A notícia de que Rima Fakih, 24, de Dearborn, Michigan, venceu hoje o concurso de beleza Miss Estados Unidos me faz lembrar de ocasiões anteriores em que mulheres muçulmanas venceram concursos de beleza em países ocidentais.
Rima Fakih. |
Juliette Boubaaya, 19, foi Miss Picardie em 2009.
Juliette Boubaaya. |
Nora Ali foi Miss Ensino Médio dos Estados Unidos em 2007.
Nora Ali. |
Hammasa Kohistani, 19, foi Miss Inglaterra em 2006.
Hammasa Kohistani. |
Sarah Mendly, 23, foi Miss Nottingham em 2005.
Sarah Mendly. |
São todas bonitas, mas essa surpreendente frequência de vencedoras muçulmanas nos concursos de beleza me faz suspeitar de uma forma estranha do sistema de cotas.
Minha suspeita confirmou-se com a escolha de Anisah Rasheed como Miss A&T da Agricultural and Technical State University da Carolina do Norte. Do noticiário a cerca de seu êxito:
Agitada e nervosa, Anisah Rasheed de Roanoke refletiu sobre um dilema da moda que poucas rainhas da beleza enfrentaram anteriormente: Combinar o vestido da coroação com a hijab. … Rasheed, 20, foi coroada Miss A&T para o período de 2005-2006 na quinta-feira a noite com um vestido com cauda cintilante—uma tiara brilhando sobre a sua hijab dourada—na cerimônia de retorno para casa na A&T State University na Carolina do Norte.
Anisah Rasheed. |
Atualização de 17 de maio de 2010: Vários leitores comentaram sobre esse blog. Um deles observa que, em um nível mais grave, o sistema de cotas tem um papel em alguns dos Prêmios Nobel.
Outro leitor me chama a atenção para a carreira aventureira de Georgina Rizk (n. 1953), a primeira e única Miss Universo do Líbano.
Rizk nasceu em Beirute em uma família cristã. Ela foi coroada no concurso de Miss Universo de 1971 em Miami Beach, Flórida. … No concurso ela disse uma frase de efeito ao usar um top muito revelador e calças justas. Georgina estava casada com Ali Hassan Salameh, um cidadão palestino do Setembro Negro, que foi assassinado pelo Mossad em 1979.
No concurso de Miss Universo de 1972 em Dorado, Porto Rico, não foi permitida a presença de Rizk devido a restrições governamentais por causa do receito de um ataque terrorista. Esses temores foram desencadeados quando, dois meses antes do concurso, ocorreram ataques a bomba diante do hotel em que a Miss Estados Unidos estava hospedada. Naquele ano o Líbano também não mandou nenhuma representante.
Georgina Rizk. |
Um terceiro escreve:
Nada surpreendente. O sistema de cotas foi empregado pela primeira vez em concursos de beleza nos anos de 1980 para que mulheres negras vencessem, depois foi a vez das mulheres morenas latinas agora são as muçulmanas. Esta é a razão pela qual a maioria se desinteressa por essa marmelada de "eventos". Dão prejuízo e supõem polêmicas.
Atualização de 17 de maio de 2010: Esse pequeno blog provocou uma tempestade na esquerda, com dezenas de comentários grosseiros e hostis me atacando por levantar a questão sobre o sistema de cotas em concursos de beleza. Um deles realmente exagerou.
Do arsenal repleto de obscenidades daquele dia, irei me concentrar em uma resposta em particular, de Benjamin Sarlin no Web site de infeliz nome, Diário da Besta. De um lado, Sarlin tipifica a extravagância das minhas críticas:
Uma série de blogueiros conservadores, incluindo Daniel Pipes, nomeado por Bush para o U.S. Institute of Peace e assessor na campanha presidencial de 2008 de Rudy Giuliani, estão criticando severamente a organização do Miss Estados Unidos por fazerem uma marmelada da competição em nome da correção política.
USIP (Serviços Uniformizados, Identificação e Privilégio)? Giuliani? Críticas severas? Marmelada? Prezado Leitor: Examine meus escassos comentários acima e mostre-me, por gentileza, o que justificaria esse bombardeio. Por que as pessoas que me criticam não discordam sem exagerar ao ponto da distorção?
E Sarlin não é o mais notório dos condenadores e histéricos de hoje.
Eu mencionei Sarlin porque, num gesto meritório, somente ele divulgou algumas informações reais:
Uma porta-voz da competição do Miss Estados Unidos, Lark-Marie Anton, declarou ao Diário da Besta que aqueles que criticam Fakih estão totalmente infundamentados e que a competição foi conduzida corretamente. "O grupo de juízes selecionou Rima como a vencedora," disse Anton em um e-mail. "Eu não acredito que isso tenha algo a ver com o sistema de cotas e fico entristecida vendo a ignorância em volta de sua herança multicultural".
E o que deveria a representante de Miss Estados Unidos dizer – reconhecer que os juízes favoreceram uma candidata árabe-muçulmana? Pouco provável. Não obstante, acho engraçado que Lark-Marie Anton aparenta acusar-me de "ignorância com respeito a sua herança multicultural". O que estive eu fazendo nos últimos 41 anos a não ser estudar essa "herança multicultural?"
Atualização de 18 de maio de 2010: Dada a tempestade causada devido a essa pequena coluna, alguns esclarecimentos a mais e um pouco mais de informações vêm a calhar:
Implícita na minha ponderação a cerca do sistema de cotas é o fato de que pouquíssimas mulheres muçulmanas participam dos concursos de beleza no Ocidente. (E daquelas poucas, algumas são retiradas da competição). Dado o humor da época e o desejo de inserir os muçulmanos no contexto da maioria na vida Ocidental, os juízes bem que poderiam favorecer as participantes muçulmanas por uma questão de boa vontade e de política social.
Existem coisas piores no mundo do que tal favorecimento. Eu não o condenei, meramente fiz uma observação. Ao mesmo tempo, eu acredito que seja digno de menção, que a arena é intitulada com o propósito de ajudar algumas das participantes – Foi o que eu fiz.
Concursos de beleza islamistas, é claro, também existem. O Times (Londres) descreve um deles em maio de 2009: "Quanto as 200 promissoras candidatas do concurso de amanhã, irão começar o processo de dez semanas para descobrir a vencedora do "Miss Linda Moral"". Não há nenhum homem com alguma função nesse evento. A fundadora desse evento, para mulheres com idade de 15 a 25 anos oferece um prêmio de US$ 2.600,00, explica que a intenção é avaliar o comprometimento das "candidatas" quanto aos costumes islâmicos. . . É uma alternativa aos apelos à decadência dos outros concursos de beleza que levam em consideração apenas o corpo e a aparência da mulher". Ela explica que "A vencedora não será necessariamente bonita. Nós nos importamos com a beleza da alma e dos costumes".
Shermine Shahrivar, 23, foi miss Miss Europa em 2005.
Shermine Shahrivar
Rana Raslan, 22, foi Miss Israel em 1999.
Rana Raslan
Atualização de 18 de maio de 2010: Mudando um pouco de assunto, li com muito interesse uma publicação do Departamento de Estado dos Estados Unidos dirigida ao consumo externo de que Fakih recebeu apoio financeiro do Imã Hamad, diretor do American-Arab Anti-Discrimination Committee (ADC) de Michigan. O relatório exato:
"Para os árabes americanos, a vitória dela tem um significado especial pelo fato de nos anos anteriores termos enfrentado muitos desafios", declarou Hamad ao America.gov. "Mas isso só mostra como uma imigrante, vinda do Líbano, pode ser uma embaixadora dos Estados Unidos com apenas 24 anos de idade". Hamad disse que certa vez a sua organização apoiou financeiramente as aspirações de Fakih em participar. "Eu sempre achei que ela tinha algo a oferecer e estava seguro de que ela iria atrás da sua paixão e de seus sonhos", declarou Hamad. "Eu estava certo".
NB: "certa vez a sua organização apoiou financeiramente as aspirações de Fakih em participar.
Que uma organização ostensivamente devotada aos direitos civis se dedique a promover uma candidata a um concurso de beleza já é bem esquisito; mas que Hamad – cujo registro inclui exigências para que os feriados islâmicos sejam celebrados nas escolas públicas, oposição às sensatas medidas de segurança nos aeroportos, luto pela captura de Saddam Hussein e chamar os terroristas do Hisbolá de "heróis" – apóie Fakih, levanta sérias preocupações com respeito ao enfoque político dela mesma. Uma pena que os juízes não a questionaram sobre o Hisbolá durante o concurso.
Atualização de 21 de maio de 2010: Lee Smith levanta uma interessante questão cultural em relação a Rima Fakih – não se havia tendências dos juízes a seu favor mas "Será que Rima Fakih é uma muçulmana ocidentalizada só porque ela usava um maiô? Não necessariamente". Ele explica o seu raciocínio:
a disposição de uma mulher muçulmana de mostrar a sua pele não é mais um triunfo da modernidade e da moderação do que o véu um índice do extremismo. Por exemplo, uma das divas mais populares do Líbano, Haifa Wehbe—uma mulher cujos vídeos musicais fariam corar a maioria das strippers de Michigan —também confessou a sua admiração pelo Hisbolá.
Smith continua e generaliza:
Um biquíni sozinho ou mesmo um vestido de baile, não diz necessariamente algo substancial a respeito de quem o estiver usando. Isso também vale para lugares de nascença, ocupação e uma série de questões sobre o estilo de vida: não necessariamente revelam algo sobre as pessoas. Mais exatamente, o que está por dentro é o que vale. É estranho portanto, que com tanta frequência os americanos se esqueçam, quando se trata da maneira como eles pensam no que diz respeito as comunidades muçulmanas e normalmente confundem a aparência externa pelo conteúdo interno.
Ele então toca diretamente em um dos maiores constrangimentos da administração Obama, John Brennan, que continua a cometer exatamente esse erro:
Imagine, por exemplo, as recentes declarações do czar do contraterrorismo da Casa Branca, que vê no Hisbolá uma organização terrorista que, pelo fato de seus membros serem médicos, advogados e parlamentares, realmente quer se tornar um parceiro para paz no Oriente Médio. Os adeptos da linha dura do Hisbolá segundo disse Brennan esta semana em uma conferência em Washington, "são realmente uma preocupação para nós, o que estão fazendo. O que nós precisamos fazer é achar meios para diminuir a influência deles na organização e tentar fomentar os elementos mais moderados". … Essa é uma repetição do que ocorreu no ano passado quando … Brennan apresentou seu estranho raciocínio em uma outra reunião em Washington. "O Hisbolá começou como uma organização terrorista apenas, ainda no início dos anos de 1980 e tem evoluído significativamente com o passar do tempo", disse Brennan. "Agora ela tem membros no parlamento, no gabinete; são advogados, médicos e outros que fazem parte da organização do Hisbolá".
Quer dizer, os que estão inseridos no contexto da maioria são moderados—uma análise extremamente medíocre. Ser moderado significa defender ideias moderadas, mas esses médicos, advogados e parlamentares não querem fazer a paz com Israel. Eles não se arrependem de terem assassinado 241 soldados dos Estados Unidos em um ataque a bomba nas barracas dos Marine em 1983 em Beirute. Eles não irão parar de ameaçar seus compatriotas, nem tão pouco entregar suas armas e se tornar um partido político Libanês normal. Na realidade, nenhum membro do Hisbolá nunca apresentou publicamente qualquer posição diferente daquela dos assim chamados de linha dura. Parece que são moderados simplesmente pelo fato de terem determinadas profissões.
Smith coloca dentro do contexto o erro de análise de Brennan:
O enfoque de Brennan no que diz respeito a "moderação" ostensiva do Hisbolá, é o ponto culminante da tendência acadêmica de três décadas que tem interpretado essa organização terrorista libanesa não pelo que ela é, mas ao olhar-se no espelho, se vê refletido as nossas próprias imagens ocidentais. Nós americanos podemos não conhecer xeques e mulás e aiatolás, mas conhecemos médicos e advogados. Dadas as normas de ética profissional necessárias àqueles que buscam carreiras de estilo ocidental, eles devem, por definição, ser moderados, assim como nossos médicos e advogados, congressistas e secretários de gabinete.
E ele conclui explicando de que maneira os muçulmanos com aparência moderna podem acolher enfoques islamistas:
durante o século passado, os muçulmanos debateram se seria melhor aceitar ou rejeitar os valores culturais que acompanhariam a modernidade, os valores mais associados ao Ocidente. Os liberais sustentavam que seria impossível contar com a modernidade sem os valores que a criaram, ao passo que os conservadores sustentavam que os muçulmanos deveriam conservar seus próprios valores ainda que adotassem os benefícios científicos e tecnológicos que o Ocidente tivesse para oferecer. …
Intelectuais, como o mufti do Egito Muhammad Abduh, aconselharam os muçulmanos a fazerem uso dos avanços científicos do Ocidente, mas evitar os valores ocidentais para que não perdessem a sua fé. E através dos séculos XIX e XX, os muçulmanos se beneficiaram dos frutos da tecnologia ocidental—dos equipamentos militares aos utensílios domésticos—ao mesmo tempo desprezando os valores associados com o Ocidente. (Pelo fato de serem precisamente esses valores culturais, que levaram o Ocidente a criar esses bens, que os muçulmanos se tornaram meros consumidores. O que Abduh e os conservadores desejavam separar—a ciência dos valores culturais que a geraram—não podem ser separados.)
Isso explica porque alguns médicos e advogados muçulmanos conseguem se beneficiar dos acessórios externos da modernidade—e, em alguns casos, até mesmo morarem no Ocidente—e ainda assim conservarem ideias fundamentalistas. A noção de um médico dirigindo operações terroristas, corretamente, nos parece incongruente. Contudo, essa medonha combinação é o resultado final de uma tendência ideológica que já dura 100 anos e que doutrina os muçulmanos a distinguirem os produtos, o conforto e a busca pelo progresso e tecnologia ocidentais dos valores que as tornaram factíveis.
Smith apresenta uma análise excelente a cerca de uma questão sutil e muito importante. (Eu gostaria de apenas mudar um pequeno detalhe que ele escreveu – que esse debate já dura dois séculos, não um.) Resumindo, enfoque comportamental e político são fenômenos bem diferentes e por vezes contrários.