"Ouça-me com muito cuidado" instruiu o presidente Hosni Mubarak do Egito a um entrevistador no dia 30 de jan. "Gaza não faz parte do Egito, nem nunca fará… eu tenho ouvido conversas sobre uma proposta para se transformar a Faixa de Gaza em uma extensão da península do Sinai, de transferir a responsabilidade dela ao Egito" mas Mubarak desconsiderou-a como sendo "nada além de um sonho".
A segurança egípcia fecha muro da fronteira em Rafah no dia 3 de fevereiro de 2008, com estacas de ferro. (Foto da AP / Adel Hana) |
Dado que os habitantes de Gaza mostraram ser incapazes de se auto-governarem de forma responsável e do Cairo ter tacitamente permitido o contrabando de armas desde o ano 2000, Mubarak precisa ser responsabilizado pela Faixa de Gaza. Como minha coluna da semana passada argumenta, "Washington e outras capitais deveriam declarar a experiência de auto-governo de Gaza um fracasso e pressionar Hosni Mubarak do Egito, a cooperar".
O Hamas concorda em parte: Um de seus lideres, Ismail Haniyeh, espera que Gaza possa "caminhar no sentido de se desvincular economicamente da ocupação israelense", enquanto outro, Ahmad Youssef, quer que a fronteira Gaza-Egito seja aberta ao comércio e que o Egito sirva como "porta de comunicação" entre Gaza e o mundo exterior. Enquanto o Hamas promete que o re-fechamento do muro por Cairo no dia 3 de fevereiro não fará com que o relógio volte para trás, a Irmandade Muçulmana, do Egito, um aliado do Hamas, exige que a fronteira de Gaza seja aberta. Mubarak pode ignorar estas exigências, populares entre os egípcios? Com efeito, Gaza já começou a se impor a um relutante Egito.
Alguns israelenses desejam ajudar. O Vice-Ministro da Defesa de Israel Matan Vilnai, por exemplo, acha que Cairo deveria assumir economicamente. "Se Gaza estiver aberta para o outro lado, nós deixamos de ser responsáveis por ela. Portanto, queremos nos desconectar dela. Queremos parar de abastecê-la com eletricidade, parar de provê-la com água e medicamentos". O tribunal superior israelense tendo decidido no dia 30 de jan. que o governo pode reduzir o abastecimento de combustível e de eletricidade a Gaza, torna o corte possível.
Como alcançar a transferência de Gaza?
Robert Satloff do Instituto de Política para o Oriente Próximo de Washington me sugeriu que Jerusalém anuncie três passos: "uma data definida para Israel para cortar o fornecimento de água, eletricidade e acesso ao comércio, livre acesso a serviços de manutenção através do Egito e um convite ao apoio internacional para unir Gaza às coordenadas egípcias". Giora Eiland, um ex-conselheiro de segurança nacional israelense, também separaria Gaza de sua união alfandegária com Israel e com a Cisjordânia.
Estas iniciativas israelenses forçariam a mão egípcia. E claro que, os egípcios, com a ajuda da Fatah e até do Hamas, tentarão ressuscitar a fronteira e repôr o ônus de volta a Israel. Mas no final, a solidariedade árabe exigirá que os irmãos "egípcios" preencham o vazio do inimigo israelense. Uma vez que Jerusalém corte os abastecimentos, Cairo não terá outra saída senão a de fornecê-los. A dependência econômica envolveria então mais ainda o Egito que por sua vez teria conseqüências adicionais. Ela:
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Iria reavivar a velha idéia de solucionar o conflito árabe-israelense através de uma partição a três, Egito, Israel e Jordânia.
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Permitiria ao Hamas conectar-se com a sua organização progenitora, a Irmandade Muçulmana. Realmente, as forças de segurança egípcias já prenderam pelo menos 12 membros armados do Hamas no Egito e outros habitantes de Gaza com cinturões suicidas. Controlar a violência islâmica vinda de Gaza se tornará uma prioridade egípcia – mas Mubarak lidou com os islâmicos ao longo da sua presidência de 27 anos e ele pode lidar com este novo desafio de uma maneira que Israel não pode.
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Limita a liberdade do Hamas e da Jihad Islâmica de atacar Israel. Sim, os egípcios querem foguetes caindo em Sderot, mas Cairo sabe que a sua continuação atrairia represálias israelenses e possivelmente uma guerra total.
Para impedir que os habitantes de Gaza criem problemas no Egito ou que ataquem Israel requeriria policiamento pesado no seu território. Isto significa presumivelmente o afrouxamento das estritas restrições ao posicionamento de forças egípcias perto da fronteira com Israel constantes no Anexo I do tratado de paz egípcio-israelense de 1979. Felizmente, o serviço de segurança egípcia em Gaza precisa apenas estar com armamento leve e a Força Multinacional & Observadores na península do Sinai poderiam acrescentar este monitorado dever às suas tarefas.
Em resumo, Gaza pode ser lançada ao Egito com a confiança de que os egípcios têm de aceitá-la e de impedir os habitantes de Gaza de atacar Israel. Iniciar este "processo de paz", entretanto, requererá uma imaginação atípica e uma energia de Israel e dos países ocidentais.