Edward W. Said da Universidade de Columbia está obcecado comigo há cerca de duas décadas. Não resta dúvida, fiz uma crítica muito negativa do Orientalismo em janeiro de 1979, logo após sua publicação ("Um projeto mal feito, fajuto e enganoso é uma desgraça e merece ser ignorado"), mas ele não consegue esquecer o caso.
A vingança começou em 1985, quando ele dedicou aproximadamente mil palavras ao meu livro, In the Path of God: Islam and Political Power "No Caminho de Deus: Islã e Poder Político" (New York: Basic, 1983) em uma enfadonha desaprovação intitulada "Orientalismo Reconsiderado". A seguir estão alguns dos insultos proferidos pelo erudito professor:
- Minha especialidade "está inteiramente a serviço, não do conhecimento e sim de um estado agressivo e intervencionista, os EUA, cujos interesses Pipes ajuda a definir".
- "intelectualmente uma generalização escandalosa"
- "O livro do Pipes corrobora, acredito, à única resiliência do Orientalismo, o isolamento dos desdobramentos intelectuais em qualquer campo que seja da cultura e da ultrapassada imperiosidade à medida que assevera e afirma sem dar importância à lógica ou à argumentação".
- "Embora Pipes faça reverência ao Orientalismo imperialista, ele não domina nem seu genuíno aprendizado nem sua pretensão de indiferença ao interesse próprio".
- "O livro, eu confesso, não é ciência, nem conhecimento, nem entendimento: é uma declaração de poder e uma reivindicação de uma relativa autoridade absoluta. É formada a partir do racismo e tecida de forma comparativamente aceitável para um público preparado, a priori, para ouvir as duras verdades.
- "Pipes se alinha obstinada e explicitamente com Orientalistas coloniais como Snouck Hurgronje e descaradamente com renegados pró-colonialistas como V.S. Naipaul, de modo que, do ninho das águias do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional, ele pode investigar e julgar o Islã ao seu bel prazer".
Em "Orientalismo Reexaminado" (título parecido, porém com outro conteúdo), Middle East Research and Information Project "Projeto de Pesquisa e Informações sobre o Oriente Médio", julho de 1987, Said repetiu os xingamentos, só que desta vez com um elogio as avessas. Perguntado sobre a receptividade de especialistas em relação aos seus argumentos, respondeu:
sim, acredito que podemos ver o começo de um novo tipo de erudição que o Orientalismo foi incapaz de desenvolver. Realmente, outra coisa seria a aceitação mais franca, por parte de muitas pessoas, dos estudos sobre o Oriente Médio, de que o campo é de natureza altamente politizada, portanto lugar de embates abertos. As pessoas tomam partido mais abertamente. As pessoas são conhecidas, em termos de trabalho de especialização em estudos sobre o Oriente Médio, de serem abertamente sionistas ou antissionistas, ou abertamente pró-imperialismo ou anti-imperialismo. O aparecimento de novos apologistas, como Daniel Pipes e Barry Rubin, tem tornado o debate mais aberto e consequentemente mais animado.
Em "The Middle East 'Peace Process': Misleading Images and Brutal Actualities", (O "Processo de Paz" do Oriente Médio: Imagens Enganosas e Realidade Violenta) The Nation, 16 de outubro, 1995, Said incluiu a mim em uma lista de pessoas que ele não gosta:
Muito do que Oslo II determina com tamanha desvantagem para os palestinos e, a longo prazo, também para os israelenses, foi desencadeado por Oslo I. Você jamais ficaria sabendo disso pelas opiniões de "especialistas" convencionais do Ocidente. A ideia subjacente predominante na maioria das análises, de autoridades duvidosas como Bernard Lewis, Judith Miller, Steven Emerson, Daniel Pipes, além de outras, é a de que os únicos obstáculos sérios para se alcançar a paz são o fundamentalismo islâmico e o terrorismo. Nesse particular os especialistas seguiram os políticos.
Em "A Devil Theory of Islam (Uma Teoria Diabólica do Islã)", a edição de 12 de agosto de 1996 do The Nation, Said me incluiu como um desses "especialistas" (ele colocou especialistas entre aspas) cujo objetivo é garantir que a
"ameaça" islâmica fique bem na frente de nossos olhos, para que seja mais fácil condenar o Islã pelo terror, despotismo e violência e, ao mesmo tempo assegurar consultorias lucrativas, frequentes aparições na TV e contratos para a publicação de livros. A ameaça islâmica é apresentada de tal forma para que pareça ser desproporcionalmente apavorante, dando apoio à tese (que é um interessante paralelo à paranóia do antissemitismo), de que há uma conspiração mundial por trás de cada explosão.
Agora, em uma série de entrevistas que Said chamou de Cultura e Resistência, ele se refere ao Campus Watch na página 177 conforme segue abaixo:
a situação nos campus foi instigada, ainda mais, por um Web site designado especificamente para denunciar acadêmicos que criticam Israel ou que pareçam apoiar os palestinos. É dirigido por alguém chamado Daniel Pipes, que basicamente não passa de um estudioso desempregado, de segunda categoria.
A categoria de estudioso a que eu pertenço é uma questão de opinião, agora, estar desempregado ou empregado já é uma questão de verificar a verdade do fato. Na realidade, acontece que eu estou muito bem empregado, tenho um escritório no 10º andar e um Formulário de Imposto W2 para prová-lo. Assim sendo, o professor de inglês e literatura comparativa da Universidade de Columbia entendeu mal os fatos, o que não causa nenhuma surpresa, já que a exatidão biográfica, mesmo se tratando de si mesmo, não tem sido o ponto forte de Edward Said.
Voltando ao que interessa: grupos de especialistas (como o Middle East Forum) apareceram nas últimas décadas como os principais protagonistas na formação de políticas públicas, o que tem frustrado o policiamento ideológico acadêmico. Funcionários das universidades lamentam estarmos "extremamente mal informados" e nos chamam de nomes nada lisonjeiros como "lobistas" ou até inventam que estamos desempregados. Contudo nós, grupos de especialistas, fornecemos análises atualizadas e frequentemente sensatas, de modo que nos dão atenção.
Além disso, é óbvio, o Campus Watch não está aí para denunciar "acadêmicos que criticam Israel ou que pareçam apoiar os palestinos". Mas pedir a Said que corrija isso seria pedir demais. 20 de junho de 2003
Atualização de 23 de junho de 2003: Ao escrever hoje em "Dignidade, Solidariedade e a Colônia Penal", Counterpunch "Contragolpe" (um trecho de The Politics of Anti-Semitism "A Política e Antissemitismo", publicado sob a direção de Alexander Cockburn e Jeffrey St. Clair), Said debate
a malévola campanha da mídia e do governo contra a sociedade, cultura, história e mentalidade árabes, que tem sido liderada por agentes de publicidade Neanderthais e Orientalistas como Bernard Lewis e Daniel Pipes, têm amedrontado muitos de nós fazendo-nos acreditar que os árabes realmente são povos subdesenvolvidos, incompetentes e amaldiçoados e que apesar de todos os fracassos da democracia e desenvolvimento, os árabes estão sozinhos no mundo por serem retardados, atrasados, não modernizados e profundamente reacionários.
A frase "agentes de publicidade Neanderthais e Orientalistas como Bernard Lewis e Daniel Pipes" evoca várias respostas:
(1) Será que isso é melhor do que a formulação "alguém chamado Daniel Pipes".
(2) É bom estar ao lado de Bernard Lewis, decano dos historiadores sobre o Oriente Médio.
(3) O quão esplêndido é ser chamado de Orientalista por alguém que transformou esse respeitável termo antigo em insulto.
(4) É tão lisonjeiro ser chamado de Orientalista, colocando a minha pessoa na grande tradição de Silvestre de Sacy, Edward Lane, Ignaz Goldziher e Max Müller.
(5) Tão gratificante é ver que Said foi reduzido a escrever para o lunático Website de esquerda como o Counterpunch.
Atualização de 2 de outubro de 2003: para visualizar um elogio terrivelmente assustador sobre Said, acesse Hamid Dabashi, seu colega de muitos títulos, cujos trechos eu escolhi hoje.
Atualização de 1º de março de 2007: Martin Kramer escreve (em uma análise no Commentary sobre Conhecimento Perigoso: Orientalismo e os Descontentes de Robert Irwin) que "hoje não há Orientalistas autodeclarados". Acho que ele perdeu a entrada desse weblog.
Atualização de 21 de dezembro de 2008: Eu não estava sozinho nos insultos de Said. Efraim Karsh e Rory Miller fornecem uma listagem de grande valia:
Said lançou ataques ad hominem contra importantes figuras intelectuais cujos enfoques sobre o Oriente Médio ele discorda. Para Said, Paul Johnson, renomado escritor britânico, é um "polemista político e social retrógrado" enquanto Daniel Pipes, fundador do Middle East Forum e publicador do Middle East Quarterly, um "Neanderthal". Bernard Lewis, eminente historiador de Princeton que desafiou o Orientalismo de Said no New York Review of Books, é culpado por "distorcer a verdade" com a "extraordinária capacidade de entender quase tudo errado". Said concluiu que o historiador poliglota "não sabe nada" sobre o mundo árabe. Segundo Said, o cientista político de Harvard, Samuel Huntington, autor do influente Choque as Civilizações, "não sabe nada sobre civilização, não sabe nada sobre história". Said escreveu com semelhante amargor em relação ao antropologista social Ernest Gellner e ao historiador do Oriente Médio, Elie Kedourie.