Michelle Sandhoff, professora assistente de sociologia da Indiana University of Pennsylvania, escreveu um livro intitulado Service in a Time of Suspicion: Experiences of Muslims Serving in the U.S. Military Post-9/11 (Iowa City: University of Iowa Press, 2017). Nele, ela entrevista 15 muçulmanos servindo nas forças armadas que, de acordo com a editora, "falam sobre o que significa ser muçulmano, americano e vestir a farda das forças armadas no século XXI. Esses relatos genuínos nos lembram que somos todos iguais".
Nas primeiras páginas do livro, Sandhoff dedica um extenso parágrafo, repleto de erros, que descrevem duas maneiras ambivalentes de se ver o Islã:
entre os que escrevem e explanam o Islã, há, a grosso modo, dois campos. Um, exemplificado por Karen Armstrong, apresenta uma visão geralmente positiva do Islã e considera o Islã como uma religião equivalente em alcance e efeito a outras religiões. No outro extremo, há autores como Daniel Pipes, que preconizam um cenário do dia do juízo final, de uma conspiração islâmica para destruir o Ocidente. Este campo geralmente começam (sic) o debate em termos de islamismo (movimento político) e rapidamente cai no cenário em que associa todos os muçulmanos ao fundamentalismo, violência e terrorismo. O posicionamento desta perspectiva é que o Islã representa uma ameaça existencial. Em seu livro Militant Islam Reaches America, Pipes ressalta: "a preservação da ordem existente não pode mais ser considerada como líquida e certa, se faz necessário lutar por ela". A forma dessa ameaça é muitas vezes apresentada como a "insidiosa sharia", concepção segundo a qual a acomodação religiosa e o multiculturalismo conduzirão inexoravelmente a um mundo em que a "lei da sharia" (isto é: a lei islâmica) ditará o comportamento dos muçulmanos bem como o dos não muçulmanos. Esta maneira de ver as coisas também é marcada pela crença de que todos os muçulmanos são suspeitos e que o perfilhamento é uma técnica justificada e eficaz para combater o terrorismo. Pipes escreve: "todos os muçulmanos, infelizmente, são suspeitos". Talvez o mais preocupante seja a afirmação desse campo de que os muçulmanos praticam regularmente a Taqiyyah, uma forma de manobra que este campo acredita ser generalizada. Isso permite que eles descartem qualquer muçulmano que se manifeste contra ele com base na premissa que ele está mentindo.
Há problemas de sobra no parágrafo acima:
- observe que Armstrong tem somente pontos de vista, eu, no entanto, estou no extremo.
- Repudio a ideia de "uma conspiração islâmica para destruir o Ocidente". Conspiração implica em algum agente central arquitetando planos, não é o caso.
- "Campo" é singular, de modo que um campo começa. Seria uma brilhante ideia respeitar as regras gramaticais básicas, especialmente quando se escreve um livro.
- Não ligo "todos os muçulmanos ao fundamentalismo, à violência e ao terrorismo". Pelo contrário, sou conhecido por defender que "o Islã radical é o problema, o Islã moderado é a solução" - e a propósito, fui citado ontem em relação a isso no Wall Street Journal. E também não se trata de uma abstração: eu apoio ativamente os muçulmanos anti-islâmicos intelectual e financeiramente.
- Eu não uso o termo "insidiosa sharia".
Não é o Website de Daniel Pipes. |
- Eu sei que a Taqiyyah está reservada para circunstâncias religiosas específicas (como xiitas se passando por sunitas) e nunca uso o conceito para descartar o que os muçulmanos dizem sobre o islamismo.
Comentários:
Recentemente escrevi um artigo sobre os nove erros a meu respeito em três páginas, de modo que, mesmo pelos padrões do mundo acadêmico americano, quatro erros em um parágrafo são de impressionar. O que está por vir, dois em duas palavras?
Continuo me perguntando: os professores que não concordam comigo deliberadamente deturpam meus pontos de vista ou simplesmente não estão interessados em verificar quais são esses pontos de vista? De qualquer maneira, o resultado mina a reputação deles - reputação em nome da sólida sapiência. (5 de agosto de 2017)