"Se eu fosse muçulmano eu lhe diria", disse Barack Obama, e eu acredito nele. Na realidade, ele é um cristão praticante, membro da Igreja União da Trindade de Cristo. Ele não é um muçulmano agora.
Mas ele já foi muçulmano alguma vez ou visto por outros como muçulmano? Mais precisamente, os muçulmanos poderiam considerá-lo um murtadd (apóstata), quer dizer, um muçulmano que se converteu para outra religião e portanto, alguém cujo sangue poder-se-ia derramar?
Barack Obama no Smoky Row Coffee Shop em Oskaloosa, Iowa. |
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Meu pai era do Quênia e muitas pessoas daquela aldeia eram muçulmanas. Ele não praticava o islamismo. A verdade é que ele não era muito religioso. Ele conheceu minha mãe. Minha mãe era uma cristã do Kansas, eles se casaram e depois se divorciaram. Eu fui criado pela minha mãe. Assim sendo, eu sempre fui cristão. A única conexão que eu tive com o Islã é a de que meu avô por parte de pai era daquele país. Porém eu nunca pratiquei o Islã. … Durante algum tempo, eu morei na Indonésia porque minha mãe lecionava lá. E este é um país muçulmano. E eu fui para a escola. Mas eu não fui praticante. Mas o que eu realmente acho, é que isso me dá a perspicácia de ver como este pessoal pensa e parte da minha maneira de pensar é que nós podemos criar uma relação melhor com o Oriente Médio e isso nos ajudaria a permanecer mais seguros se nós pudermos compreender como eles pensam sobre certos assuntos.
Estas declarações levantam duas perguntas: Qual é a verdadeira conexão de Obama com o Islã e quais implicações elas poderiam ter para uma presidência de Obama?
Obama já foi alguma vez muçulmano?
"Eu sempre fui cristão, disse Obama", focalizando na sua própria falta de prática no Islã como criança, para assim negar qualquer conexão com o Islã. Contudo os muçulmanos não vêem a prática como chave. Para eles, o fato dele ter nascido de uma linhagem de homens muçulmanos o faz muçulmano de nascença. Mais do que isso, todas as crianças nascidas com um nome árabe baseado na raiz trilateral H-S-N (Hussein, Hassan, e outros) pode ser considerado muçulmano, portanto eles entenderão que o nome completo de Obama, Barack Hussein Obama, é o suficiente para proclamá-lo muçulmano de nascença.
Mais ainda: como criança sua família e seus amigos consideravam-no muçulmano. Em "Obama Ridiculariza Alegação Sobre Escola Islâmica", Nedra Pickler da Associated Press escreveu no dia 24 de janeiro de 2007 que:
A mãe de Obama, divorciada do pai de Obama, casou-se com um homem da Indonésia chamado Lolo Soetoro e sua família se transferiu para lá de 1967-71. No início, Obama freqüentou a escola católica Fransiskus Assisis onde os documentos demonstram que ele se registrou como sendo muçulmano, a religião de seu padrasto. O documento requeria que todo estudante escolhesse uma das cinco religiões sancionadas pelo estado ao se matricular – a muçulmana, a hindu, a budista, a católica ou a protestante.
Questionado, o diretor de comunicações de Obama, Robert Gibbs respondeu a Pickler, indicando que:
ele não tinha certeza da razão pela qual o documento ter Obama listado como sendo muçulmano. "O Senador Obama nunca foi muçulmano".
Dois meses mais tarde, Paul Watson do Los Angeles Times (disponível on-line numa reimpressão do Baltimore Sun) informou que a campanha de Obama tinha se esquivado daquela declaração absoluta e ao invés disso emitiu uma outra mais sutil: "Obama nunca foi um muçulmano praticante". O Times analisou o assunto com mais profundidade e melhor informado sobre o seu interlúdio na Indonésia:
Seus ex-professores da igreja católica romana e muçulmana, junto com duas pessoas identificadas pelo professor de primeiro grau de Obama como amigos de infância, disseram que Obama foi registrado pela sua família como muçulmano em ambas as escolas que freqüentou. Aquele registro significa que durante o terceiro e quarto graus, Obama estudou o Islã durante duas horas por semana nas aulas de religião.
Seus amigos de infância dizem que Obama às vezes ia às orações de sexta-feira na mesquita daquela localidade. "Nós rezávamos, mas realmente não o fazíamos com muita seriedade, apenas seguíamos as ações das pessoas mais velhas da mesquita", disse Zulfin Adi. "Porém como crianças, nós amávamos encontrar nossos amigos e íamos juntos para a mesquita para brincar"…, a irmã mais nova de Obama, Maya Soetoro, fez uma declaração através da campanha que a família só "ia à mesquita para participar de grandes eventos comunitários", e não todas as sextas-feiras.
Recordando os tempos de Obama na Indonésia, a descrição do Times contém citações de que Obama "ia à mesquita" e que ele "era muçulmano".
Resumido, a evidência disponível indica que Obama nasceu muçulmano de pai muçulmano não-praticante e que durante alguns anos teve uma razoável educação muçulmana sob os cuidados do padrasto indonésio. Num determinado momento, ele se converteu ao Cristianismo. Parece falso afirmar, como o faz Obama: "eu sempre fui cristão" e "eu nunca pratiquei o Islamismo". A campanha parece ser ou ignorante ou falsa quando declara que "Obama nunca orou em uma mesquita".
Implicações da Conversão de Obama
Resumindo, a conversão de Obama para uma outra fé o torna um murtadd.
Dito isto, o castigo para a apostasia na infância é menos severa do que sua versão para adultos. Como mostra Robert Spencer, "de acordo com a lei islâmica um homem apóstata não será executado caso ele não tenha chegado à puberdade (cf. ‘Umdat al-Salik o8.2; Hidayah vol. II pág. 246). Outros, porém, mantém que ele deveria estar preso até que alcance a idade adulta e então seja ‘convidado' a aceitar o Islã, mas oficialmente a pena de morte para jovens apóstatas está fora de questão".
Do lado positivo, se Obama fosse proeminentemente acusado de apostasia, isso levantaria exclusivamente a questão do direito de um muçulmano de mudar religião, levando um tópico eternamente secundário, a se tornar primário e central, talvez para o grande futuro benefício daqueles muçulmanos que buscam se declararem ateus ou se converterem para outra religião.
Todavia, caso os muçulmanos vejam Obama como um murtadd, isso afetaria de forma significativa sua presidência? O único precedente a julgar essa questão é a de Carlos Saúl Menem, presidente de Argentina de 1989 a 1999. Filho de dois imigrantes sírios muçulmanos e marido de outra síria-argentina, Zulema Fátima Yoma, Menem se converteu ao Catolicismo Romano. Sua esposa disse publicamente que Menem largou o Islã por razões políticas—porque até 1994 a lei argentina exigia que o presidente fosse membro da Igreja. Do ponto de vista muçulmano, NYT de 8 de Jan. de 89, a conversão de Menem é pior do que a de Obama, por ter sido realizada quando ele já era adulto. No entanto, Menem não foi ameaçado ou de alguma outra forma teve que pagar qualquer preço pela sua troca de religião, até mesmo durante suas viagens para países de maioria-muçulmana, a Síria em particular.
Uma coisa é ser presidente da Argentina nos anos noventa, porém, outra coisa é ser presidente dos Estados Unidos em 2009. Poder-se-ia assumir que alguns Islâmicos o repudiariam como um murtadd e tentariam executá-lo. Entretanto, dada a bolha protetora que cerca um presidente americano, esta ameaça presumivelmente não faria muita diferença para que ele pudesse cumprir com suas obrigações.
Mais significativamente, de que maneira a maioria muçulmana reagiria a ele, ficaria furiosa com o que eles considerariam sua apostasia? Esta reação é uma real possibilidade, que poderia minar suas iniciativas para com o mundo muçulmano.