Meu artigo na revista Commentary deste mês "O Caminho para a Paz: Vitória de Israel, Derrota Palestina", provocou críticas, principalmente no tocante a duas questões: minha aceitação que existe um povo palestino e minha crença que ele pode ser derrotado. Minha argumentação:
(1) não existe essa coisa de povo palestino: na realidade, conforme observam os leitores, esse povo jamais existiu ao longo dos séculos. O termo Palestina (em árabe: "Filastin") como unidade política começou a ser usado em referência ao triunfo sionista imposto pelos ocupantes britânicos após a emissão da Declaração de Balfour em 1917. Palestinos (em árabe: "Filastiniyun") também entrou em uso somente no Século XX. Jerusalém jamais serviu como capital de um estado muçulmano soberano. Tudo isso é verdade.
No entanto, no início de 1920 com a imposição de uma unidade geográfica mais tarde chamada de Mandato Britânico da Palestina, os muçulmanos de língua árabe daquele território entenderam que tinham que adotar a identidade palestina. Em 1948 quando os judeus abandonaram o termo Palestina em favor de Israel, a palavra palestino tornou-se exclusivamente árabe. Com a fundação da Organização para a Libertação Palestina em 1964, aquela identidade adquiriu expressão política. Em 1994 a Autoridade Palestina lhe conferiu status oficial. A esta altura, é inútil, até mesmo ridículo, negar a existência de um povo árabe palestino distinto.
Palestinos em Gaza, em fevereiro 2014, protestando contra o Secretário de Estado John Kerry. |
Dito isto, a identidade árabe palestina que emergiu tão rapidamente de uma necessidade política pode não durar para sempre, conforme eu contemplei em 1989: "o primado do nacionalismo palestino poderá no futuro chegar ao fim, talvez tão rapidamente quanto começou".
(2) Os povos muçulmanos nunca desistem, sempre em guerra, desta maneira não podendo ser derrotados: eu abordei isso em um trecho da revista Commentary no artigo: "os muçulmanos têm repetidamente se rendido aos infiéis ao longo da história quando confrontados com uma força superior determinada, da Espanha aos Bálcãs até o Líbano".
Diante disso vem a resposta de que nestes e em outros casos, os muçulmanos não se deram inteiramente por vencidos: os islamistas sonham com Al-Andalus, o primeiro-ministro da Turquia Erdogan alimenta ambições neo-otomanas nos Bálcãs e os muçulmanos libaneses tiveram sucesso em acabar com o estado dominado pelos cristãos.
Alhambra voltará ao domínio muçulmano? |
Repetindo, tudo isso é verdade. Mas a noção de retomar a Espanha está limitada ao reino da fantasia, Erdoğan não tem nenhuma intenção militar de retomar os Bálcãs e os muçulmanos do Líbano se aproveitaram dos planos de seu país em um país vizinho (Síria) para derrubar os maronitas.
Este ponto fica mais claro se compararmos os muçulmanos com os cristãos: os exemplos acima mostram o espírito inquebrantável dos muçulmanos, o mesmo, contudo, também se aplica aos cristãos (e por tabela a todos, como por exemplo aos chineses).
- O Reino da Espanha quer Gibraltar de volta, apesar dela ter sido cedida em perpetuidade à Grã-Bretanha em 1713, há mais de 300 anos.
- O governo da Grécia reclamou partes da Anatólia após a Primeira Guerra Mundial, que estavam sob o domínio muçulmano por um período de 700 anos.
- Benito Mussolini, detentor do poder na Itália, ensaiou ressuscitar o Império Romano 1.400 anos após o desaparecimento do Império Romano do Ocidente em 476 d.C.
Esse dados apontam para o fato de que as ideias irredentistas às vezes sobrevivem por muito tempo e podem voltar a fazer barulho tempos mais tarde. Isso, no entanto, não muda o fato de que as guerras terminam quando um dos lados se rende, algo que se aplica tanto aos muçulmanos como aos não muçulmanos. (10 de janeiro de 2017)