As acusações de todo o tipo feitas contra o capitão do exército americano James ("Yousef") Yee – dentre as quais espionagem, rebelião, sublevação e ajuda ao inimigo – é vista de forma negativa pela divisão do Juiz Advogado-General responsável por lidar com casos semelhantes de espionagem. Um promotor-militar notou que o Capelão Yee fôra credenciado por uma organização sob investigação e que tomou atitudes altamente questionáveis na Base de Guantánamo e concluiu: "o Exército vacilou". A punição do capitão Yee resumiu-se a uma mera reprimenda.
Porém, ainda restam três crimes a respeito de Guantánamo e espiongem: (1) Ahmad F. Mehalba, um intérprete civil acusado de mentir a respeito de CDs de computador encontrados em sua bagagem que continham informações secretas de Guantánamo; (2) O coronel-da-reserva Jack Farr, acusado de transportar ilegalmente documentos secretos e mentir aos investigadores; e (3) O piloto da Força Áerea Ahmad I. al Halabi, meu assunto de hoje.
(foto: O piloto Ahmad Al Halabi é escoltado para dar depoimento. Terça-feira, 13 de janeiro, na Base Aérea de Travis. Associated Press/Marcio Jose Sanchez)
Halabi, um tradutor de 25 anos de origem síria, disse que naturalizou-se americano após alistar-se na Força Aérea em janeiro de 2000, embora isto seja uma questão controversa. Ele passou nove meses trabalhando como intérprete árabe em Guantánamo e foi preso em 23 de julho de 2003, na Base Aérea Naval de Jacksonville, à caminho de seu próprio casamento na Síria. No momento em que foi preso, Halabi possuía 186 documentos secretas não-autorizados em seu laptop.
As 32 acusações contra ele tornaram-se públicas em setembro de 2003, das quais 11 eram notificações de falhas ao obedecer ordens e regulações gerias; 3 notificações por auxiliar o inimigo, 4 notificações por espionagem; 9 notificações por dar falso testemunho; fraudes bancárias e violações da Lei de Espionagem Federal. Mais especificamente, Halabi foi acusado de:
- Fazer download de documentos secretos no seu laptop pessoal;
- Fazer contatos ilegais com a embaixada da Síria em Washington;
- Não relatar comunicações não-autorizadas entre soldados americanos e detentos;
- Enviar e-mails para a Síria contendo detalhes sobre os horários de vôo da base;
- Tentativa de enviar informações sobre detentos em Guantánamo; e
- Coletar 180 mensagens destes detentos para entregá-las a conhecidos inimigos.
Enquanto a maioria das acusações dizem respeito a informações secretas (e a forma como tais acusações foram feitas seugere que Halabi não obteve êxito em entregá-las), três acusações em especial saltam aos olhos. A CNN as descreve assim:
Uma das acusações contra al Halabi é sobre entregar comida não-autorizada, incluindo doce Baklava [doce típico oriental – N.T.], a detentos. Outra acusação é sobre "executar um plano" para obter crédito de sete bancos fornecendo informações falsas. Uma terceira acusação diz que al Halabi negou qualquer conhecimento sobre wahhabismo [uma forma conservadora e intolerante do Islã, praticada na Arábia Saudita; Osama bin Laden e seus seguidores a praticam – N.T.] quando na verdade "a declaração era totalmente falsa"...Não está claro qual a ligação entre as acusações de espionagem e o wahhabismo.
Em janeiro de 2004, a Força Aérea fez sérias acusações, incluindo uma que poderia ser punida com pena de morte: "ajudar o inimigo". Outras acusações versam sobre enviar e-mails contendo informações sobre detentos de Guantánamo e transmitir informações a receptadores não-autorizados. Halabi enfrenta dezessete acusações; a corte-marcial, que deverá começar em 27 de abril de 2004, na Base Aérea de Travis situada norte da Califórnia, poderá condená-lo a prisão perpétua sem condicional.
Durante os procedimentos para a corte-marcial, promotores-militares revelaram que Halabi também é protagonista de uma outra investigação de contrainteligência; assim, ele poderá enfrentar acusações criminosas além das acusações de espionagem.
(Para complicar ainda mais as coisas, Marc Palmosina, agente especial da Divisão de Investigações Especiais da Força Aérea, que tinha até então trabalhado no caso Halabi, está sob investigação por descuidar de documentos secretos e foi retirado do caso).
Na corte marcial, Halabi provavelmente alegará que não sabia que os documentos que carregava no laptop eram secretos. Será conversa fiada, certamente, já que muito antes confessara a investigadores a respeito desses documentos secretos; e Halabi também enviara para sua casa na Califórnia 60 páginas de documentos confidenciais.
E há ainda outra evidência, que estou revelando aqui, que está ligada ao website pessoal de Halabi: http://www.geocities.com/ahmad564/
O website contém diversos itens que interessam a Halabi. Ele lista notícias de membros da Liga Árabe, orações muçulmanas, figuras de astros de música pop árabes, aeronaves etc.
E há lá alguns itens de grande relevância. Clicando no "r" em "SrA/USAF" à esquerda na página, abre-se uma página romântica escondida com flores, várias fotos de uma mulher e o seguinte aviso:
Esta é a página pessoal de RANA DALI
Apenas pessoas autorizadas podem visualizar esta página.
Clicando em "Ver as Fotos de Ahmad em Cuba" o levará a três páginas com fotos de Halabi.
- A primeira possui fotos tiradas na residência do capitão Yee com a seguinte inscrição em estilo tughra: "Em Nome de Deus, o Misericordioso, o Benigno".
- A segunda mostra fotos normais de Halabi no Kuwait em estilo militar – normais exceto pelo presença da bandeira síria tremulando no alto da página.
- A terceira parece ser uma página exclusivamente muçulmana, com títulos como "Figura do grupo no Dia EID", "Festa EID, 6 de dezembro de 2002. Da direita para a esquerda, Ahmad, Tabasom, Katib, Chaplin Yousif and Ahmad," e "Na balsa, da direita para a esquerda: Rabi, Tony, Bahlawan, Tariq e Ahmad." Esta página exibe tanto a bandeira tughra quanto a bandeira síria.
(Foto de Ahmad al Halabi mostrando os membros muçulmanos da equipe, celebrando o feriado de Eid al-Fitr em Guantánamo, 6 de dezembro de 2002).
Na argumentação preliminar, os promotores afirmaram que enquanto Halabi estava sob audiência preliminar, alguém acessou seu website e o alterou. Preocupações a respeito das habilidades computacionais de Halabi explicam por quê ele permanecerá preso durante o processo. Nas palavras da juiza-militar coronel Barbara Brans, "Seu talento com computadores continua sendo uma ameaça".
O website de Halabi incita dois pensamentos. Primeiro, Halabi parece ser habilidoso o suficiente em computação para ter enviado informações confidenciais sem a ciência das autoridades americanas.
Segundo, de acordo com um mandado de busca preparado para obter acesso a sua correspondência, Halabi "fez declarações criticando a política dos Estados Unidos com respeito aos detentos e com respeito à política americana no Oriente Médio", depois mentiu sobre tais declarações. Esta visão política de Halabi mais o foco exclusivamente muçulmano nos websites levam este observador a questionar a lealdade de Halabi.