Em sua recente visita à Europa, Daniel Pipes teve um encontro com o think tank Italia Atlantica em Roma. Especialista em Oriente Médio e islamismo, renomado internacionalmente, Daniel Pipes escreveu extensivamente sobre a emergência dos partidos de extrema-direita na Europa, os quais ele não considera uma ameaça e sim uma oportunidade para conter uma ameaça muito maior, a islamização das sociedades ocidentais.
![]() Mette Frederiksen, líder do Partido Social Democrata da Dinamarca. |
O que o senhor chama de civilizacionistas é comumente conhecido na Europa como partidos de extrema-direita, cujo denominador comum, segundo sua argumentação, é salvaguardar a civilização Ocidental da ameaça islamista. Eles são o único escudo contra a reviravolta civilizacional?
Não, não são os únicos. Outros como o Partido da Liberdade da Áustria e o Partido Social Democrata da Dinamarca, também têm plataformas semelhantes. Mas sem os partidos civilizacionistas, os outros partidos não serão instigados a se mexer. Nos lugares onde os partidos civilizacionistas são fracos demais, como no Reino Unido, onde o UKIP (Partido da Independência do Reino Unido) obteve meros 3% dos votos no mês passado, não há estímulo e a civilização Ocidental está menos protegida.
O Partido Liga já predomina no governo italiano, tendo conquistado 34% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu em maio de 2019, o que lhe proporciona o maior número de votos. A política imigratória é parte integral desse sucesso, como o senhor avalia essa política?
A política imigratória do Liga está focada nos migrantes ilegais sustentando dois componentes centrais: mantê-los fora da Itália e expulsar os que já se encontram no país. A redução em 97% dos ilegais vindos pelo mar constitui um tremendo sucesso que alavancou e muito a popularidade do Liga. Eu não encontrei dados confiáveis em relação ao número de ilegais que deixaram a Itália, mas fui informado que cerca de 350 mil dos 500 mil se encaminharam rumo norte para outras regiões da Europa. Em outras palavras, eles tomaram ciência de que não são bem-vindos na Itália. Se os dados estiverem corretos, eles apontam para uma façanha impressionante. Dito isso, será muito mais complicado expulsar o restante dos ilegais.
A Rússia nutre um bocado de simpatia entre alguns partidos europeus de extrema-direita, entre eles o Fidesz da Hungria, Partido da Liberdade da Áustria, Rassemblement National da França e o Liga, quais são os propósitos de Vladimir Putin e quais as consequências dessa conexão?
Putin apimenta o ceticismo civilizacionista em relação à Europa e também a dissidência que ele representa. Quanto aos civilizacionistas, eles tiram o chapéu a esse apoio, não raramente financeiro, justamente quando virtualmente todo o Establishment procura marginalizá-los. Faço votos que seja uma aliança passageira.
![]() Vladimir Putin dançando com Karin Kneissl, no casamento dela, escolhida para ser Ministra das Relações Exteriores do Partido da Liberdade da Áustria. |
O senhor concorda com Manfred Gerstenfeld que "nenhuma organização na Europa é páreo para o Partido Trabalhista britânico no tocante ao ódio antissemita"?
Concordo, salvo o Podemos da Espanha, que é ainda mais raivoso.
Muitos líderes judeus na Europa veem os partidos civilizacionistas como a principal causa do antissemitismo, muito embora a maioria desses partidos (em especial o Alternativa para a Alemanha e o Partido da Liberdade da Holanda) manifestem inequívoco e forte apoio a Israel. O que está acontecendo?
A angústia faz com que esses líderes judeus raciocinem dessa forma disparatada, vejam a título ilustrativo o que diz Orit Arfa sobre o incrível esforço do AfG (Alternativa para a Alemanha) para banir o Hisbolá. Os líderes judeus condenam os civilizacionistas em parte para continuarem a ter acesso a fundos do governo e em parte porque estão convencidos, equivocadamente, de que os civilizacionistas se assemelham ao fascismo dos anos de 1930.
![]() Sinagoga da Dohány Street de Budapeste, possível destino dos judeus da Europa Ocidental. (Imagem: Daniel Pipes) |
Os judeus da França estão sendo assassinados pelos islamistas simplesmente porque são judeus, lembremo-nos dos tiroteios de Toulouse e Montauban, o massacre no supermercado Kasher e os assassinatos de Ilan Halimi, Sarah Halimi e Mireille Knoll. Há futuro para os judeus na França?
Não, não há. Em parte devido à violência que você acabou de mencionar, mas também em consequência da marginalização resultante da discriminação da esquerda e dos islamistas. Curiosamente, os judeus agora procuram refúgio não só em terras distantes como Israel e Estados Unidos, mas também na Hungria.
![]() Robert Wistrich (1945-2015). |
Robert Wistrich escreveu em 2004 que o antissemitismo europeu contemporâneo "deu um salto exponencial em países como a França, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda, Bélgica e Suécia, onde as comunidades muçulmanas cresceram vertiginosamente nos últimos anos." Que medidas, se houver, podem ser tomadas para dar um basta a essa tendência?
A medida mais singela é impedir que islamistas entrem nesses países, algo sobre o qual eu me debrucei no contexto americano. Muito mais difícil é assegurar o controle sobre as distintas sociedades muçulmanas, como as zonas proibidas, escolas islâmicas, tribunais e comércio, além das atividades ilegais que vão da mutilação genital feminina (FGM) ao tráfico de drogas. Esse controle tem que ser consolidado não só para os judeus mas para toda civilização ocidental.
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