O debate em dezembro passado, quando Donald Trump defendeu "o total e completo encerramento da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos, até que os representantes do nosso país compreendam o que está acontecendo." A declaração provocou tamanha oposição que, a bem da verdade, Trump mudou de posição diversas vezes. Em que pé as coisas estão agora no tocante a esta questão extremamente controversa e o que nos aguarda caso ele seja eleito presidente?
A posição de Trump começou a evoluir em 14 de julho, quando ele defendeu o "exame exaustivo" dos imigrantes: "se uma pessoa não consegue provar que é de uma determinada região e, se uma pessoa não consegue provar o que ela deveria ter condições de provar, ela não poderá entrar neste país." Até aqui, nada em relação aos muçulmanos, apenas acerca de uma identificação mais rigorosa.
Em uma entrevista conjunta com o candidato republicano à vice-presidência Mike Pence em 17 de julho, Pence foi indagado a respeito da discrepância entre a sua condenação anterior em relação ao banimento proposto por Trump com respeito aos muçulmanos e a sua recém mudança de posição dando apoio àquele posicionamento. Mas antes que Pence pudesse responder, Trump o interrompeu: "então você chama isto de territórios. Ok, que seja territórios. Não deixaremos pessoas da Síria entrarem, pessoas que ninguém sabe quem são." Ele explicou a proibição da entrada de cidadãos, do que ele chamou de "estados terroristas e nações terroristas" de entrarem nos Estados Unidos.
Donald Trump e Mike Pence concedendo entrevista à Leslie Stahl da CBS News. |
Ao aceitar a indicação republicana em 21 de julho, Trump fez uma declaração mais precisa e articulada deste novo posicionamento: "nós temos que suspender de imediato a imigração de qualquer nação que esteja em situação comprometedora no tocante ao terrorismo até que os mecanismos de avaliação tenham cumprido o seu papel. Não os queremos em nosso país."
Em 24 de julho, Trump apontou duas dessas "nações terroristas": "eu estou falando de território em vez de muçulmano. Temos nações e daremos as devidas explicações... nas próximas semanas a respeito de uma série de países. É muito complicado. Temos problemas na Alemanha e temos problemas na França. Portanto, não se trata apenas de países com..." (parece que ele ia dizer "maioria muçulmana", mas foi interrompido e não terminou a sentença).
Passadas algumas semanas, em 15 de agosto, Trump não apontou quais seriam os países. Muito pelo contrário, ele defendeu "uma nova triagem": exclusão de todos aqueles que tenham "atitudes hostis em relação ao nosso país ou aos seus princípios – ou aqueles que acreditam que a Lei Islâmica (Sharia) deva suplantar a lei americana. Os que não aceitam nossa constituição ou que apoiam a intolerância e o ódio, não serão aceitos como candidatos à imigração ao país. Somente àqueles que desejam florescer em nosso país – e abraçar a tolerante sociedade americana – deverão ser emitidos vistos. " Ele novamente defendeu a suspensão temporária da imigração, mas desta vez "de algumas das regiões mais perigosas e voláteis do mundo que têm um histórico de exportação de terrorismo."
Essa miscelânea de inconsistências e contradições apontam para algumas conclusões.
Obviamente Trump não é nenhum expert em política e sim um amador apresentando suas ideias sob os mais intensos holofotes. Em outras palavras, ele responde às incessantes críticas até mesmo alterando fundamentalmente os pilares da sua política. Sem dúvida, Trump tem ido mais longe e em maio sinalizou com uma total flexibilidade: "vejam, tudo o eu que digo agora – eu não sou o Presidente – tudo é apenas uma sugestão." Com isso ele colocou os americanos de sobreaviso de que ele se reserva o direito de mudar de opinião sobre qualquer assunto a qualquer momento.
Islândia - origem da maioria dos estrangeiros que vem aos Estados Unidos? |
Em segundo lugar, sua mudança em proibir a entrada de muçulmanos para a proibição da entrada de cidadãos de países que estejam "comprometidos com o terrorismo" o desviou de uma política coerente, embora grotesca, para uma política que é evidentemente impraticável. Se tanto os alemães quanto os franceses não são bem-vindos por conta dos jihadistas que lá se encontram, quem poderá então entrar nos Estados Unidos? A fronteira estará fechada a todos, exceto para os cidadãos de países afortunados como a Islândia e a Costa Rica. Israel, "nosso maior aliado," deve estar perto do topo da lista de Trump dos proibidos de entrar.
A mudança mais recente faz sentido e é louvável; com efeito, ela segue de maneira muito satisfatória o meu conselho dado há oito meses, que sugeria a Trump "banir islamistas, não muçulmanos." Ele já não rejeita mais todos os muçulmanos; mas sim discernir amigos de inimigos, uma distinção crucial que na verdade pode ser alcançada dada a inteligência, tempo e recursos suficientes.
Esta sequência aponta que Trump é capaz de aprender – lenta e erraticamente, sem dúvida – com seus erros. Também indica que se ele for eleito presidente, ele teria um mandato para adotar praticamente qualquer política que lhe aprouvesse, baseado na ideia que "tudo é apenas uma sugestão."
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do the Middle East Forum. © 2016 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Adendo de 17 de agosto de 2016: para visualizar uma compilação de recentes citações de Trump quanto à limitação da imigração, clique aqui.