencial de 2000, absurdamente acirrada, inciou a raiva liberal contra George W. Bush (o que Charles Krauthammer chamou de "Síndrome da Disfunção Bush"). As duas presidências de Barack Obama confirmaram a virada para a esquerda dos democratas.
![]() A "Batalha de Seattle" no final de 1999, onde dezenas de milhares de ativistas de esquerda protestaram contra uma reunião da Organização Mundial do Comércio. |
A direita respondeu com insólita fúria, conforme manifestado pela primeira vez pelo movimento Tea Party. No fundo no fundo, o intelectual David Horowitz teceu críticas aos conservadores por eles serem cordiais demais e disse que outrora ele era "um ex-radical (enviado) aos conservadores para ensiná-los a serem rudes", ou seja, adotarem os métodos dos ativistas de esquerda. As derrotas nas urnas de dois candidatos republicanos, moderados "de doer", à presidência, o senador John McCain, do Arizona, em 2008, e o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, em 2012, alimentaram a frustração, abrindo caminho para o descomedido Trump.
Trump articulou excentricamente, a mistura de raiva, desprezo e radicalismo dos republicanos. Nas palavras do presidente da Câmara, Paul Ryan, Trump "ouviu uma voz neste país que ninguém mais ouviu". A base Make America Great Again passou a adorá-lo e considerá-lo um gênio do xadrez quadridimensional, seguindo-o aonde quer que ele fosse, não importa o quão rude ("Pegue-os"), pueril ("Little Marco"), corrupto ($Trump), falso ("pare com a robalheira"), perturbador (6 de janeiro de 2021), imperialista (Canadá, Groenlândia, Panamá, Gaza), sem princípios (metais ucranianos) ou nada conservador (estado inchado, enormes déficits). Os leais ao MAGA o aplaudiram por ele quebrar tabus, violar normas e enfurecer os opositores. Eles até se regozijaram quando ele foi condenado como criminoso.
De sua parte, Trump cresceu em seu papel de quase divindade, evoluindo de um amadorismo de um macaco solto numa loja de cristais para um homem forte, experiente, altamente qualificado e determinado. Frustrado com "o jogo do poder" durante a sua primeira administração, agora ele exige e recebe reverência à sua arrogante personalidade. Ele se refere a si mesmo como "rei" e flerta com um terceiro mandato inconstitucional. A tática da enxurrada de decretos de Trump sobrecarrega os opositores e abre caminho para que ele amealhe poderes sem precedentes na história dos Estados Unidos.
Este perigoso momento levanta questões sobre o futuro do conservadorismo raivoso. Eu acho que o MAGA irá longe demais, cortando orçamentos com motosserras em vez de bisturis e enfraquecendo os Estados Unidos internacionalmente. Sua radical agenda entrará em colapso com relativamente poucas realizações. Os conservadores olharão para trás em todo o interlúdio como um constrangimento de desordem, excesso e culto à personalidade.
Eu prevejo que a anormalidade e as falhas farão com que o clima revolucionário que agora domina o Partido Republicano se esfarele. O MAGA não durará mais uma década, após a qual as boas maneiras voltarão, juntamente com ética, constância, experiência e princípios.
Enquanto isso, o conservador que ora escreve continua sendo um independente resolutamente não afiliado.
Daniel Pipes trabalhou nas administrações republicanas de Ronald Reagan, George H.W. Bush e George W. Bush.
Atualização de 1º de março de 2025: eu quase que concordo com isso.
