Seis anos antes do 11 de setembro, o americano Daniel Pipes, especialista em terrorismo islâmico, chamou a atenção do Ocidente para o crescimento do Islã radical. Hoje, Pipes diz que a guerra continua e que o maior desafio para o Ocidente não é o terrorismo com carros-bomba, mas o avanço dos ideais fundamentalistas, especialmente nos países ocidentais. Com um currículo que inclui quatro décadas de estudo sobre Oriente Médio e islamismo, doze livros e passagens pelos departamentos de Defesa e de Estado americanos, Pipes afirma que o mundo está em uma Quarta Guerra Mundial. Constantemente criticado por polêmicos artigos sobre a agenda islâmica e por seu trabalho de monitoramento do ensino sobre Oriente Médio nas universidades, o Campus Watch, Pipes concedeu a seguinte entrevista à repórter Denise Dweck:
Veja — O Brasil pode ser afetado pelo terrorismo?
Pipes — Não conheço a realidade brasileira a fundo, mas, pelo que sei, os ingredientes para o terrorismo estão no país. O principal deles é uma população muçulmana que escuta o Islã radical. Os terroristas são motivados por idéias. São diferentes de criminosos, movidos por dinheiro. Os terroristas se consideram oprimidos e querem atingir um objetivo. Para ser eficaz no contraterrorismo, é necessário entender as idéias que estão por trás dos ataques.
Veja — Que idéias são essas?
Pipes — O mundo já viu o crescimento de três idéias muito poderosas. Todas utópicas, com o objetivo de consertar o mundo. A primeira foi o fascismo. A segunda, o comunismo e a terceira, que vemos agora, é o islamismo radical. Os muçulmanos radicais querem impor sua lei islâmica ao mundo e, para isso, estão prontos para usar métodos brutais. Estamos em uma Quarta Guerra Mundial. Não sei como vamos chegar ao fim, mas os mesmos instrumentos usados na Segunda Guerra e na Guerra Fria precisam ser retomados — sejam eles militares, culturais ou econômicos.
Veja — O que se pode fazer?
Pipes — Primeiro, convencer os muçulmanos de que essa visão não terá sucesso. O ocidente não vai aceitar viver sob a lei islâmica. O segundo passo é dar força aos muçulmanos moderados. Eles podem mostrar que é possível viver em harmonia, sem estabelecer a lei islâmica para todos.
Veja — Como fazer isso nos países muçulmanos?
Pipes — Essa é uma guerra mundial, mas ela deve ser lutada principalmente no Ocidente. Não no Irã ou no Iraque. Nos países que têm uma população muçulmana, seja na Europa ou na América do Norte, há um padrão semelhante. Boa parte da população muçulmana desses países não gosta do local em que vive e exige mudanças. O Canadá é um bom exemplo. É um país que não tem uma política externa problemática em relação ao Iraque, como a Inglaterra, mas há muçulmanos que estão prontos para se engajar em atos violentos contra o país.
Veja — O que está em jogo?
Pipes — A questão é se vamos viver da forma que historicamente temos vivido ou se agora vamos aceitar a lei islâmica, que os muçulmanos nos empurram. Esse é um debate que pode definir a nossa civilização e que nunca se enfrentou no Ocidente. Nós temos nossos hábitos, e quando alguém vai morar nos Estados Unidos não precisa viver 100% como os americanos, mas não pode querer mudar os costumes do lugar. Isso, porém, é o que está ocorrendo.
Veja — O senhor pode dar algum exemplo?
Pipes — Um caso que ocorreu há dois anos e em que me envolvi diretamente é ilustrativo. No aeroporto de Minneapolis, nos Estados Unidos, muitos taxistas são muçulmanos. Ele decidiram que passageiros que carregavam bebida alcoólica não podiam andar em seus carros. Resultado: os passageiros com garrafas de uísque e vinho compradas no free shop aglomeravam-se na saída do terminal à espera de taxistas. A direção do aeroporto resolveu fazer duas filas: uma para os que aceitavam levar bebidas e outra para os que não aceitavam. Quando soube do caso, pensei: isso é a lei islâmica. Se começamos com álcool, para onde vamos depois? Mulheres e homens terão de andar separados até se casarem? Comecei uma campanha na internet e meus leitores enviaram e-mails à direção do aeroporto que acabou voltando atrás na decisão. É um fato pequeno, mas serve para chamar nossa atenção.