[Daniel Pipes foi um dos onze participantes neste simpósio de contra-história. Seu ensaio leva o título de "Um benefício à segurança, um detrimento à atitude". Para ver os demais colaboradores, vá até http://www.philly.com/mld/inquirer/news/special_packages/sunday_review/12611856.htm. Para ver a lista de contribuintes, clique em http://www.philly.com/mld/inquirer/news/special_packages/sunday_review/12611857.htm]
Muitas coisas seriam diferentes se George W. Bush não tivesse tomado a decisão de invadir o Iraque.
Em alguns aspectos, a situação seria pior:
A população do Iraque ainda estaria sofrendo sob o jugo totalitário de Saddam Hussein. A economia precária, os carros-bomba e os conflitos étnicos que os iraquianos enfrentam atualmente são de longe males de menor gravidade se comparados à pobreza, à injustiça, à brutalidade e ao barbarismo que lhes determinava o destino entre 1970 e 2003.
A segurança da região estaria em risco. Saddam Hussein invadiu dois países (o Irã em 1980, o Kuwait em 1990) e lançou mísseis contra dois outros (Arábia Saudita e Israel); eram grandes as possibilidades de que ele voltasse a atacar, dessa vez, quem sabe, para interromper as rotas de petróleo do Golfo Pérsico. Além disso, ele patrocinava o terrorismo contra Israel e mantinha ligações com o regime facínora de Bashar al-Assad, da Síria.
A segurança dos Estados Unidos estaria ameaçada enquanto um megalomaníaco governasse o Iraque com os recursos para construir e a vontade de usar armas de destruição em massa. Saddam Hussein revelou tal disposição já em 1988, quando utilizou gases químicos inúmeras vezes, até mesmo contra o seu próprio povo (em um vilarejo nesse mesmo ano, matando 5 mil pessoas). Seus laços com a Al-Qaeda podem tê-lo decidido a cooperar com a organização para usar armas de destruição em massa contra os Estados Unidos.
Sob outros aspectos, porém, a situação poderia ser melhor se a guerra não tivesse acontecido:
As relações dos europeus com os Estados Unidos seriam mais satisfatórias hoje. Pesquisas e outros dados demonstram que a guerra do Iraque acirrou a hostilidade internacional contra os americanos como nunca desde 1945.
A guerra exacerbou as divergências entre os muçulmanos. Um poderoso processo de radicalização tornou-se visível não apenas na maioria dos países muçulmanos (Turquia, Jordânia e Paquistão são bons exemplos disso), mas também em países ocidentais (como o Reino Unido).
A política interna dos Estados Unidos seria menos irascível sem a guerra. A solidariedade que emergira do 9 de Setembro tinha-se dissipado antes que a guerra do Iraque começasse em março de 2003, mas a decisão de lhe dar início agravou as tensões, simbolizadas pela mordacidade evidente nas eleições presidenciais de 2004.
De maneira geral, os benefícios da guerra relacionam-se principalmente às questões de segurança, e os prejuízos, às de posicionamento. O mundo está mais seguro com Saddam à espera da sentença preso em uma cela, e também está mais dividido. A administração Bush prevaleceu militarmente, mas fracassou no plano político.
Feitas as contas, o saldo da guerra é mais positivo que negativo; a impopularidade e a acrimônia valem o preço de um governo que já não seja uma ameaça aos iraquianos e ao resto do mundo.