A manchete parece uma paródia, mas na realidade é séria, trata-se do título de um artigo no New York Times assinado por Eric Schmitt. Veja alguns detalhes: John Kerry e Ahmet Davutoglu anunciaram hoje em uma reunião no Fórum Global para Combater o Terrorismo (GCTF)
a criação de um fundo de US$200 milhões (por um período de dez anos) para combater o extremismo violento, por meio do enfraquecimento da atração tanto ideológica quanto para recrutamento de jihadistas em regiões como a Somália, Iêmen e Paquistão. …
O novo fundo chamado de Global Fund for Community Engagement and Resilience, (Fundo Global para Envolvimento e Resiliência da Comunidade) irá, pela primeira vez, unir o financiamento de entidades governamentais e não governamentais para identificar organizações locais confiáveis, desenvolver, monitorar e avaliar programas e canalizar fundos para projetos locais e grupos-alvo e indivíduos vulneráveis a apelos de grupos terroristas. Segundo autoridades o projeto deverá entrar em operação em meados de 2014. …
Contribuições do fundo fornecerão treinamento vocacional para jovens vulneráveis ao recrutamento por organizações terroristas, currículos novos para escolas com o objetivo de lecionar tolerância e solução de problemas, Web sites e redes sociais para instruir os jovens sobre os perigos das ideologias extremistas violentas.
Então, Washington fará parceria com o governo da Turquia, sem dúvida a organização islamista mais importante do mundo depois da República Islâmica do Irã, para combater a radicalização da juventude muçulmana. Em outras palavras, dólares dos contribuintes americanos irão ajudar membros de uma ideologia extremista não violenta "sobre os perigos das ideologias extremistas violentas".
E para piorar ainda mais as coisas:
- O Fórum Global para Combater o Terrorismo, que foi inaugurado em Istambul pela Hillary Clinton e Davutoglu em junho de 2012, contava com 30 membros fundadores mas excluía Israel. ((Autoridades do Departamento de Estado sustentavam, obviamente, que isso na realidade, beneficiaria o estado judeu).
Hillary Clinton e Ahmet Davutoglu, sorrindo diante da obra realizada. |
- Recentemente Recep Tayyip Erdoğan, primeiro ministro da Turquia, evitou claramente condenar o ataque contra o shopping Center de Nairóbi que matou 67 pessoas entre civis e soldados.
- O governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), ao qual ele pertence, está apoiando jihadistas ligados a Al-Qaeda que estão combatendo o governo de Assad na Síria.
- Observe o nome totalmente eufemístico da nova organização "Fundo Global para Envolvimento e Resiliência da Comunidade". Como eu costumo dizer, não há como derrotar um inimigo se você nem ousa mencionar seu nome.
Tudo isso soa como uma afronta para mim. O tipo de coisa que combina com a genialidade da administração Obama. 27 de setembro de 2013
Atualização de 4 de outubro de 2013: Para visualizar uma análise mais detalhada na mesma linha desse enfoque, acesse, "The U.S. is Trusting Turkey to Battle Terrorism, But Here's Why That's a Huge Mistake (Os EUA Confiam que a Turquia Combaterá o Terrorismo. A Seguir o Porquê Disso Ser um Erro Enorme)" por Merve Tahiroglu. A primeira e a última sentença dizem o seguinte:
os EUA e a Turquia anunciaram a criação conjunta de um fundo "para combater o extremismo violento, por meio do enfraquecimento da atração tanto ideológica quanto para recrutamento de jihadistas em regiões como a Somália, Iêmen e Paquistão". Eles devem estar delirando por não colocar também a Turquia nessa lista. …
A Turquia precisa primeiro acabar com o seu próprio problema de radicalização, fechando as fronteiras para os extremistas. Além disso os EUA precisam reconhecer todos esses problemas, antes de irem em frente e gastarem US$2 milhões em um fundo administrado pela Turquia.
Atualização de 25 de setembro de 2014: A piada de mau gosto continua, segundo Jonathan Schanzer da Fundação para a Defesa das Democracias em "Apoiando a Turquia Enquanto Ela Apóia o Terror":
A política negligente de fronteira da Turquia possibilitou ao EIIS financiar e armar seus combates na Síria, as células do EIIS estão agora operando por toda a Turquia. A Turquia também ajudou o Irã, um estado que patrocina o terror, se esquiva das sanções ao custo considerável de bilhões de dólares só em 2012 e 2013. No entanto, nessa semana, a Turquia presidiu o Fórum Global Contra o Terrorismo em Nova Iorque.
Poderia até ser um artigo do The Onion, só que não é sátira. Lançado em 2011, após o fracasso de grupos multilaterais anteriores para deter o terrorismo, os 30 países que compõem o GCTF se tornaram eles próprios uma farsa, não somente pelo fato da Turquia ocupar a co-presidência juntamente com os Estados Unidos.
Ministro das Relações Exteriores Turco Mevlut Cavusoglu com o Secretário de Estado dos Estados Unidos John Kerry no Fórum Global da Força Tarefa Contra o Terrorismo em 23 de setembro. |
Schanzer mostra alguns detalhes:
igualmente absurdo, é o fato de fazerem parte do GCTF o Qatar, Arábia Saudita e Paquistão, que ajudam a financiar ou patrocinam, de alguma forma, o terrorismo. Qatar é onde fica o quartel-general do Hamas, já foi sede da embaixada do Talibã, além de financiar alguns das facções jihadistas mais letais na Síria. O Paquistão apadrinhou o Talibã e continua patrocinando islamistas no Afeganistão e na Índia. Os sauditas financiam instituições Wahhabi ao redor do mundo, "pré-recrutando" para o terror islamista. …
O fato de continuarmos a promover o GCTF revela falta de seriedade americana na luta contra o Estado Islâmico e outros grupos terroristas. Se fossemos sérios, não teríamos a Turquia como parceira.