Diplomatas e jornalistas ocidentais apreciavam os julgamentos "teatrais" de Stalin, mas acabaram aprendendo a não aceitar os acontecimentos na União Soviética pelas suas aparências. Nos anos derradeiros da União Soviética, uma multidão que se pusesse a atacar uma embaixada, seria interpretada como tendo aprovação do estado.
Os demais autocratas empregam truques e ilusões semelhantes. De fato, frequentemente o melhor é trazer à memória a URSS quando se tenta entender as tiranias. Especificamente, foi o caso do ataque de uma turba em 9 de setembro contra a embaixada de Israel no Cairo.
Aparência: Os que tomaram parte tinham participado de uma demonstração realizada por manifestantes liberais/seculares na Praça Tahrir, portanto os liberais estavam por trás do ataque. Ou quem sabe os islamistas estavam por trás. Em todo caso, após alguma hesitação, o regime militar encabeçado por Mohamed Tantawi protegeu o pessoal da embaixada, solucionando o problema sem que houvesse vítimas, embora a própria embaixada tenha sido destruída. Conclusão: da mesma maneira que o Ocidente precisava de Mubarak, também precisa de Tantawi para defender-se dos islamistas.
A realidade: A título de informação, logo após um jovem egípcio ter escalado o edifício em que se encontrava a embaixada israelense, substituindo a bandeira de Israel pela do Egito em 21 de agosto de 2011, o governo reagiu comemorando o feito presenteando-o com um apartamento.
Captura de tela de arruaceiros armados saindo de veículos dos serviços de segurança a caminho para se juntarem a uma manifestação liberal/secular na Praça Tahrir, no Cairo, em 8 de setembro de 2011. |
Que jogada brilhante esta da liderança militar, atingindo com uma só tacada sete níveis de realizações.
- O caráter antisionista do ataque conquistou o apoio dos islamistas internos ao regime militar.
- Descreditou os manifestantes liberais.
- Permitiu que os militares derrotassem o seu rival interno, o primeiro-ministro, sugerida pela impressão da sua imediata renúncia, seguida pelo seu reticente retorno.
- Justificou a possibilidade da volta da lei marcial, mais abrangente do que a imposta por Sadat em 1981, conforme insinuou o ministro das informações Osama Heikal quando informou pela televisão que as autoridades iriam aplicar a lei de emergência em sua plenitude.
- Impôs pressão sobre Israel para que faça mais concessões ao Egito.
- Incrementou a reputação de Tantawi nos países Árabes/Muçulmanos.
- Fez lembrar ao Ocidente de que necessita de Tantawi para se defender dos islamistas.
Comentário: Essa pequena peça teatral confirma que os militares ainda governam o Egito, usando as conhecidas táticas de engodo, com os liberais e os islamistas no papel secundário que se encontram desde 1952.