Em um artigo que saiu hoje, "Apoio Turco ao ISIS," eu expliquei que o governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) do Primeiro Ministro Erdoğan está por trás da ascensão do Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Esse blog continua no tópico com novas provas.
Para começar, Michael Rubin e eu publicamos simultaneamente um artigo sobre esse mesmo tópico, "Turquia: Al-Qaeda não é Terrorista".
Atualização de 23 de junho de 2014: Salih Muslim, co-presidente da mais importante organização curda da Síria, a Democratic Union Party (PYD) Partido da União Democrática, explica em que ele se baseia para afirmar que o governo turco apóia o ISIS. Alguns trechos:
"O próprio ISIS diz receber apoio da Turquia. A mídia dele dá detalhes de como ele obtém assistência da Turquia e como os militantes chegam a tal assistência através da Turquia".
Por que a tomada de reféns em Mossul? "Alguns grupos dentro do ISIS poderiam ter tomado os reféns sem informar outros integrantes. Para a sua própria segurança ou para chantagear a Turquia para que ela não mude sua abordagem moderada em relação ao ISIS. Poderia bem ser algo acertado entre as partes".
"No final de maio nossas forças atacaram a aldeia de Al Rawiya sob controle do ISIS. Nós encontramos documentos turcos nos corpos dos militantes do ISIS que matamos naquele lugar. Vários documentos atestam sua presença na Turquia".
"Vamos supor que a ajuda dada ao ISIS não seja de caráter oficial e sim do "estado profundo" ou de outros elementos. Se for esse o caso, por que então as autoridades turcas não investigam os indícios, documentos e outros dados que estamos apresentando a eles? Por que não se juntam a nós contra o ISIS? Há na Turquia as assim chamadas organizações de ajuda humanitária que prestam assistência ao ISIS. O governo turco nos informa que milhões de turistas chegam a Turquia e que não é possível checar todos, um por um. E nós afirmamos, "Temos provas. Essas organizações os encontram no aeroporto, levam até a fronteira e ajudam a atravessar para a Síria". Nós já os informamos sobre tudo isso, mas eles não fazem nada.
Atualização de 24 de junho de 2014: Turfan Aydin, um caminhoneiro turco que tem trabalhado na rota síria por anos, diz a um jornalista que "de três anos para cá estamos vendo bandeiras do ISIS na Síria, e isso se deve à Turquia. A Turquia deixou-os entrar".
Atualização de 25 de junho de 2014: Jonathan Schanzer da Foundation for the Defense of Democracies (Fundação para a Defesa das Democracias) mostra novos aspectos desse tópico em "Um Aliado Pouco Prestativo: ISIS e outras facções violentas se beneficiaram da frouxa política de fronteira da Turquia".
A crise do ISIS no Iraque está inextricavelmente ligada às perigosas e permissivas políticas de fronteira do governo do Sr. Erdoğan na Turquia, nos últimos dois anos. Somente no ano passado foi que o Presidente dos EUA Barack Obama repreendeu o Sr. Erdoğan por "permitir que armas e combatentes entrem livremente na Síria, de forma indiscriminada e por vezes para os rebeldes errados, incluindo jihadistas anti-Ocidente".
O Sr. Obama não estava sozinho nessa avaliação. Segundo observa o Human Rights Watch em uma reportagem de outubro, "Muitos combatentes estrangeiros, operando no norte da Síria, ganham acesso à Síria via Turquia, de onde também contrabandeiam armas, obtêm dinheiro, outros suprimentos e por vezes recuam para obterem tratamento médico".
O Sr. Erdoğan negou essas alegações e prometeu evitar que a ajuda passe para os jihadistas na Síria. Mas os relatórios das autoridades policiais e da mídia contradizem essas declarações. "A relativa facilidade de acesso da fronteira entre a Síria e a Turquia explica" porque tantos jihadistas foram parar na Síria, segundo reportagem do Journal no início do mês, citando a Europol.
O ISIS encontrou outros pontos de trânsito para a Síria. Mas, está claro que esse grupo e outras facções violentas se beneficiaram do leste fora de controle da Turquia. De acordo com a exposição de Thomas Hegghammer do Norwegian Defense Research Establishment ao Website Syria Deeply em dezembro, a "Turquia é para a Síria hoje o que o Paquistão foi para o Afeganistão nos anos de 1990".
Atualização de 26 de junho de 2014: A loja İslami Giyim (trajes islâmicos), no bairro Bağcılar em Istambul, vende camisetas com símbolos do ISIS, embora o proprietário negue qualquer ligação com o grupo. Ele disse à BBC:
O ISIS também as usa. Nós as usamos somente porque são trajes islâmicos. Não temos nenhuma relação com o ISIS. Se alguém na rua vir esse símbolo, poderá vir à mente o terrorismo, mas para outros poderá vir à mente o Profeta. Tenho orgulho em vendê-las. Em última análise, todo trabalho limpo acaba ficando sujo, mas nós não iremos descartá-lo só porque outros estão usando as referidas camisetas.
Atualização de 27 de junho de 2014: As famílias de 163 cidadãos turcos relataram às forças de segurança que seus parentes se uniram ao ISIS na Síria.
Atualização de 03 de julho de 2014: Sayed Abdel-Meguid, brilhante correspondente do jornal Al-Ahram na Turquia, dispõe de mais provas em "ISIS, Erdogan e os turcos sequestrados". Particularmente, ele cita Abdel-Latif Sener, um dos fundadores do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) que deixou a política alguns anos atrás:
os terroristas do ISIS vêm da Síria e do Iraque para jantar kebab (comida oriental feita de carne) em restaurantes no sul da Turquia. Logo em seguida, após terminarem o jantar com uma xícara de chá, eles voltam de onde vieram.
Outro fato que também chama a atenção é a entrevista que Abdel-Meguid fez com um membro do ISIS, no jornal Yurt em que ele
relata o enorme apoio que a organização recebeu das forças que estariam em Ancara. Segundo ele, se não tivessem esse apoio, o ISIS não estaria onde está hoje em termos de número de combatentes e das áreas vitais sob seu controle.
Como se corroborando com suas observações, o militante do ISIS foi entrevistado na Anatólia, onde ele e outros parceiros de combate estão sendo tratados em virtude dos ferimentos causados nos combates na Síria. É importante salientar que eles não estão sendo tratados apenas em hospitais próximos a fronteira turca, mas também em hospitais públicos e privados em Ancara, Istambul e Izmir.
Observadores calculam que há entre 2.500 a 3.000 membros do ISIS na Turquia. Contudo, o governo não possui dados de inteligência sobre suas possíveis células latentes, como recrutam terroristas e como e de onde vem o dinheiro. O governo também não dispõe de informações detalhadas sobre os vínculos da organização com outros países sunitas, fora o Qatar.
Abdel-Meguid também cita um editorial do Cumhuriyet: "O número de reféns turcos em Mossul, já está na casa dos 95, não são cativos do ISIS e sim do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP)".
Atualização de 05 de julho de 2014: A fonte curda Firatnews, relata sob o título "continua o apoio turco ao ISIS", sobre as acusações de Ahmed Kurdi, líder da Kurdish Front Brigade (Brigada da Frente Curda):
Hajji Ahmed Kurdi salienta que a Turquia continua apoiando o ISIS e afirma que possui provas cabais, além de documentos comprovando o apoio. Ele acrescenta que alguns dos combatentes e defensores da Frente Curda capturados pelo ISIS foram interrogados por autoridades turcas, afirmando: "todos do nosso pessoal afirmaram que autoridades turcas tomaram parte nos interrogatórios. Isso prova que o apoio continua. Eles fingem estar em conflito com essa organização, mas isso não é verdade".
Hajji Ahmed Kurdi relatou que o ISIS atravessava a fronteira turca ao seu bel prazer. "Para cercar Azaz, eles usam o trecho Çobanbey/Jarablus (50 km de comprimento) da fronteira, abertamente. Às vezes eles cruzam a fronteira como combatentes do al-Nusra Front ou do Liwa al-Tawhid. Eles nem sentem a necessidade de agir clandestinamente, agem abertamente, mesmo".