Donald Trump cunhou a expressão "teste ideológico" em julho de 2016 na esteira do ataque em que foi usado um caminhão como arma de atropelamento em Nice na França. Durante nove meses, ele e seus conselheiros estão tentado descobrir o que isso significa na prática.
A primeira iteração anunciada em 27 de janeiro, apenas alguns dias após a sua posse, teve como foco países, não indivíduos. Essa abordagem foi revogada duas vezes pelos tribunais, além disso, inerentemente não faz sentido: há iranianos que são nossos amigos e há canadenses que são nossos inimigos. Dirigir o foco a países é grosseiro e ineficaz.
O Wall Street Journal em uma reportagem de Laura Meckler, publicada no dia 04 de abril de 2017 tem como título: "A Administração Trump Considera Instituir Medidas de Longo Alcance de Checagem Exaustiva".
É bom saber que as autoridades estão levando esse problema a sério. A nova abordagem se divide em duas partes. A primeira é excelente, exige que os estrangeiros que desejam visitar os Estados Unidos "respondam a inquirições minuciosas sobre a sua ideologia". Mais especificamente: o "teste ideológico", irá, de acordo com um funcionário do Departamento de Segurança Nacional que trabalha na revisão, incluir questões tais como:
se os requerentes de visto acreditam nos assim chamados assassinatos em nome da honra, como eles veem o tratamento de mulheres na sociedade, se eles valorizam a "santidade da vida humana" e quem eles consideram alvo legítimo em uma operação militar.
Essas perguntas ecoam algumas das 93 que eu expus no artigo "Smoking Out Islamists via Extreme Vetting." Mas eu também conversei sobre os esforços de averiguação envolvidos e a maneira de entrevistar os potenciais visitantes. De modo que é um bom começo, mas precisa de aprimoramento.
A segunda parte se concentra em dispositivos eletrônicos:
a grande mudança na política externa dos EUA seria pedir aos requerentes de visto que entreguem seus celulares para que os funcionários possam examinar a lista de contatos e talvez outras informações. Uma segunda mudança seria solicitar aos requerentes seus identificadores e senhas de mídia social para que os funcionários possam visualizar informações publicadas em rede privada, além das postagem públicas.
"John Kelly do Departamento de Segurança Nacional salientou em fevereiro: se eles se recusarem a nos fornecer essas informações", "não poderão entrar em nosso país".
Secretário John Kelly do Departamento de Segurança Nacional sendo sabatinado no Congresso. |
Mas essa ênfase nos dispositivos eletrônicos, especialmente nos celulares, não dará certo. Com o tempo todos saberão dessas medidas e qualquer um que queira causar problemas apagará as informações ou deixará o dispositivo em casa e adquirirá um celular descartável. Leon Rodriguez, chefe dos Serviços de Imigração e Cidadania dos EUA da época de Obama, observa que "os verdadeiros criminosos irão se livrar dos celulares, aparecerão com um telefone sem nada suspeito. Com o passar do tempo, a checagem perderá sua utilidade".
Não serão apenas os "verdadeiros criminosos" que tomarão essas medidas. Como analista de política externa que viaja com frequência a outros países, eu sou considerado um cara do bem. Mas eu, sob hipótese alguma entregaria minhas informações pessoais a policiais estrangeiros e a agências de inteligência. Faria o que fosse necessário para evitar isso, seja ajustando meus dispositivos ou permanecendo nos Estados Unidos.
A pessoa, não seu país ou celular, deve ser o foco da atenção. (4 de abril de 2017)