Com a habilidade de historiadores e estilo de escritores, Hoffman e Cole contam a incrível história do tesouro documental medieval descoberto nos anos de 1890, que mantém estudiosos ocupados por mais de um século.
Guenizá são manuscritos com letras hebraicas, por vezes não em hebraico, preservados por judeus ligados à tradição, por conta da santidade das letras. O verdadeiro conteúdo poderia ser religioso, literário, comercial ou pessoal. O tesouro descoberto na Sinagoga Ben Ezra em Fustat, perto de Cairo, contém 331.351 das obras datando já a partir de 870 d.C. estendendo-se por um milênio.
Os autores abordam o tópico alternando entre os estudiosos modernos e as revelações de Guenizá. Solomon Schechter, Jefim Hayyim Schirmann, Ezra Fleischer e S.D. Goitein escavaram e estudaram as obras, lembrando que o "lixo sagrado" revelou temas como livros apócrifos de Ben Sira, os caraítas, poesias de Andaluzia e a vida cotidiana no Egito medieval. Eles associam a evolução do foco na Guenizá, indo da minuciosa avaliação bíblica, passando pela poesia até a história.
Centenas de especialistas, empregando uma ampla gama de habilidades tanto linguísticas quanto disciplinares, agora também assessorados pelo magnífico Projeto Friedberg Genizah para inventariar e digitalizar toda a coleção, estudaram essa extraordinária coleção, esmiuçando esse imenso volume, usando cada tijolo para montar uma edificação intelectual única. Provavelmente não há nenhuma atividade do conhecimento com tantos detalhes, repleta de surpresas, única, singular e refinada como esta. Nas palavras de Fleischer, "O achado de Guenizá significa a conclusão espetacular de um cenário de tirar o fôlego, a perfeita, harmoniosa e inevitável união, que de repente parece revelada".
Não consegui parar de ler esse maravilhoso livro e recomendá-lo a todos.
Atualização de 27 de maio de 2013: O artigo "Rede de Computadores, Montando um Quebra Cabeças do Folclore Judaico", no New York Times explica como o projeto para computadores de Friedberg está, a uma velocidade de 4,5 trilhões de cálculos por segundo, tentando associar mais de 320.000 fragmentos de documentos de Guenizá. "Temos um documento em Cambridge, Inglaterra e outro em São Petersburgo, Rússia e ficamos imaginando se a caligrafia é a mesma", segundo Mark R. Cohen da Universidade de Princeton, explicando o método pré computador. O método novo é completamente diferente:
primeiro a montagem de um inventário computadorizado de 301.000 fragmentos, alguns do tamanho de uma polegada. Em seguida 450.000 fotografias de alta qualidade, em panos de fundo azuis, para realçar sinais visuais e um Web site onde os pesquisadores possam navegar, comparar e consultar milhares de citações bibliográficas de matérias publicadas.
A última experiência envolve mais de 100 computadores interligados, em uma sala no subsolo na Universidade de Tel-aviv, refrigerada por ventiladores de pé. Eles estão analisando 500 sinais visuais para cada um dos 157.514 fragmentos, a fim de checar um total de 12.405.251.341 de possíveis combinações. O processo teve início em 16 de maio e deverá estar concluído em 25 de junho, de acordo com uma estimativa do Web site do projeto.
E tem mais, a informatização permite inúmeras novas possibilidades:
outra tecnologia em desenvolvimento é o componente "quebra cabeças", com a tecnologia de tela sensível ao toque, que permite aos usuários ampliarem, girarem e inclinarem fragmentos para verificar se combinam. Professor Choueka, nascido no Cairo em 1936, imagina que brevemente esse tipo de tela estará disponível juntamente com cada coleção de Guenizá. E por que não um aplicativo de quebra-cabeças Guenizá para smartphones?
Segundo Ben Outhwaite, presidente do Genizah Research Unit na Universidade de Cambridge, onde se encontram 60% dos fragmentos "o que ele realmente permite é que pessoas de todos os estilos de vida, seja vida acadêmica ou não, possam vasculhar matérias ainda não publicadas". "Não teremos mais que aguardar alguns poucos nomes de destaque no mundo acadêmico reunirem partes específicas de Guenizá e esperar 20 anos até sua definitiva publicação. Agora qualquer um pode se aprofundar".
E também há uma citação de conteúdos de Guenizá:
o que eles descobrirão vai muito além de livros, objetos e peças de arte relacionadas ao judaísmo. Por exemplo, a equipe do Sr. Outhwaite, descobriu um pacto pré-nupcial em que Faiza bat Solomon fez com que seu noivo, Tobias, apelidado de "Filho de um Palhaço", prometesse "abandonar a tontice e a idiotice" e "não associar-se com corruptos" ou pagar uma pesada multa de 10 dinares de ouro. Outro documento esclarece detalhadamente um acordo legal entre Sitt I-Nasab e seu marido, Solomon, impedindo que sua mãe e suas irmãs entrassem em seus quartos ou que fizessem "algum tipo de pedido, nem mesmo um companheiro".
"O computador deverá concluir a tarefa em 25 de junho", segundo o Times of Israel, "dando talvez o maior salto no estudo de Guenizá em um século". O computador já conta com renome de sucesso:
a eficiência do software foi demonstrada no início do ano quando o pesquisador Stefan Reif de Cambridge, estava procurando um fragmento de velino, que correspondia a uma Hagadá da Páscoa Judaica do século XI, trazida para a universidade britânica em 1897. O projeto Guenizá israelense já estava nos estágios finais de aperfeiçoamento em seu programa de computador. Os pesquisadores usaram a imagem no novo software e encontraram imediatamente uma correspondência: um fragmento da mesma Hagadá se encontrava na biblioteca do Jewish Theological Seminary em Nova Iorque.
Para obter mais detalhes e para visualizar os documentos digitalizados, acesse genizah.org.