De Hamas x Fatah: A Luta pela Palestina
por Jonathan Schanzer
Palgrave Macmillan, 2008. 256 pág. US$ 26,95
As divisões entre os palestinos geralmente não recebem a devida atenção, aponta corretamente Jonathan Schanzer, na imensa cobertura acadêmica e jornalística do conflito árabe-israelense. Ao invés disto, o controle foi tomado por uma linha partidária inadequada, propagandística, representada legalmente. Citando Rashid Khalidi, um ex-funcionário da Organização para a Libertação da Palestina, agora lecionando na Columbia University, existe uma "identidade palestina uniforme". Os palestinos são uma unidade—ponto final, não se fala mais nisso.
Este entendimento simplista e anistórico domina amplamente a maneira pela qual os alheios vêem os palestinos, excluindo praticamente a outra, mais nuançada análise, além da linha partidária que aflige toda a história do conflito—o período anterior a 1948, o auge do pan-arabismo, o aparecimento da Organização para a Liberação da Palestina e especialmente o período de vinte anos, de 1987 a 2007, Schanzer estuda nas páginas seguintes. Sua colocação, "enquanto a maioria da mídia americana exagera a respeito da violência entre palestinos e israelenses, a "outra luta pela Palestina", que começou entre o Fatah e o Hamas, recebeu pouca ou nenhuma cobertura na América".
Muitas diferenças dividem os palestinos—muçulmanas e cristãs, urbanas e rurais, sedentárias e nômades, ricas e pobres e regionais—mas Schanzer, um historiador altamente talentoso do Oriente Médio moderno, demonstra aqui a natureza, extensão e significado de duas tensões intra-palestinas específicas: primeiramente a luta entre o Fatah e o Hamas, qual tem a mais aguda e imediata importância política, e em segundo lugar a dicotomia entre a Cisjordânia e Gaza.
Hamas versus Fatah traça a história das relações entre os dois grupos desde o aparecimento do Hamas no final de 1987 a sua conquista de Gaza em junho de 2007, depois pesquisa as implicações desta relação hostil porém sutil. Em resumo, Schanzer traça o enfraquecimento simultâneo do Fatah e o fortalecimento do Hamas neste período. Por volta de 2008, o líder do Fatah, Mahmoud Abbas, fica enfraquecido "não passa de presidente do complexo de Muqata em Ramallah", enquanto o Hamas manda em Gaza, ameaça tomar o poder na Cisjordânia, lança centenas de foguetes contra Israel, chegando até mesmo a desafiar o governo do Egito.
Esta mudança dramática no destino pode ser atribuída a muitos fatores, mas talvez o maior de todos seja o de que enquanto o Fatah de Yasir Arafat era tudo para todos palestinos, o Hamas representa um movimento coerente, com uma perspectiva fixa e metas específicas. Repetidamente Schanzer demonstra como a disciplina e o objetivo do Hamas lhe deram vantagem sobre o corrupto e amorfo Fatah.
Auto-destruição dos palestinos, negligenciada ou não, se encontra entre as maiores preocupações da política externa dos Estados Unidos, especialmente desde 1993, quando Washington apostou em Yasir Arafat, a Fatah, a Organização para a Libertação da Palestina e a Autoridade Palestina, alimentando improváveis esperanças que o apoio Ocidental transformaria um movimento revolucionário há muito tempo aliado da União Soviética numa agência de um bom governo com aspirações de status quo.
Entre seus muitos erros conceituais, esta esperança implicava devotar muito pouca atenção à furiosa competição entre o Fatah e o Hamas, desde 1987, para controlar as ruas palestinas, uma competição que impeliu o Fatah a não ser visto como condescendente em relação a Israel, mas agressivamente anti-sionista como o Hamas. Dado que o Fatah estava em negociações com sucessivos governos israelenses, teve que fazer um barulho discreto para a mídia israelense e a ocidental, a organização tinha que assumir uma posição particularmente feroz em seu território. O que os responsáveis pela política americana (e israelense) tendiam a desconsiderar como casual acabou tendo conseqüências profundas e permanentes; basta dizer que o eleitorado palestino favorável à aceitação de Israel como um estado judeu diminuiu continuamente desde os impetuosos dias no final de 1993, ao ponto de representar atualmente somente um quinto do corpo político.
Schanzer também documenta o custo para a política externa dos Estados Unidos em relação a desatenção para o fitna do Fatah-Hamas ("conflito interno" em árabe). Por uma razão, levou à má interpretação do estado de espírito palestino no período que ia até as eleições de janeiro 2006, motivando Washington a continuar promovendo-as na feliz expectativa que seu favorito, o Fatah, ganharia; quando as eleições chegaram, a vitória esmagadora do Hamas sobre o Fatah veio como um choque. Por outra, no início de 2007, ao que Schanzer chama de "relativamente fraca cobertura pela principal corrente da mídia" dos combates Fatah-Hamas, significa que a conquista de Gaza pelo Hamas em junho veio como outra surpresa para a administração Bush. Em resumo, os responsáveis pelos interesses americanos não se anteciparam nem se prepararam para os dois eventos decisivos na subida do Hamas ao poder, uma situação tanto vergonhosa quanto reveladora. Uma compreensão tão limitada dessas questões significa praticamente a certeza de severos erros de política.
Por que, dada a extensão das diferenças intra-palestinas e de sua importância, este assunto foi ignorado com tamanha rudimentariedade? Schanzer prudentemente fica longe deste sensível tópico, mas o que mantém distante rebanhos de pesquisadores deveria ao menos ser mencionado. Eu acredito que isto reflete o fato que poucos acadêmicos têm interesse genuíno nos palestinos. Ao invés disto, lhes dedicam uma atenção exagerada, que de outra forma esta pequena e obscura população não teria, porque representa uma ferramenta conveniente e potente para difamar Israel.
A intenção de organizações em criticar qualquer coisa que Israel faça, por definição, as tornaram mestras de minúsculas queixas dos palestinos. Eles documentam nos menores detalhes os padrões residenciais e de transportes na Cisjordânia, as redes de água e de eletricidade em Gaza e as restrições para se chegar a lugares santos em Jerusalém. Essas intenções de difundir uma má imagem de Israel, tem que defender os palestinos com alegações de execuções de massa, torturas, negação de serviços hospitalares—mas isto não pode ser confundido com a preocupação genuína pelos palestinos. Nem ajuda a compreender a vida deles.
Agrada-me em particular que o escritor empreendeu alguma da sua pesquisa inicial a este estudo enquanto estava no Foro do Oriente Médio, o instituto de pesquisa que eu dirijo, notavelmente seus estudos sobre o Fatah contra o Hamas, nos comparativos levantes palestinos e na divisão Gaza– Cisjordânia. Esta última discussão, elaborada aqui no capítulo 11, oferece uma revisão particularmente valiosa das muitas e crescentes diferenças entre as "duas Palestinas", um assunto dificilmente encontrado em inglês a não ser pelas escritas de Jonathan Schanzer.
A maioria dos livros sobre o conflito árabe-israelense andam num terreno já bem gasto. Hamas contra Fatah oferece uma análise original sobre um tópico fundamental.